Só a criptografia garante nossa cidadania
O fato é que, cada vez mais, haverá muito pouca coisa que poderemos fazer sem uma identidade digital e é por isso que toda a questão da segurança ganha contornos tão dramáticos
O fato é que, cada vez mais, haverá muito pouca coisa que poderemos fazer sem uma identidade digital e é por isso que toda a questão da segurança ganha contornos tão dramáticos
Pyr Marcondes
11 de março de 2023 - 17h19
Nos anos 1990, surgiu um movimento de ativistas digitais chamado Cypherpunks. Esses caras já acreditavam que só quando todos tivermos controle criptografado dos nossos dados seremos de fato livres no mundo digital e só assim teremos assegurada nossa legítima cidadania diante da sociedade e do Estado.
Essa é uma questão que vai além da igualmente relevante privacidade, para se inscrever no âmbito da nossa existência social como um todo, num mundo essencialmente e cada vez mais digital. Não é apenas uma questão tecnológica, mas política.
Nisso acreditavam os cypherpunks e pelo menos esse princípio filosófico da seita me parece indiscutível (eles defendiam também o terrorismo digital contra donos do poder, mas aí é outra coisa).
Por acreditar que sem luta e sem denúncia socialmente ativa não mudaremos muita coisa, o Dr. Harry Halpin, também ele um ativista pelo incremento da privacidade via descentralização da estrutura e do poder concentrado que temos hoje nas plataformas tech, foi preso algumas vezes em vários países. Mestre em disciplinas como cryptocurrency, hiperinflação, blockchain, sociologia e Tecnologia da Informação, Halpin dividiu o palco do SXSW com Yasodara Cordova, pesquisadora-chefe em Privacidade da Unico, com um curriculum de participação em inúmeras instituições e atividades pelo incremento da privacidade digital e direitos humanos, no painel Breaking Paradigms About The Future of Digital ID.
Os novos caminhos da creator economy
A questão central da nossa identidade digital, aquela mesma dos cypherpunks, sempre esteve presente nas últimas edições do SXSW. Desta vez, ganhou contornos de um posicionamento mais efetivo da sociedade apoiando-se em movimentos de libertação e acesso ao controle efetivo de todos os nossos dados.
Um conceito básico lembrado pelos palestrantes é o de que quanto mais informação, mas invasibilidade e menos privacidade. Acrescentando-se a isso o fato de que, em boa parte das vezes, somos nós mesmos a autorizar que nossos dados andem por aí, sem que tenhamos a menor ideia aonde.
Cerca de 1 bilhão de pessoas no Planeta não tem acesso ao mundo digital. Mais de 6 bilhões tem acesso a uma identidade digital, sendo que metade dessas identidades pode ser rastreada.
O fato é que cada vez mais haverá muito pouca coisa que poderemos fazer sem uma identidade digital e é por isso que toda a questão da segurança ganha contornos tão dramáticos.
A fórmula defendida pelos palestrantes é: Data Control + Privacy + Access = Revolution.
Como defendiam os cypherpunks, precisamos de fato de uma revolução.
Só não estabelecemos ainda como organizá-la e por enquanto o inimigo está vencendo todas as batalhas em que escolhe se engajar.
Diz o ditado que toda liberdade tem seu preço. Neste caso, estamos pagando caro também pela falta dela.
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