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Thais Farage: precisamos ser estratégicas por termos menos tempo

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Thais Farage: precisamos ser estratégicas por termos menos tempo

Para a consultora de estilo, é importante se organizar e ter metas claras para gerir a vida profissional em meio à pressão de outras atividades que recaem mais sobre mulheres


8 de abril de 2022 - 9h29

Thais Farage é autora do livro “Mulher, Roupa, Trabalho: Como se Veste a Desigualdade de Gênero”(Crédito: Divulgação)

Ninguém está no controle de tudo, nem mesmo da própria carreira. Mulheres, então, têm menos tempo e oportunidade para fazer tudo acontecer. Seja pela maternidade, pela idade avançada ou pela gestão de outras atividades que recaem mais sobre elas, é preciso aprender a pensar estrategicamente para conduzir a vida profissional com objetividade e foco. 

Thais Farage que o diga. Aos 37 anos, a consultora de estilo criada em Leopoldina, cidade do interior de Minas Gerais, só passou a ver a moda como possibilidade de carreira na faculdade de cinema, que cursou na Universidade Federal Fluminense. Antes de se encontrar na área e se tornar “influenciadora”, chegou a trabalhar como assistente de direção em alguns longas-metragens.  

Como personal stylist, notou que suas clientes estavam insatisfeitas com suas roupas de trabalho e que o problema era, na verdade, do mercado. Essa percepção levou Thais a publicar, em 2021, o livro “Mulher, Roupa, Trabalho: Como se Veste a Desigualdade de Gênero”, que questiona as estruturas por trás das regras veladas de como mulheres devem ou não se vestir para trabalhar. 

Confira abaixo a entrevista com Thais. 

Que características ou habilidades você considera essenciais para uma mulher no comando da própria carreira? Como você as desenvolve e as alimenta regularmente? 

Acho, sinceramente, que ninguém está totalmente no comando da própria carreira. Ela é permeada por coisas que não controlamos, desde os privilégios até os encontros, as escolhas e os acasos. Mas uma habilidade que acho importante é aprender a pensar estrategicamente. Olhar para o que está posto e pensar no que você quer, para onde quer andar, como vai chegar nesses lugares. Porque o mercado muda e os desejos também, né? Outra habilidade é a resiliência. Entender que as carreiras femininas não são uma linha reta e vão mesmo ser mais turbulentas. Para desenvolver e alimentar essas habilidades, eu me rodeio de outras mulheres que também pensam e planejam a própria carreira e peço muita ajuda. Como elas estão fazendo? Por que estão fazendo de tal jeito? Eu realmente acredito que o melhor aprendizado vem de estar perto e observar quem também está fazendo de verdade, no dia a dia. 

Você já teve algum tipo de sentimento de autossabotagem? Como lida com essa situação e que dicas dá para mulheres que se sentem assim nos projetos, áreas e lugares em que atuam? 

Quando meu primeiro filho nasceu, cheguei bem perto da autossabotagem e de desistir de tudo. Entendo totalmente as mulheres que decidem não pensar em uma carreira fora de casa, mas isso nunca foi uma vontade para mim. É fácil ser engolida pelo discurso de “mãezinha boa é a que fica o dia inteiro com filho, que não tem tesão em ter uma carreira, que curte os desafios do mundo público”. E isso acontece com frequência, né? É um eterno estado de alerta: estou me sabotando ou, de fato, preciso diminuir o ritmo? Estou me prejudicando ou realmente quero fazer outras coisas agora? A minha dica é realmente conseguir estabelecer uma relação de conexão com o trabalho. Nem sempre é possível, mas quando a gente entende o que faz, porque faz e como faz, é mais fácil perceber quando a autossabotagem está vindo. Ela vai vir, mesmo. E a gente vai cuidando pra ela não se instalar. 

Quais mulheres inspiradoras você segue, lê e observa? Como elas te inspiram? 

Tem um grupo de mulheres que tenho mais perto e sempre leio, observo e peço ajuda: a Ana Lu Maclaren, Nana Lima, Barbara Soalheiro, Cris Guterres, Maíra Liguori, Cris Bartis, Ju Walleur, Bia Granja. Sem contar minhas amigas que dividem o mesmo mercado de trabalho: Débora Simon e Fernanda Resende. Acho que me inspiro porque todas elas são mulheres fazedoras, que estão lá todo dia tentando viabilizar não só o trabalho que acreditam, mas também o mundo em que elas desejam viver. Isso é muito inspirador. É mais do que só o que elas estão fazendo, mas como estão fazendo.  

Mas queria ressaltar que eu peço ajuda, mesmo. Ligo para as pessoas e chamo para um café, mando e-mail, mensagem… eu só estou onde estou, fazendo o que eu faço, porque tem um monte de mulheres para quem eu peço ajuda e conselho. E eu as observo e aprendo com elas.
 

Quais conteúdos ou ferramentas você recomendaria para uma mulher que quer dar uma turbinada na carreira? 

Ler, seguir e conversar com mulheres que estejam em momentos profissionais parecidos ou um pouco mais avançadas. Podcast de mulheres que falem sobre carreira. E, sobretudo, se organizar, ter metas claras, saber para onde ir. Sinto que a gente pensa muito mais no trabalho duro e menos na estratégia. Estratégia é muito importante para mulheres porque, em geral, a gente vai ter menos tempo para fazer acontecer. Então precisamos ir focadas. 

Por fim, tem alguma dica de séries, filmes, livros e/ou músicas que consumiu recentemente e te fizeram refletir sobre a condição e o papel das mulheres? 

Eu amo o documentário da Serena Williams voltando a jogar depois de ter sido mãe. O nome é “Being Serena” e está na HBO. Vale pesquisar também todas as entrevistas da Barbara Soalheiro. Ela é genial. E o TEDx da Cris Guterres. De podcast, o Mamilos fez em março uma série que chama “empreendedorismo sem maquiagem”. Recomendo muito também. 

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