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Se der errado, corre e a gente assume

Policial com receio de tumulto, diretor de criação como ator e até um argentino: teve de tudo na ação que colocou Corinthians e São Paulo no campo antes do jogo entre Palmeiras e Santos


28 de agosto de 2012 - 9h11

 Sob uma das maiores vaias que o Pacaembu já assistiu, times fictícios do Corinthians e São Paulo entraram em campo, ao lado de repórteres, juízes e cheerleaders também fictícios, cerca de 45 minutos antes do jogo entre Palmeiras e Santos, realizado no sábado, 25 (leia mais aqui).

Por trás da ação de marketing da Zurich Seguros está uma ideia que foi planejada por cerca de dois meses e que enfrentou diversos desafios no caminho. O maior deles foi, sem dúvida, garantir a segurança da iniciativa, afinal, não se poderia imaginar como duas torcidas reagiriam ao ver times rivais entrando em campo. “Lidamos com diversos cenários, que iam desde reações mais brandas até as mais agressivas”, afirma Fernando Guntovitch, presidente da The Group, que cuidou da operação do evento, cuja ideia foi da 141 Soho Square. Também participaram a Possible Worldwide, que fez monitoramento de redes sociais, e a Sentimental Filmes, que captou as imagens dentro de campo e das reações da torcida, que serão editadas e disponibilizadas na internet nesta sexta-feira, 31.

Por via das dúvidas, a segurança policial foi reforçada durante a ação, que precisaria durar exatos oito minutos e meio. O diretor-geral de criação da agência, Celso Alfieri, conta que seguranças particulares estavam próximos das torcidas para monitorar as reações. Se houvesse um sinal de ação agressiva, a informação seria repassada para o comando da campanha e para a tropa de choque, que cuida da segurança do estádio. Ou seja: tudo poderia ter sido interrompido se a coisa esquentasse.

No pior cenário possível, imagina Guntovitch, a torcida poderia até arrancar cadeiras e as arremessar ao campo. Possibilidades de invasão também não estavam descartadas. A The Group se responsabilizaria por qualquer dano. Pouco antes da ação iniciar, o coronel responsável pela segurança durante o clássico afirmou para os envolvidos, com uma certa dose de humor, e outra de receio: “Se der errado, corre e a gente assume”, em referência à possibilidade de invasão. Na beira do campo, ele cronometrava a duração da encenação, para garantir que ela terminasse no tempo acordado.

Por solicitação da polícia, a execução começou às 17h45, quinze minutos antes do plano original, porque haveria menos gente no estádio. O início da ação veio com o disparo de fogos de artifício do lado de fora do Pacaembu e isso foi feito sob supervisão da própria polícia, como forma de garantir a pontualidade.

Mas embora houvesse riscos, a ação ocorreu dentro de um planejamento, tanto que, por isso, foi aprovada pela força policial. Na sexta-feira, por volta das 12h, o comando da Tropa de Choque chegou a cancelar a ação, mas após explicações mais detalhadas da agência sobre o que iria ocorrer em campo, a campanha foi liberada. Algumas das ressalvas foram a presença da polícia para disparar os fogos e a antecipação do horário. Além disso, algo que obviamente já estava no plano original das agências, os “atores-jogadores” não poderiam em hipótese alguma provocar a torcida. Apenas encenar que estavam em um jogo.

Uma cena curiosa ocorreu pouco antes da subida dos times ao gramado: para “entrar no espírito”, alguns jogadores começaram a gritar “Vai Corinthians”, e isso gerou comentários bem-humorados de seguranças do Palmeiras. Algo no estilo “Menos empolgação, por favor”.

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Aprovação argentina

A sacada passou por diversas instâncias antes da aprovação. Criada na 141 Soho Square, a campanha contou com o apoio do argentino Ivan Ferrando, CMO da Zurich Seguros para a América Latina, em consonância com o movimento do anunciante que busca mais iniciativas fora da compra de mídia. Conhecedor de futebol, o executivo garantiu a aprovação junto à matriz na Suíça, explicando que o humor é o melhor remédio para vender seguros no Brasil. Ele gostou tanto da ideia que participou da encenação, assim como Celso Alfieri, diretor-geral de criação da 141 Soho Square. Os dois se transformaram em repórteres de campo.

A agência precisou negociar também com o G4, grupo que reúne iniciativas de marketing para os quatro grandes clubes do futebol paulista. A recepção foi boa e uma das razões é que, ao contrário do que se pode pensar, a ação tem potencial para propagar a paz nos estádios, na opinião do envolvidos. “As torcidas de Palmeiras e Santos acabaram se unindo na vaia. E a ação mostra, no final das contas, que não é um absurdo você ter uma camisa do time rival em campo”, analisa Alfieri.

A Zurich será seguradora de alguns estádios da Copa do Mundo, incluindo o Maracanã, por isso, a ideia de paz tem a ver com a participação da empresa no evento esportivo. O valor recebido por cada time não foi revelado, mas estima-se que o Palmeiras tenha levado R$ 100 mil.

Também entraram nas conversas a administração do Pacaembu e, em instância final, a polícia. Um fato que dificultou a campanha foi a transferência da partida de Barueri, para onde estava marcada desde o começo do campeonato, para o Pacaembu. O batalhão da polícia responsável pela segurança em Barueri já havia liberado a ação, e os acordos precisaram ser refeitos, não sem alguma dificuldade, com o batalhão da capital – e isso só foi feito depois do ensaio oficial, ocorrido na quinta-feira, 23, no estádio Nicolau Alayon.

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Encenação em tempo

Com o disparar dos fogos, juízes, cheerleaders e mascotes subiram ao campo. A torcida, que se assustou com o começo da “partida” antes da hora, mal parecia acreditar no que estava vendo: Corinthians e São Paulo estavam subindo ao gramado. E o placar do estádio trazia a escalação dos times, com Rogério Ceni, Douglas, Rafael Toloi, etc.

As rádios Bandeirantes, Jovem Pan, Globo e 105 FM, que participaram da ação, começaram a narrar a entrada dos times, demonstrando "surpresa". Em um misto de incredulidade e revolta, os torcedores começaram a se manifestar. Algumas das frases ouvidas: “Que m… é essa?”, “O que é que está acontecendo?”, “Os caras estão loucos” e “Sai daí seus f…!”. Membros das torcidas organizadas viraram-se de costas e passaram a proferir xingamentos tradicionais a Corinthians e São Paulo – no planejamento da ação, cogitou-se avisá-los, para evitar algum contratempo, mas ao final optou-se pela surpresa.

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 No resto do estádio, as vaias começaram tímidas e foram ganhando força. Ao final da encenação, com a saída dos times, elas eram tão fortes que mal se podia ouvir a mensagem da Zurich Seguros que estava sendo proferida pelo locutor do estádio: “Ainda não inventaram seguro contra mudanças no calendário”. Tanto que ela foi repetida poucos minutos depois e surgiu mais uma vez no intervalo da partida de verdade.

Para dar mais veracidade, alguns sósias foram escalados e algumas situações típicas de um jogo se desenrolaram. O craque Lucas, por exemplo, foi representado por um rapaz com seu porte físico e corte de cabelo. Os repórteres buscavam entrevistar os jogadores, enquanto os juízes verificavam as redes dos gols.

O teatro só acabou quando, antes da execução do hino nacional, os jogadores saíram correndo e abriram uma imensa bandeira com a mensagem da seguradora, ajoelhando-se no campo diante dela. Nenhuma reação agressiva foi registrada no Pacaembu. “As vaias eram mais do que esperadas. Mas acreditamos que, depois de alguns dias, as pessoas vão dar risadas e entender a brincadeira”, aposta Alfieri. A expectativa é que esta ação tenha sido a única do gênero neste ano. Mas tudo pode mudar se o anunciante aprovar os resultados, que estão sendo colhidos. Ou seja: mais surpresas como essa podem estar a caminho. E você, gostou da ação da Zurich Seguros?

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