Monique Evelle: olhares amplos para mais acessos
No South By Southwest pela segunda vez, Monique discorre sobre sua vivência no festival, mudanças para proporcionar mais acessibilidade e o que deve ver ao longo dos dias
No South By Southwest pela segunda vez, Monique discorre sobre sua vivência no festival, mudanças para proporcionar mais acessibilidade e o que deve ver ao longo dos dias
Giovana Oréfice
12 de março de 2023 - 8h00
Jornalista, empreendedora, consultora e ativista. A variedade de ocupações atribuídas a Monique Evelle combina com as múltiplas facetas que o South by Southwest apresenta a cada ano. Assim como o foco do festival nos últimos tempos, Monique dá às pessoas um olhar especial quando inseridas nos negócios, comunicação e vivências cotidianas.
Neste ano, sua presença em Austin está embasada em interesses nas temáticas de creator economy – ao lado de uma comitiva brasileira sobre o segmento –, além de saúde e futuro do trabalho. Além disso, há uma ressignificação de sua percepção acerca dos conteúdos oferecidos por aqui, mas ela ainda ressalta a maior valorização do que está sendo dito no exterior em comparação com o que acontece no Brasil.
Entre uma palestra e outra, Monique falou ao Meio & Mensagem sobre a aplicação da bagagem obtida no evento de volta ao Brasil, acessibilidade e inovação:
Meio & Mensagem – Há quanto tempo você vem ao festival? Nos últimos anos ele vem focando mais em questões relacionadas à cultura e sociedade. Qual a sua percepção sobre isso?
Monique Evelle – Esse é meu segundo ano aqui no SXSW, o primeiro foi 2019, e eu lembro, que na época, compartilhei com algumas pessoas do mercado da comunicação que vieram e outras que não, sobre não saber se eu estava frustrada ou se as discussões não supriram a expectativa que eu tinha. Foram temas que no Brasil a gente já discute há muito tempo, mas que o mercado publicitário e o mercado de comunicação brasileiro vem, ouve de forma repetida, mas dá mais valor e concorda quando a fala, as dicas e as percepções vem de pessoas que estão participando do SXSW. Foi essa a sensação que eu tive em 2019. Agora, chegando aqui em 2023, e pensando, sim, que eles estão mais focados em questões relacionadas à cultura e sociedade. Tem um ponto importante que é: discussões relacionadas à cultura e sociedades que vão mudar o jogo, porque, por muito tempo a gente ficamos discutindo relacionadas técnicas, hard skills etc, mas existem outros motivadores e outras possibilidades para a gente entender se conseguimos fazer transformações, seja pensando em mundo do trabalho ou outras esferas que passam pela cultura e sociedade. Quando falamos de hard skills, esquecemos que, além das soft skills, existem as deep skills, que tem a ver com motivação, felicidade e por aí vai. Então, quando começamos a discutir sobre cultura, relações sociais, entendemos sobre o comportamento no final do dia, e o comportamento tem a ver com pessoas. Saímos de uma lógica exclusivamente técnica e entendemos que precisamos olhar e pensar soluções e trazer resultados no final do dia para as pessoas. Podemos trazer mais agilidade nas soluções quando começamos a direcionar para esses esses pilares.
M&M – Sobre a tecnologia, como é possível aplicá-la em projetos de impacto social?
Monique – É importante entender que é da mesma forma que qualquer outro projeto, qualquer outra empresa, porque, no final do dia, a tecnologia é um meio e a precisamos entender o que iremos fazer com a tecnologia para alcançar algo. Qual o objetivo proposto? Quando pensamos em projetos de impacto social pressupõe-se que queremos impactar o maior número de pessoas possíveis, porque a nossa solução tem a ver com bem estar social, é bom para todo mundo. Assim, a sociedade ganha com a solução criada por um projeto de impacto social. Logo, neste caso específico, a tecnologia pode ser uma ótima ferramenta para escalar uma solução e trazer mais resultados no final do dia para as pessoas, que é o que eu citei anteriormente sobre cultura, sociedade e comportamento. No fim, sempre vai retornar positivamente para as pessoas. A mentalidade de se utilizar tecnologias, principalmente as digitais, em projeto de impacto social é aumentar a escala da solução e dos resultados positivos que podemos trazer, ao invés de ficar apenas impactando positivamente as mesmas pessoas, estou falando de impactar mil, 10 mil, 100 mil, ou quem sabe, milhões de pessoas.
M&M – Você está participando de iniciativas relacionadas a Creator Economy no SXSW. Por que o tema vem ganhando tal relevância? Quais os pontos de destaque quando falamos do mercado brasileiro frente ao internacional?
Monique – Sobre creator economy, tem um ponto importante que é a mudança do mercado. Tivemos a fase dos blogueiros, passando por celebridades, criadores e criativos e agora estamos falando de um universo com inteligência artificial, algoritmos, avatares e outras tecnologias desse novo mundo. O tema vem ganhando relevância porque temos exemplos de criadores de conteúdos que não estacionaram no tempo e na lógica de monetização exclusivamente por publicidade e mídia. Estou falando de criadores que criaram seus negócios e expandiram sua cartela de serviços e produtos. Ou seja, utilizaram estratégias de construção de marca para impulsionar suas criações. No dia 10 de março, teve uma mesa no SXSW sobre “Diverse Creators Are Underpaid: How Do We Fix It?” (Vários criadores são mal pagos: como podemos corrigir isso?, tradução livre), no SXSW. E o meu primeiro questionamento ao final da mesa foi: como as marcas pensam em garantir equidade salarial entre os criadores de conteúdos pretos, pardos, indígenas e brancos? Percebe-se que a disparidade financeira e de remuneração entre criadores de conteúdos negros e brancos, não é exclusivo do cenário brasileiros, mas também do internacional. Apesar de um cenário ainda desigual, acredito que, quando pensando no futuro dos negócios, muito provavelmente, os próximos negócios rentáveis, sustentáveis e duradoros poderão ser fundados por criadores de conteúdo.
M&M – Você trabalha com marcas para que elas apliquem a inovação em seus negócios. Qual seu foco no festival para mostrar às empresas de volta no Brasil
Monique – Minha intenção no SXSW é reforçar o óbvio e aquilo que já venho compartilhando com as empresas e pessoas que trabalho. Isso porque traz uma credibilidade de visão externa, mas ainda assim não é garantia que serei ouvida. Existe resistência naquilo que é desconhecido e nunca feito antes. Decodificar os caminhos possíveis, através da minha bagagem e insights de outros profissionais, talvez seja uma das formas que traga maior compreensão para as organizações.
M&M – O SXSW ainda é um festival muito elitista. Como é possível levar mais acessibilidade ao que ele oferece?
Monique – Eu fico muito preocupada quando ouço de alguns participantes, em especial brasileiros, que o SXSW é diverso. Em certa parte é. Afinal, estamos falando de um festival que reúne pessoas de todos lugares do mundo. Mas ainda sim, o ingresso tem um valor alto, quando pensamos na América Latina, nossa moeda não é dólar e assim por diante. Todos os anos, profissionais brasileiros não brancos da comunicação, tecnologia e do universo da inovação fazem campanhas e pedidos para grandes empresas e agências para que possam participar do SXSW. Isso ocorre anualmente. As empresas e agências que firmaram compromissos internos e públicos de diversidade e inclusão, não fazem nenhum esforço de garantir a participação desses profissionais em um evento como o SXSW. Hoje temos um patrocinador master no South By que o Brasil conhece. Esse patrocinador já começou a fazer algumas mudanças, como garantir tradução do inglês para o português em alguns painéis e palestras. Considerando que inglês é uma barreira para muitas pessoas e que os brasileiros fazem parte da maior delegação do evento, essa mudança é necessária. Espero que essa transformação continue acontecendo nas próximas edições.
M&M – Quais painéis e temas pretende ver (ou já viu) e quais temas chamam mais sua atenção?
Monique – No primeiro dia assisti um painel incrível sobre o que dizer quando o mundo está acabando, com a participação de Kate Childs Graham e Jeff Shesol, da West Wing Writers, onde discutiram a importância de líderes empresariais se envolverem em questões sociais e políticas. Um dos pontos que eles trouxeram e que é sempre bom reforçar para empresas é que a palavra realmente tem poder, a ação é super importante e não podemos ignorar a necessidade de prestação de contas após uma crise. Outras mesas e palestras que pretendo assistir envolvem temas relacionados à Creator Economy, Saúde e Futuro do Trabalho.
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