Eduardo Axelrud
4 de dezembro de 2012 - 11h58
Você está numa reunião. O atendimento relata que o cliente não aprovou o anúncio e que da próxima vez precisamos ser mais assertivos. Como bomEduardo Axelrud é vice-presidente de criação da Competence
redator, o domínio que você tem da sua língua materna permite que você entenda essa frase com o significado correto da palavra “assertivo”: ser mais afirmativo, mais claro, mais firme, mais enfático. Ter mais assertividade. Uma palavra pouco usada, que remete a provas que você fazia no colégio, onde se pedia que você distinguisse com F ou V as assertivas falsas das assertivas verdadeiras.
Na verdade, o uso desse termo até surpreende você positivamente em relação ao emissor. Legal quando o atendimento usa uma palavra mais culta, querendo provavelmente dizer que precisamos usar na campanha uma linguagem mais direta. Mas no dia seguinte você está numa reunião com outro grupo, e alguém parabeniza o financeiro pela assertividade das previsões orçamentárias. E no fim do dia, ao avaliar a performance da agência em prospecções no último semestre, alguém parabeniza: ganhamos 5 contas, isso significa que estamos com um alto índice de assertividade das propostas.
E aí, cai a ficha.
Essas pessoas não estão falando na assertividade do Aurélio. Elas estão falando de algo que na cabeça delas provavelmente está escrito com “c”. Acertividade. A capacidade que alguém ou algo tem de acertar. Só que essa palavra não existe. “Acertivo” não é uma palavra certa. Apesar das pessoas se encherem de razão e serem tão assertivas quando ficam repetindo esse termo o dia inteiro.
E aí, o que você faz? Corrige o interlocutor a cada vez que você escuta, e corre o risco de passar por chato? Faz um texto no blog de um importante veículo denunciando o mau uso da língua mãe e passa por mais chato ainda?
Talvez a melhor saída seja perceber que quando essas palavras surgem de repente e passam a ser usadas massivamente, é porque elas vem a calhar. Elas cobrem um furo da língua. Uma necessidade de expressar algo que as pessoas precisam, mas que não encontram amparo no vocabulário do dia-a-dia. Junto com uma predileção das pessoas por falarem difícil. Parece ser mais bonito e polido dizer que “temos que ser mais acertivos”, do que dizer que “estamos errando pra dedéu”.
Assim foi com “a nível de”. Assim foi com “No caso, seria” (preferida por 10 entre 10 balconistas, que adoram dizer que “no caso, isso seria com o gerente”). E assim foi com o gerundismo, que daqui a pouco vai estar passando a completar quase uma década de vida. Da mesma maneira que as modas, as gírias e os memes, essas invenções da língua popular são uma praga. Surgem não se sabe de onde, e preenchem um espaço vago no repertório do povo. E justamente por isso, pegam. E de um jeito que você não tem outra saída senão, no mínimo, se resignar a uma convivência pacífica. Quer saber? Daqui a pouco isso passa. E espero estar sendo bem acertivo nessa minha previsão.
*Eduardo Axelrud é vice-presidente de criação da Competence
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