As mulheres fortes do SXSW
Com diferentes temas e propostas, Lizzo, Frances Haugen, Maria Ressa e Amy Webb atraíram os holofotes ao longo da semana em Austin
Com diferentes temas e propostas, Lizzo, Frances Haugen, Maria Ressa e Amy Webb atraíram os holofotes ao longo da semana em Austin
Meio & Mensagem
18 de março de 2022 - 6h10
Uma marca desta edição de 2022 do SXSW foi a presença de mulheres poderosas sob diferentes aspectos. Além da futurista Amy Webb, que há mais de uma década faz sucesso a cada ano ao apresentar suas visões otimistas e pessimistas do futuro no Tech Trends Report, causaram frisson a potência artística e social da jovem cantora Lizzo e o ativismo, em outras frentes, de Frances Haugen, aquela que teve coragem de vazar a forma danosa como o Facebook realmente atua, privilegiando lucros à privacidade de seus usuário. Destaque também foi a jornalista filipina Maria Ressa, co-founder do Rappler e ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, em 2021, ao lado do russo Dmitry Muratov, devido à luta de ambos pela liberdade de expressão em seus respectivos países.
A apresentação de Lizzo foi arrebatadora como sua personalidade. E pode-se dizer que ela já “causava” pela cidade antes mesmo de seu painel, pois a Amazon caprichou na divulgação do reality Watch out for the big grrrl!, do qual a cantora é produtora executiva e tem estreia para 25 de março. Sua fala no SXSW foi guiada por representatividade, body positivity e empoderamento feminino. “Eu sinto que posso ser um exemplo para jovens que estão me acompanhando nas redes sociais mostrando que está tudo bem chorar, está tudo bem ter emoções e ficar bravo com algumas coisas, ou até mesmo ser radicalmente positivo e praticar o autocuidado”, comentou a cantora, a respeito de mostrar vulnerabilidade em frente às câmeras. Ela também comentou que não estava preparada para o sucesso e aproveitou o tempo em palco também para protestar contra medidas do governo texano que intimidam pais de crianças trans, acusando-os de “abuso infantil” por simplesmente deixarem suas crianças serem o que são.
Protesto também é a praia por onde navega Maria Ressa, cuja luta pela liberdade de expressão contra o governo de seu país a fez receber em 2021 o Nobel da Paz. Ela, a propósito, não pôde estar pessoalmente no South by Southwest porque as autorizações do governo local “não saíram a tempo”. Em Austin, Ressa acusou governos e as plataformas proprietárias das redes sociais como grandes responsáveis pela disseminação de notícias falsas que ajudam a promover e a perpetuar políticos com vieses autoritários no poder. “Em meio a toda essa polarização, não diria que é a hora de se optar por um dos lados, mas sim de optar pelos fatos. O que a indústria da desinformação faz, intencionalmente e estruturalmente, é criar um viés contra os fatos, contra as verdades”, disparou, destacando o impacto que isso pode ter na política em anos eleitorais. Para ela, as plataformas são responsáveis pelo conteúdo distribuído por meio delas, já que isso é algo que acontece em larga escala e essas empresas fazem escolhas editoriais o tempo todo, embora tentem se vender apenas como “uma infraestrutura”, em que usuárias e usuários são quem têm domínio sobre o conteúdo.
Outra crítica das plataformas e com conhecimento de causa de quem trabalhou em uma delas, a whitleblower Frances Haugen soltou o verbo contra a Meta (então Facebook). No final do ano passado, a cientista de dados causou um terremoto no mercado ao denunciar a companhia por colocar a saúde e segurança de usuários em segundo plano, privilegiando o crescimento da plataforma. No SXSW, ela destacou alguns dos problemas, como o fato de o Facebook recompensar publicações com grande engajamento (o que acontece mais com conteúdos polêmicos e muitas vezes inverídicos) e o recurso de conteúdos relacionados, fazendo crescer em 15% posts mais sensacionalistas – e ainda que diga estar usando inteligência artificial para checar informações, esta só resolve, por exemplo, de 3% a 5% do conteúdo violento. Ao final de sua apresentação, Frances foi aplaudida de pé.
E, por fim, outra grande personalidade feminina – e habitué do SXSW – foi a futurista Amy Webb, que apresentou a um auditório lotado do Convention Center a 15ª edição do Tech Trends Report. Com eloquência e bom humor, ela envolveu o público numa dinâmica para provar como nossos olhares são condicionados pelo mundo em que fomos criados e explicar o tema da edição do report este ano: Reperception, ou Repercepção, ou seja, a importância de desautomatizar o olhar. E aconselhou a todos a questionarem suas suposições de como os negócios funcionam, a olharem tendências com mais curiosidade em vez de imediatamente dizer ‘não’, e praticar a repercepção todo dia. Do imenso relatório de 2022, no qual 574 tendências de tecnologia e ciência foram estudadas, resultando em 14 relatórios, Amy comentou em mais detalhe três: Inteligência Artificial, Metaverso e Biologia Sintética, destacando sempre dois cenários futuros possíveis para cada uma, um mais “otimista” e outro “catastrófico”.
Assim, do ativismo e talento vocal de Lizzo ao futurismo “pé no chão” de Webb, o talento feminino também deu o tom na tão prestigiada e extensa programação do South by Southwest.
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