Como a doença da eficiência pode matar a inovação
Para Edmar Bulla, a cultura da produtividade a qualquer custo nos torna "seres corporativos ambulantes", esgotados e menos inventivos, transformando a eficiência em uma patologia
Como a doença da eficiência pode matar a inovação
BuscarPara Edmar Bulla, a cultura da produtividade a qualquer custo nos torna "seres corporativos ambulantes", esgotados e menos inventivos, transformando a eficiência em uma patologia
Taís Farias
10 de junho de 2025 - 16h02
“Você trabalha em uma empresa humana ou em uma máquina de eficiência?” Com questões, como essa, o CEO do Grupo Croma, Edmar Bulla introduziu um cenário que ele descreve como uma doença da eficiência. Isso porque, segundo o pesquisador, quanto mais otimizamos os nossos dias, mais reduzimos nossa capacidade criativa.
Edmar Bulla, no ProXXIma 2025 (Crédito: Máquina da Foto/ Eduardo Lopes)
Ao mesmo tempo, quanto mais se negligencia a saúde mental, mais as pessoas se tornam limitadas e improdutivas. Nessa lógica cheia de estímulos, com notificações, métricas, reuniões, mensagens e estímulos, a vida passa a ser governada pelos algoritmos.
“Mas nós não podemos esquecer que isto não é um papo sobre trabalho. Isto é um papo sobre existir. É sobre viver. A doença da eficiência não é uma questão de gestão. A doença da eficiência é uma questão existencial, uma questão cultural, uma questão psicológica. Eu estou absolutamente seguro de que cada um de vocês já passou por um conflito entre ter e ser”, defende Bulla.
E, se as coisas que se pode ter são limitadas, o poder ser não tem limites. O pesquisador aponta no neoliberalismo e na teologia da prosperidade a lógica que sustenta uma sociedade que vive a base de excessos, de consumo, conteúdo etc. Essa mesma mentalidade relaciona o sucesso exclusivamente ao mérito e o fracasso como um resultado individual.
“O neoliberalismo nos leva a ser empresários de nós mesmos. Só que o problema disso é uma extrema competitividade. E essa competitividade nos leva sempre à frustração, sempre. Porque o outro é melhor, porque o outro tem um cargo melhor, porque o outro ganha mais”, explica o CEO do Grupo Croma.
Essa equação não elimina apenas a criatividade e a inovação, mas gera uma despersonalização que se estende para toda a vida. “A gente fetichiza a empresa. Nós somos seres corporativos ambulantes, cujo sobrenome é a empresa onde trabalhamos. A fetichização da empresa nos leva a sermos corporativos na vida privada. Nós não desconectamos. Não temos tempo de jantar. Nós não brincamos”, aponta.
O resultado disso, de acordo com Bulla, seria um alto nível de compulsão e medicalização. “A doença virou sinal de pertencimento”, descreve. E continua: “Nós vivemos isto. Pessoas, com sorrisos absolutamente fake, que vivem uma persona corporativa quando nas suas casas e no seu íntimo há extremo sofrimento e medicalização”.
No ambiente corporativo, isso é alimentado por características como aversão ao risco, foco excessivo em resultados de curto prazo, medo de errar e uma cultura de burnout e esgotamento criativo.
“Esse ciclo de recompensa dopaminérgico dentro das organizações bloqueia, sufoca a inovação. Por quê? Porque nós estamos tomando decisões por meio de algoritmos. Está ficando tudo fácil demais. Alguém decide por mim. O nosso pensamento, portanto, é binário. Nós estamos perdendo as nuances”, descreve.
Bulla garante que a tecnologia não será capaz de salvar a sociedade dessa, mas existem caminhos humanos e que exigem ousadia. O primeiro deles seria resgatar a humanidade dentro dos ambientes de trabalho e, sobretudo, dentro dos profissionais. Também é preciso redesenhar modelos mentais e entender que inovação não nasce do consenso. É preciso liberdade para errar.
O CEO do Grupo Croma também defende que é preciso repensar o design do trabalho e criar espaços de trabalho profundos, em que a tecnologia não entra. Por fim, seria necessária uma revisão da cultura organizacional, sem espaço para a misoginia e o preconceito. “Hoje, nós não estamos só lidando com o fascismo. Mas estamos lidando com o fascismo corporativo”, aponta Bulla.
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