9 de fevereiro de 2021 - 6h00
André Chaves (Crédito: Divulgação)
Estamos vivendo um momento ímpar na história, aceleração de uma série de tendências motivadas por uma pandemia, mas poucos setores estão passando por algo tão disruptivo quando o setor educacional. Antes de discorrer sobre ele vamos fazer uma pequena viagem no tempo.
A história da educação deu início nos primórdios da pré-história e começou de uma maneira intuitiva e natural, como forma de transmissão de conhecimento , as crianças aprendendo com os mais velhos por meio da observação, da mesma forma como fazem os animais. Atividades de sobrevivência , como caça e pesca estavam concentrados nas nas necessidades do momento.
A próxima fase foi na Grécia e Roma antiga onde o surgimento da propriedade privada mudou as relações entre os homens, e começaram a aparecer as classes sociais e a escravidão. Na Grécia e na Roma antigas os homens livres dispunham de muito tempo ocioso, e com o objetivo de ocupá-lo, cria-se uma instituição que conhecemos até hoje: a escola. Lá os cidadãos adquiriam conhecimentos condizentes com os interesses da sociedade em que viviam. Eram ensinados conteúdos como oratória, retórica, filosofia, artes e literatura. O aprendizado ajudava os estudantes a se prepararem para a vida política, que era o grande mote das sociedades greco-romanas. A escola nesse período não era para todos.
Na idade média a escola deixa de ser focada no ensino de habilidades políticas e passa a ter forte influência da Igreja Católica. Entre os conteúdos que eram ministrados estavam latim e ensino religioso. Nesta época, , grande parte da população é analfabeta e a escola continua sendo para poucos, somente para as camadas mais altas da sociedade . Continuando na viagem do tempo, o movimento iluminista, que mexeu com a Europa no Séc. XVIII, combatia o teocentrismo e defendia que o homem deveria ser senhor de si mesmo e tomar decisões com base na razão. O Iluminismo tinha como lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, e serviu de forte inspiração para a Revolução Francesa Nas décadas seguintes essa declaração influenciaria publicações similares em outros países da Europa e da América Latina. Com direitos civis, as pessoas de diversas camadas da sociedade ganham status de cidadãs e passam a ter acesso à escola. O conhecimento começa então a se democratizar.
Chegando na era da Revolução Industrial ela é marcada pela mudança da produção artesanal para a máquina. Como as fábricas precisavam de mão de obra qualificada, ampliar a oferta de escolas para as classes mais baixas ia de encontro a essa necessidade. A configuração mais tradicional de sala de aula que conhecemos hoje, pelo menos por enquanto, com alunos enfileirados uns atrás dos outros, é um resquício dessa época, quando o formato de fábrica
passou a ser replicado pelas instituições. Pulando para a era da da Informação – também chamada de Era Tecnológica ou Era Digital – é o período pós-era industrial marcado pelos avanços tecnológicos que começaram a transformar a sociedade a partir da década de 1980.
Como em todos os momentos da história, os reflexos do que a sociedade vivia chegaram nas escolas, e a tecnologia começou a transformar a educação. Instituições de ensino passaram gradualmente a adotar laboratórios de informática, a internet tornou o acesso ao conhecimento mais rápido do que as bibliotecas permitiam e a modalidade de EAd avançou e se expandiu. Assim chegamos na educação 4.0 – se caracteriza pela alta tecnologia que o setor industrial emprega para a automação de processos e o surgimento de conceitos como computação em nuvem.
A Educação 4.0 traz essa realidade para dentro das escolas, passando a focar o processo de ensino e aprendizagem em habilidades requeridas pelo mercado dos dias atuais – entre elas empreendedorismo, matemática, lógica e conhecimentos digitais. O método que valorizam a experimentação, a prática, a colaboração e a interdisciplinaridade ganham destaque. O formato de sala de aula começa a ser revisto, e muitos modelos são configurados para que o aluno saia do papel de observador e passe a ter função colaborativa ou até protagonista dentro do próprio ensino.
Os processos dentro das escolas também mudam, e diversas tarefas começam a ser gerenciadas pela tecnologia. Recursos digitais passam a ser usados desde o momento em que o aluno entra na escola e atravessa a catraca eletrônica, até o instante em que a instituição se comunica com os pais dele por app . Toda a gestão é feita digitalmente, os processos são integrados .
Agora a pandemia pode ter nos antecipado mais uma nova grande revolução, que estou chamando da era pós Educação 4.0 ou 5.0 . A era que vivemos a transformação de “paid” em “freemium” , modelos hybridos , democratização da informação em termos nunca vistos na história.. Universidades renomadas abrem o acesso de uma série de cursos gratuitos para todos. Os conteúdos passam a ser dinâmicos, com atualizações em tempo real, de forma perecível, contínua e perene, trazendo legitimidade ao termo tão comentado e citado nos dias de hoje , o lifelong learning. Esse movimento ainda poderá viabilizar e introduzir finalmente tecnologias imersivas como realidade virtual e aumentada neste setor e poderá ser muito potencializada com 5g que esta chegando em vários países e de maneira colossal em 2030 com o 6G, que já esta em fase de protótipos na China e Coréia do Sul.
A grande questão é que essa revolução parece mexer em alicerces seculares da educação fazendo com que as universidades e escolas tenham que encontrar formas de se renovar e de se encontrar novamente . Em recente artigo o homem mais rico do mundo, Elon Musk falou numa entrevista para o The Guardian que as escolas não são feitas para aprender e sim para se divertir” e que não exigem mais diplomas para ocuparem locais de destaque nas suas empresas. Além dela , outras big techs com o mesmo conceito.
Enfim, se as escolas perderão o sentido e irão virar áreas apenas de convivência e a educação será feita de forma continua e autônima que é para onde estamos caminhando , não sabemos ainda mas saberemos em breve . Normalmente olhamos para o futuro como algo ábdito, longínquo mas quando menos a gente espera o destino nos reserva momentos e intervenções que faz com que estejamos literalmente vivendo neste momento futuro, basta aguçarmos nossos sentidos e ampliarmos nosso poder de observação. Ah, e estarmos preparados para operar nele HOJE , bem vindos ao futuro !
*André Chaves é Chief Growth Officer da Squadra Ventures