Opinião
Aprendendo da forma mais dura que recursos humanos são esgotáveis
Precisamos entender que só uma reconexão com o coletivo irá nos salvar
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14 de setembro de 2021 - 6h05
Setembro Amarelo é o mês de atenção à saúde mental e prevenção do suicídio e nossos tempos precisam muito desta conversa. Segundo o Fórum Econômico Mundial, ansiedade, depressão, cansaço extremo e perda de propósito viraram parte da vida de mais da metade dos brasileiros durante a pandemia. A depressão já é considerada a doença mais incapacitante da década, segundo a OMS e o Brasil é o país com a mais alta taxa de ansiedade do mundo. Aqui, Rivotril vende mais que Tylenol. Um dos efeitos colaterais da crise sanitária da Covid 19, a deterioração da saúde mental se apresenta bem diante de nossos olhos, seja entre funcionários, amigos, familiares ou dentro de nós mesmos.
Em 2016, a jornalista Eliane Brum escreveu um texto com o título: “Exaustos e correndo e dopados”. Ela já falava sobre estarmos no limite da nossa humanidade ao responder prontamente à lógica do trabalho, da produtividade e das demandas do capitalismo. Buscamos remédios, terapias, tratamentos da moda que nos prometem mais foco, performance e assim mantemos a roda girando. Mas em 2020 e 2021, encontramos o nosso limite. Adoecemos coletivamente e individualmente e aprendemos na marra que recursos humanos são esgotáveis.
As mulheres, sobrecarregadas com as tarefas da Economia do Cuidado, sentem o impacto de forma mais contundente: 38% classificam sua saúde mental como ruim ou muito ruim. Entre as entrevistadas, 47% disseram ter irritação, 45% insônia e 53% tristeza. As crises de choro afetaram 34% das mulheres versus 7% dos homens. Segundo a Catho, 60% das mães brasileiras afirmam ter sentido impacto da pandemia na saúde mental. Para as mulheres negras, indígenas ou quilombolas, o efeito é ainda maior e exige atenção específica. Atravessados pelo racismo estrutural, jovens negros entre 10 e 29 anos são a população com maior probabilidade de suicídio e ela é 45% maior que entre jovens brancos da mesma faixa etária, segundo o Ministério da Saúde.
O trabalho nunca teve um custo emocional tão grande. Indiferente às tragédias pessoais, ao luto, ao medo, às crises institucionais e à instabilidade, abrimos nosso computador todas as manhãs como se nada estivesse acontecendo. Nos sentimos os próprios violinistas do Titanic, que seguem fazendo música enquanto o barco afunda. Pisoteando nossa própria humanidade, nos apresentamos ali, como sempre, fazendo a roda girar. Até que um dia não mais. O burnout está à espreita e nunca acometeu tantos profissionais como nestes tempos. Gosto da fala da psicanalista Vera Iaconelli, em um podcast em que participei, que diz: “o adoecimento é uma saída honrosa do corpo para uma situação da qual a mente não consegue se livrar.”
Em nosso mercado de comunicação e em tantos outros, cercados de privilégios, trocamos de emprego, nos matriculamos em cursos, nos distraímos, buscamos terapia, remédios, drogas e álcool. Exaustos e correndo e dopados.
Apesar de vivermos isso individualmente, o momento histórico que estamos atravessando é na verdade um trauma coletivo. E por ser assim, pede um processo coletivo de cura. Repensar a vida é importante, mas não é suficiente para curar esta ferida. É uma chaga social e comunitária, que vem de séculos e exige que tomemos consciência dela para que haja futuro. É hora de repensar tudo: das relações de trabalho à relação com o consumo e o meio ambiente, passando pela relações sociais e com as pessoas que caminham ao nosso lado. Isso tudo precisa caber na sigla ESG, tão celebrada pelo mundo corporativo nos últimos anos. Precisamos entender que só uma reconexão com o coletivo irá nos salvar. E a comunicação terá seu papel fundamental nisso.
Cuidem-se. E cuidem uns dos outros.
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