Alvaro Garcia: “A essência são as conexões e não a tecnologia”
Muito além da tecnologia, temas comportamentais de cultura e sociedade estão entre os destaques do SXSW para o CMO da Mondelez
Muito além da tecnologia, temas comportamentais de cultura e sociedade estão entre os destaques do SXSW para o CMO da Mondelez
Amanda Schnaider
15 de março de 2023 - 12h02
O South by Southwest sempre foi conhecido por ser um evento que exala tecnologia e futuro, mas com o passar dos anos, sua essência tem mudado. Temas comportamentais de cultura e sociedade têm ganhado espaço no festival. E esse é, justamente, um dos fatores que tem atraído os líderes de marketing ao evento, como o CMO da Mondelez, Alvaro Garcia, que veio ao SXSW pela primeira vez neste ano.
Além das discussões a respeito do metaverso, inteligência artificial e Web3, o que mais chama a atenção do executivo são as conexões humanas passadas e adquiridas no festival. “No fundo, temos sempre que nos conectar com a nossa essência e com a essência do que fazemos. Por trás da tecnologia, estão as pessoas”.
Em entrevista ao Meio & Mensagem, Garcia, que reúne passagens por marcas, como O Boticário, Diageo e Kellogg, conta quais foram as suas primeiras impressões do festival, quais temas tem acompanhado e o que levará do SXSW para a sua vida profissional tanto dentro quanto fora da Mondelez.
Meio & Mensagem – Esta é sua primeira vez no SXSW. Quais são suas primeiras impressões do festival?
Alvaro Garcia – Estou gostando muito, porque é um pouco do que eu esperava. É uma enxurrada de estímulos e de coisas diferentes acontecendo ao mesmo tempo. Eu já vim preparado, sabendo que iria perder muita coisa. Então, não estou sofrendo porque estou perdendo, estou mais aproveitando as coisas que estou escolhendo para ver. Além das palestras, tem toda essa parte de XR experience, creative experience, que é quase que uma feira enorme para você ver ideias, startups, que também é super rico. E a última parte que também é muito legal são os encontros. Tem muito brasileiro, muita gente de agências, veículos. Temos aproveitados as noites e finais da tarde para encontrar pessoas e trocar experiências. É um pacote de experiência fantástico.
M&M – Antes de ir ao festival, você havia dito, em entrevista ao Meio & Mensagem, que iria acompanhar palestras de diferentes temas. Tem conseguido fazer isso?
Garcia – Estou conseguindo. Estou tentando ver assuntos diferentes. O que tenho visto bastante, várias palestras próximas do tema, que é uma coisa inevitável, a parte de IA, metaverso, Web3. Tenho visto várias palestras nesse tema, que é algo que tenho bastante interesse, mas também tenho procurado mesclar com coisas mais comportamentais, de propósito. Vi uma palestra só de marketing até agora, que foi um painel de CMO, mas a maioria foi metaverso, Web3 e assuntos comportamentais.
M&M – Um dos assuntos que está quase tomando conta de todas as palestras e discussões no evento é a relação entre a inteligência artificial e o ser humano. Qual é a sua percepção sobre essa discussão? E de que forma isso pode afetar o setor alimentício?
Garcia – Uma coisa que tenho visto muito nas palestras nesse tema de IA, de metaverso, que é muito legal é: mais do que falar da tecnologia em si, o que as pessoas estão mais falando e trazendo é o lado humano por trás da tecnologia. Por exemplo, participei de um debate muito interessante, em que os debatedores falaram de temas como o quanto que a identidade da pessoa dentro do metaverso está sendo refletido na identidade pessoal. Não existe mais uma separação da identidade física e da identidade virtual. É uma coisa só. Toda a questão ética de dentro do metaverso. Uma designer falou o seguinte: “Quando vamos construir um prédio, nos preocupamos com todos os estímulos, qual a luz certa, a temperatura certa, para as pessoas terem uma experiência completa em todos os sentidos. Quando um engenheiro vai construir uma experiência dentro do metaverso, não necessariamente ele está pensando nisso. Então, a quantidade de estímulos que são criados ali podem gerar pessoas mais ansiosas, com menos focos”. São discussões que vão além da tecnologia. Como as pessoas vão viver e se relacionar dentro dessas novas tecnologias. Tenho achado isso uma conversa muito legal. Quando mais sobe a tecnologia, mais entra a demanda das pessoas quererem um tratamento mais personalizado.
M&M – Responsabilidade social das empresas também é algo que perpassa todo o evento. Como a Mondelez endereça essas questões, uma vez que a empresa atrai muito os jovens por conta de suas marcas?
Garcia – Uma palestra muito interessante que vi que representa muito bem essa pergunta é a palestra do CEO da Patagonia. Ele, para mim, é o exemplo do propósito ligado ao mundo dos negócios. A essência do ele falou é: você pode ter uma empresa que visa lucro e crescimento, mas também que tenha um impacto positivo na sociedade. Você não só pode, como deve. Esse é o nosso compromisso como companhias hoje em dia. A Mondelez não é diferente. Ela tem muita consciência do seu poder. Estamos presente no Brasil em 90% dos lares. Então, sabemos que precisamos promover diversidade, interna e externamente; sustentabilidade, é um tema que ficou tão importante, que virou um dos pilares estratégicos da companhia globalmente, estamos com um monte de compromissos de footprint de carbono, reciclabilidade, cadeia sustentável de cacau. Para mim, a palestra da Patagonia foi legal, porque exemplifica muito o que acredito e o que acreditamos na Mondelez. Somos uma empresa e precisamos contribuir para termos uma sociedade melhor em todos os aspectos. E é assim que encaramos.
M&M – De tudo que viu durante o festival até o momento, o que vai levar para o dia a dia da sua vida profissional e para a própria Mondelez?
Garcia – Para mim, o mais legal foi isso: falamos muito de tecnologia, das novas tendências, das novas mídias sociais. Isso é foi a maior parte da conversa. Mas, no fundo, temos sempre que nos conectar com a nossa essência e com a essência do que fazemos. Por trás da tecnologia, estão as pessoas. Temos que pensar nos consumidores como pessoas. A tecnologia é um meio de nos conectarmos com as pessoas, mas nada substitui o entendimento e a humanização da relação com cada uma das pessoas. Essa é a parte mais legal, independentemente da tecnologia. Daqui a cinco anos, vão ter outras tecnologias, outros assuntos, mas a essência não muda. Temos que nos relacionar como empresa com as pessoas de uma forma cada vez mais próxima e humanização. Vi uma palestra que foi bem interessante que falava “se prepare para viver cem anos”. Falava que uma grande parte das pessoas que estão nascendo agora vai viver cem anos. Eles discutiam o que estava por trás disso, o que fazia uma pessoa viver cem anos. E as coisas mais óbvias todo mundo imagina, a evolução da medicina. Mas uma das coisas mais essenciais que os estudos mostram que faz a pessoa viver mais tempo é a comunidade e as conexões. As pessoas mais conectadas, que têm mais amigos, que têm mais relações saudáveis, são as que vivem mais, comparado às pessoas com menos amigos e relações. Olha que interessante, dentro de toda e evolução da tecnologia, da medicina, o que ainda faz a maior diferença para as pessoas viverem mais e melhor é a qualidade das relações, quer coisa mais humana que isso? A essência são as conexões e não a tecnologia.
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