Meio & Mensagem
16 de janeiro de 2014 - 10h34
Adoraria ter criado a frase título deste post. Encontrei-a num artigo escrito por Sidney Rocha no jornal "Rascunho". Era sobre literatura. Mudei o tema, e me surpreendi ao ver como o humor de sua construção parece extraído dos discursos de nossas autoridades. O deboche da formulação se encaixa como luva no país em que protestos são atribuidos às conquistas do povo, e o horror que jorra das penitenciárias maranhenses não aconteceria se o estado não tivesse ficado tão rico.
Discordo dos que dizem haver excesso de pessimismo no Brasil atual, tema abordado pelo excelente editorial de Lena Castellón, no último M&M. Acredito que o problema do momento está no extremo oposto: a onda de positivismo que os detentores do poder tentam nos enfiar goela abaixo. Graças a essa onda, mergulhamos no mar de desconfiança onde se debatem economistas, juristas e correntistas da Caixa Econômica Federal.
Positivam-se os desastres, os índices desabantes, os escândalos. Só fatos positivos podem acontecer no país em que o marketing, no mais lamentável sentido da palavra, comanda o espetáculo. A inflação que sapateia nas prateleiras e o descrédito crescente de nossa economia são rotulados como guerra psicológica. Os atrasos nas obras da "melhor de todas as Copas" são ranhetice do Blatter, o peso dos impostos, a vergonha dos aeroportos e estradas, o assalto aos cofres públicos, a falta de investimento em infraestrutura, tudo é pura invenção da imprensa golpista. A situação está maravilhosa e totalmente sob controle no "Brasil – Agência de Propaganda das antigas", onde o que se perde é bobagem, e o que se ganha, por mais mixuruca que seja, é sempre fantástico.
Tanta coisa bacana pra copiar dos publicitários de ponta, e os políticos foram garimpar e lapidar logo os defeitos de que a propaganda moderna começa a se livrar.
A boa notícia (olha o otimismo aí) é que 2014 será melhor para nós do que para venezuelanos, argentinos, cubanos e nicaraguenses. Comparados com Coréia do Norte, Iraque e Burkina Faso, por exemplo, vivemos no paraíso.
Para os que seguem preocupados com o pessimismo geral da nação, basta pegar o momento péssimo de países menos afortunados e colocar ao lado de nossas mazelas, que sempre haverá algo pra celebrar.
Quando confrontados com alguma falha indefensável, sugiro que sigam o exemplo dos governantes marketinguiados: acusem a maldita herança corrupta, a obsolescência das leis, o efeito estufa, a teoria das cordas, a insistência da Globo com mais uma edição do BBB… qualquer culpado serve. Em seguida, contraponham alguma das características desse povo que tem jogo de cintura, não desiste nunca e sempre dá um jeito. Fechar com o famoso "Deus é brasileiro" é clichezaço, mas vai que…
O importante é que otimistas, pessimistas e indecisos, nos mantenhamos unidos na torcida pra que as coisas não piorem mais do que a pior das hipóteses, o que, dependendo dos interesses em jogo, das altas temperaturas e dos humores do mercado, pode gerar intermináveis discussões sobre aonde vamos chegar com essa conversa toda.
Adilson Xavier, escritor e publicitário
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