Ponto de vista

O marketing do sexo

i 15 de outubro de 2013 - 12h47

Faltava uma hora para o voo. Entrei na livraria do aeroporto de Congonhas e fiquei espantado com a quantidade de novos lançamentos de romances de sacanagem escritos por mulheres, para mulheres, na esteira do sucesso de Cinquenta Tons de Cinza. Contei mais de 30 obras de autoras diferentes! Em gôndolas de best sellers.

Não me considero moralista. Mas fico curioso pelo fato dessas obras, a partir dos títulos, usarem apelo erótico resvalando pelo sadomasoquismo.

Enquanto pensava nisso e o avião taxiava pela pista, lembrei-me da personagem da Nancy Allen no filme de Steven Spielberg, Uma Guerra Muito Louca, 1941, que era apaixonada por aviões clássicos da Segunda Guerra. Para ela, grandes e excitantes símbolos fálicos.

Sou da geração que presenciou o nascimento do feminismo. Mas acho que Germaine Greer e Betty Friedan ficariam coradas hoje, não com o conteúdo soft pornô dessas obras, mas com o baixo nível literário, porque parece que apesar de terem conseguido, depois de tanta luta, a posição desejada no mercado de trabalho, sua parte animal, inconscientemente, continua atraída pelo macho animal, dominador e provedor.

Há muito tempo que o cinema e a TV deixaram de usar a imagem de mulheres sexy, classudas, e partiram para as periguetes, seminuas e vulgares. Até na música: “Ai, ai, assim você me mata”.

Sim, porque depois de longas e estafantes jornadas de trabalho, comandando homens submissos, nada como dar asas à imaginação com esse tipo de leitura.

Num mundo onde a privacidade se escancarou, e todas as modalidades sexuais se tornaram banais em todos os veículos de comunicação, por que não explorar isso na literatura?

Quem sacou isso espertamente foi a pioneira autora e agora bilionária de Cinquenta Tons de Cinza, que merece sua fortuna. Ela sabe que o animal mulher continua a ser fêmea, apesar de tudo. Já estava escrito em o Macaco Nu de Desmond Morris.

"(…) A minha justificativa é que, apesar de ter se tornado tão erudito, o Homo sapiens não deixou de ser um macaco pelado e, embora tenha adquirido motivações muito requintadas, não perdeu nenhuma das mais primitivas e comezinhas. Isso causa-lhe muitas vezes certo embaraço, mas os velhos instintos não o largaram durante milhões de anos, enquanto os mais recentes não têm mais que alguns milhares de anos — e não resta a menor esperança de que venha a desembaraçar-se da herança genética que o acompanhou durante toda a sua evolução. Na verdade, o Homo sapiens andaria muito menos preocupado, e sentir-se-ia muito mais satisfeito, se fosse capaz de aceitar esse fato. É talvez nesse sentido que um zoólogo pode ajudar.(…)".

Se antes O Amante de Lady Chaterley e Mulheres Apaixonada de DH Lawrence eram utilizados para masturbação masculina, hoje, esse tipo de literatura, sem a mesma qualidade literária segundo os críticos, é para elas, que estão solitárias no poder.
E não só os editores estão dando pulos de alegria. Os fabricantes de algemas e chicotinhos também!

Julio Xavier é sócio da BossaNovaFilms e adora dar pitaco em marketing. 

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