Diversidade e inclusão não são tendências, são urgências

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Diversidade e inclusão não são tendências, são urgências

Cris Guterres conduziu um debate entre Brisa Vicente, Luana Xavier e Rosane Borges sobre como o mercado corporativo deixou a discussão sobre D&I de lado


27 de março de 2024 - 6h01

O estrangulamento até a morte de George Floyd, afro-americano de 46 anos, pelo policial branco Derek Chauvin, em 25 de maio de 2020, chocou o mundo inteiro. Na época, milhares de pessoas publicaram imagens de telas pretas em suas redes sociais em forma de protesto. Com isso, marcas nacionais e internacionais também se uniram ao movimento Black Lives Matter e se declararam antirracista.

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Da esq. para a dir.: Brisa Vicente, Luana Xavier, Rosane Borges e Cris Guterres (Crédito: Eduardo Lopes/Imagem Paulista)

Entretanto, com o passar dos anos, esse interesse pela diversidade e inclusão racial se arrefeceu dentro das organizações, principalmente nas cadeiras de comando do mundo corporativo.

De olho nisso, no painel “George Floyd 4 anos depois: caminhada interrompida?”, a jornalista e apresentadora Cris Guterres se propôs a conduzir um debate entre Brisa Vicente, co-CEO da Soko, Luana Xavier, atriz e influenciadora digital, e Rosane Borges, professora e pesquisadora, justamente sobre como o mercado corporativo deixou a discussão sobre D&I em segundo plano.

Cris começou a conversa lembrando que é importante lembrar de George Floyd, assim como é igualmente importante lembrar de nomes brasileiros que também sofreram as consequências do racismo estrutural no País, como Amarildo de Souza, que foi torturado e morto pela polícia do Rio de Janeiro, além de Bento Freitas e Evaldo Rosa.

“Estamos marcando com George Floyd a nossa conversa, mas é importante iniciar dizendo que no Brasil, nós elegemos as vidas que importam mais. Os 80 tiros de Evaldo Rosa perfuraram milhares de corações”, frisou a jornalista.

Para Rosane, caso de George Floyd chocou o mundo inteiro, justamente, porque as pessoas o ouviram. “Ouvimos quando a escuta se torna uma decisão política”, ressaltou. “Ouvir alguém dizer por volta de oito minutos que não conseguia respirar, não há consciência antirracista, boa consciência que duma tranquila nos seus lençóis egípcios”, frisou.

Apesar disso, Rosane criticou a falta de visibilidade que casos brasileiros, de mesma ou até mais crueldade, tiveram. Neste sentido, ela enfatizou a conhecida chacina de Costa Barros, na qual cinco jovens foram assassinados com 111 tiros desferidos pela polícia em direção ao carro em que estavam. “Não há fenômeno que se compare aos 111 tiros de Costa Barros”.

A pesquisadora questionou porque a mídia, o governo, a indústria e a sociedade brasileira não se mobilizaram com esse caso como aconteceu com o assassinato de George Floyd. Rosane chegou a conclusão que essa mobilização não aconteceu porque os corpos desses brasileiros não importam.

O esfriamento da pauta

O ano em que George Floyd foi assassinado, foi o período em que Luana mais recebeu propostas de trabalho. Porém, com o passar do tempo, a atriz e influenciadora percebeu que essas propostas começaram a diminuir. Ela, então, se questionou até que ponto o mercado está evoluindo nesta questão. “Paramos na primeira página”.

Cris Guterre questionou a líder da Soko, Brisa Vicente, sobre como ela analisa o cenário atual de diversidade e inclusão no mundo corporativo desde o episódio de George. A executiva enfatizou que o mercado encarou aquele fatídico momento como uma tendência. “Isso não é um tema que se resolva de imediato, porque é uma questão estrutural e nosso mercado não está acostumado a pensar em tão longo prazo”, criticou.

Na visão de Brisa, essa mudança estrutural demanda um nível de compromisso, de investimento financeiro, de tempo, de consistência, que ficou muito difícil de ser implementado em uma indústria que trabalha com tantas coisas urgentes. “Foi tema que gerou muito movimento, que nos deu muita esperança, mas hoje vejo essa conversa esfriando. Vimos como tendência, algo que, na verdade, era uma urgência”, reforçou.

Para dar uma dimensão do atual momento do mercado em relação à diversidade e inclusão, Luana fez um questionamento à plateia do próprio evento Women to Watch Summit, constatando que, entre os presentes, poucos se identificavam como negros. Apesar dessa observação, Luana elogiou a organização do evento. “Aqui não é o fim, mas é o reflexo do que está acontecendo na nossa sociedade, é uma ponta do iceberg. Que bom que estamos discutindo esse assunto. Ter esse painel com esse também é um grande avanço”, complementou.

Voltando ao mercado publicitário, Brisa constatou que a indústria ainda não se ligou da importância de ter conexão com as pessoas. A executiva revelou que 7 em cada 10 pessoas não se identificam com a propaganda. “Isso porque a propaganda é feita por um tipo só de pessoa”, enfatizou.

Ao longo de sua experiência na Soko – agência que nasceu com a missão de combater as práticas tóxicas desse mercado – Brisa aprendeu que, nesse processo, é preciso ir além da inclusão; é preciso pensar na retenção e em políticas internas para que as pessoas, uma vez dentro, se sintam acolhidas.

Cris ainda pediu para a co-CEO da Soko dar um conselho para as lideranças para transformar o mercado corporativo. Brisa pontou algumas coisas, como ter intencionalidade na contratação e ter parceiros focados em proporcionar letramento para os colaboradores. “Hoje, não há justificativa para não trazer diversidade em todos os projetos”.

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