Meio & Mensagem
16 de novembro de 2011 - 8h33
Achei que o problema era pessoal, eu estaria ficando ranzinza. Pois se antes a clonagem de capas de jornal para fins de propaganda causava apenas certo incômodo, ultimamente a reação é cada vez mais irritada. Porém relato recente da ombusdman da Folha comprova que esta opção de mídia pode ter retorno duvidoso, já que o assunto é um dos campeões de reclamações de leitores – e o único, como comenta ela, comum a todos os tipos de público, independentemente de idade e perfil.
As pessoas, aliás, dirigem suas queixas tanto aos anunciantes quanto aos veículos, acusados de vender seu espaço mais nobre sem levar em conta o interesse dos leitores. A própria Folha acabou numa saia justa, por ter produzido uma primeira página "clonada" para certa marca de bebidas, embora sua linha editorial condene a publicidade deste tipo na TV e no rádio.
É fácil entender o desconforto de quem se sente ludibriado, logo no café da manhã. Por mais respeitado que seja o anunciante, e mais interessante o seu produto ou serviço, quem tenta se comunicar fingindo ser outro, travestido de noticiário e camuflado na paisagem, não pode esperar boa-vontade. E não adianta alegar que o espírito é o humor, como na brincadeira infantil do "de mentirinha".
Mais difícil é entender porque essa prática, sempre polêmica, continua tão disseminada. Pior, vem aumentando de frequência. O que era inicialmente um recurso de diferenciação, torna-se pouco a pouco rotina. Levantamento da ombudsman registra que foram 88, só este ano, os anúncios que cobriram total ou parcialmente a primeira página da Folha.
Que a publicidade merece seu lugar nas primeiras páginas ninguém duvida. Até porque é ela, no final das contas, que ajuda a bancar o acesso do leitor ao conteúdo. Daí a se camuflar de primeira página para capturar sua atenção enquanto ele está desavisado, há uma distância que merece ponderação.
Selma Santa Cruz é vice-presidente de planejamento do Grupo TV1
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