Copa do Mundo: Vale a pena ver de novo?
A Argentina não ganhou, mas e se tivesse ganho?
A Argentina não ganhou, mas e se tivesse ganho?
Meio & Mensagem
17 de julho de 2014 - 6h15
Por Joni Galvão, sócio fundador da The Plot
“A gente não merece isso.” Ronaldo (Fenômeno) após Galvão dizer que se a Argentina ganhar seremos “zoados” pro resto da vida. Ela não ganhou. Venceu a técnica e a consistência. Mas e se tivesse ganho? Seriamos zoados pelos próximos 50 anos? É essa a preocupação de pessoas importantes e que influenciam milhões de brasileiros? Realmente, tem algo errado.
Minha posição é clara e assumida. Sim, torço para a Argentina e acho babaquice esta história de que faz parte da história do futebol odiar os Argentinos. Isso lembra criança, que quanto mais “zoa” mais é “zoado” e quanto mais é “zoado”, mais “zoa”. Você pode pensar: é a rivalidade típica do futebol. Não, não é. É uma herança que ninguém questiona e que, na minha opinião, não tem nenhum fundamento. Fui criticado por usar a camisa da Argentina, pendurar a bandeira na minha casa e ir ao estádio gritar com o coração. Não sou obrigado a torcer por uma seleção que tem um ex-técnico e uma Confederação mafiosa. Afinal, o Brasil não é a seleção, o Brasil somos nós, sou eu, é você!
Mas se você é mais um destes que gosta de “zoar”, então pare de ler este artigo pois não é sobre isso que vou escrever. Quero levar a discussão para outro universo. As vitórias inesperadas, as disputas suadas e a maior derrota da história de todas as Copas, fez da nossa Copa um evento apaixonante e inesquecível. Ganhou a técnica, a disciplina e o planejamento. E é com técnica que quero reconstruir essa história com você, leitor, que decidiu continuar a ler esse texto. Com a técnica do Storytelling.
Começo pelo começo. Não dá pra começar uma história sem contexto. Já me posicionei como personagem neste artigo, alguns de vocês se identificaram, outros não. O começo de toda história tem como objetivo criar curiosidade, empatia e levar o leitor (ou espectador) a continuar atento a ela.
Nosso começo na Copa não foi bom. Foi uma cerimônia de jardim de infância. Seria uma pista do que aconteceria depois com o Brasil? Eu interpreto aquela abertura como o primeiro conflito, o Incidente Incitante, que colocou em dúvida a nossa capacidade em realizar a Copa, em termos de organização e estrutura. Mas superamos e, de certa forma, a Copa foi muito melhor do que todos imaginavam.
A Copa é uma grande trama e a maior delas é a competição e a busca pelo título. O protagonista é definido só no último dia, no clímax. Como em toda boa história, não imaginamos como será o final. A surpresa e o impacto devem aparecer como elementos de engajamento.
Se o final é feliz ou não, no caso da Copa, depende de que lado da história você está. Para o campeão, final feliz. Para muitos, final irônico, com uma mistura de sentimentos positivos e negativos, mais próximo da vida como ela é. E infelizmente, para outros, um final trágico, como no caso do Brasil.
Se a Copa é uma grande trama, cada jogo é uma sub-trama. E cada equipe vive a sua própria trama, onde cada jogo é uma sub-trama. Uma trama é uma sequência de eventos com altos e baixos que colocam os protagonistas em perigo e os convocam para desafios que devem ser superados para chegarem até o final.
E no final, se houve aprendizado, houve uma boa história.
A história dessa Copa está só começando. O que aconteceu até aqui foram eventos históricos que se transformarão em muitas histórias contadas em diferentes tons e formatos. Colunistas, especialistas, comentários no Facebook… Todos procurando extrair aquilo que é mais importante numa história: o seu significado.
E se uma boa história é feita de conflitos, a Copa, principalmente a nossa, não economizou em antagonismos para quem a organizou, para cada seleção e para nós, coadjuvantes e público-alvo ao mesmo tempo. Manifestações, acidentes, contusões, contusões graves, goleadas, juízes fracos, empresas decretando feriado, baixa produtividade, enfim, são muitas as forças antagônicas de um evento desta dimensão.
Cada um tentará explicar o que aconteceu com o Brasil contando uma história. Ou melhor, expressando um ponto de vista, uma opinião, influenciada por seus valores, modelo de mundo e principalmente intenção, ou seja, o que ele quer com aquela análise. Alguns por exemplo só querem provocar, outros, querem realmente trazer algo relevante para nossas vidas.
E o que é uma história se não um momento de imersão no mundo de um personagem com uma trama, e que tem como objetivo principal nos equipar para vivermos melhor nossas vidas?
A Alemanha foi campeã. Seu final foi feliz, resolvido nos últimos minutos. E o que mais trouxe interesse pela trama da Alemanha além do fato dela ter sido a campeã? O carisma e simpatia surpreendentes de um povo considerado frio e, claro, o massacre contra o Brasil.
Mas podemos contar a história da Alemanha voltando no tempo. O Incidente Incitante ocorreu há 10 anos, quando eles decidiram fazer um trabalho de longo prazo para acabar com o jejum que durava 14 anos. O Ato 2, que é a fase das complicações progressivas, aconteceu durante as derrotas seguidas em 2 Copas e EuroCopa, até chegar ao Brasil e aqui decidirem se integrar com uma Comunidade no interior da Bahia para se sentirem parte do ambiente e assim aumentar suas chances de vitória. O Ato 3 começa com a transformação do time a partir desse convívio com a comunidade, com o “fair play” dentro e fora do campo. O clímax foi contra o Brasil quando todos viram sua potencia. E a resolução foi a coroação, contra a Argentina.
Um filme que tem mais de um protagonista só é bom quando todos dividem o mesmo desejo. Só que a distância entre o começo da Copa e o seu fim, com o título, é grande e apenas um ganha. E não existe segredo, quem for mais forte vence. Resultado: alguns choram de alegria e outros de tristeza.
Mas a vida não é assim? Ou você conhece alguém que só colheu glórias e conquistas ao longo de toda uma vida? Ou algum time que permaneceu invicto em todas as partidas e campeonatos? Mas as propagandas, ou pelo menos a maioria delas, insistem em mostrar um mundo mágico, sem problemas, sem fraquezas. E seguiram essa estratégia desde antes da Copa: vamos ganhar esta copa, temos uma seleção incrível, um país com milhões de fanáticos e claro, somos os únicos Penta, como se sucesso passado garantisse sucesso futuro. Elas caíram na mesma armadilha que empresas costumam cair nas apresentações corporativas ou em qualquer comunicação. Escondem o lado negativo e passam então a mensagem num tom de “meia verdade”.
Ora, são 32 times, sem jogo fácil e todos com suas forças e fraquezas. Porque a propaganda apenas seduz? Porque ela não traz a realidade para que a marca associada a mensagem seja mais verdadeira? Porque ela não pensa na continuidade? Resultado disso: apagão nas campanhas que tiveram que sair do ar no dia seguinte em que a Alemanha jogou sozinha em campo contra o Brasil que não compareceu.
Exemplos disso: Do #euacredito ao grito de “o campeão voltou”, só porque ganhamos a primeira partida. Não quero dizer com isso que não devemos ser otimistas, mas se analisarmos o contexto de forma ampla, como foi montada a equipe, o desempenho em campo, enfim, toda uma análise que só agora depois da derrota estamos fazendo, fica claro que o único planejamento que foi feito foi o da nossa própria frustração, ou seja, montou-se um castelo de expectativas com um só caminho, com uma única opção, sem plano B. Ou ganhamos ou ganhamos.
Em qualquer situação na vida, vence aquele que for mais forte. E só se torna forte quem conhece suas fraquezas, e a partir delas desenvolve resiliência. É preciso entender que as forças antagônicas estão por toda parte. Ignorá-las é o caminho mais rápido para um final de história trágico.
Um dos jeitos de avaliarmos uma boa história é compararmos a situação de vida dos personagens antes e depois. Se houve transformação, se os personagens mudaram ou se o ambiente sofreu alguma modificação, então foi uma boa história. É o que chamamos em Storytelling de “arco” na história. Caso contrário, os erros se repetem e a história continuará a mesma. Vale a pena ver de novo?
Eu vivi a melhor Copa da minha vida junto com minha família. Não faltaram aqueles ingredientes essenciais de toda boa trama: emoções de todos os tipos, suspense, surpresa… Mas para que a nossa Copa não seja lembrada apenas pelo massacre do 7×1, afinal, tendemos a lembrar daquelas situações que nos causam emoções muito fortes, sejam elas boas ou ruins, precisamos de um to be continued… É nesse momento que a seleção pode dar um pontapé inicial para construir o arco de sua história, ou então sentaremos diante de nossas televisões para assistir “vale apena ver de novo”. Que chato…
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