Você já foi à China?

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Ponto de vista

Você já foi à China?

Não somos profundos conhecedores da milenar cultura Chinesa. Muito menos da cultura contemporânea


16 de fevereiro de 2016 - 10h02

Tive a oportunidade de passar 10 dias na China visitando clientes agora na segunda quinzena de janeiro. Nunca tinha ido à China antes. Cheguei a conclusão que uma viagem a China deveria fazer parte do curriculum de qualquer curso relacionado a área de negócios ou marketing. China em crescimento? Aí vai o mundo atrás. China em soft landing? Melhor rever a sua estrutura de custos.

Sério, o país que em breve será considerado a maior economia do mundo exerce hoje em dia uma influência enorme nas perspectivas econômicas mundiais de qualquer marca ou modelo de negócio. Mas o meu maior questionamento nos meus dias por lá foi em relação ao soft power deles. Soft power? A capacidade de uma cultura ou nação em influenciar as mentes e corações de todos, de forma quase subliminar, mas de maneira constante e quase imperceptível.

Sabemos que os nossos colegas norte-americanos são mestres nesta arte do soft power, sendo Hollywood sua forma mais visível, passando por palestrantes de renomadas universidades com seus estudos e teses sobre quase tudo e, lógico, os ídolos esportivos , musicais e itens de alimentação e bebida: “Just do It!”, “I’m lovin’ it!” e por ai vai. E sobre a China? O que conhecemos do soft power deles além de frango xadrez e Bruce Lee?

Ops. Já sabemos a diferença entre Jackie Chan e Jack Ma? Gostamos de Ai Weiwei (artista plástico) ou preferimos Gao Xingjian (Nobel de Literatura)? Já assistimos filmes de Wong Kar-Wai ou de Zhang Yimou? Sim, difícil de admitir, mas, não somos profundos conhecedores da milenar cultura Chinesa. Muito menos da cultura contemporânea chinesa! Acredito que deveríamos pelo menos começar a nos interessar por este assunto tendo em vista as perspectivas econômicas de médio prazo, concorda?

Lendo os jornais locais quando estava por lá (o China Daily, em inglês, lógico) só via notícias da expansão americana em relação ao santo graal da economia mundial. A classe média chinesa! Disneylândia de Shangai vai abrir em junho de 2016 (U$ 5,5 Bilhões de investimento, com 43% de participação do sócio chinês), sendo que as perspectivas já dizem que será o maior parque temático fora dos Estados Unidos – se cuida, Orlando! Starbucks pretendendo abrir 500 lojas durante o ano de 2016. Ah, e já existe um “Central Perks Café” (do seriado Friends) aberto em Shangai. Loja sobre os Simpsons? Nem nos EUA você encontra, mas, em Beijing, a partir do segundo semestre de 2016, sim.

Enfim, uma quantidade enorme de exemplos de expansão do soft power americano. Mas e a China? Bom, já que mencionei o cinema neste exemplo sobre soft power internacional, vamos explorar um pouco mais o quesito – mas no sentido contrário! Wang Jianlin, um dos maiores bilionários da China, recentemente comprou um grande estúdio de Hollywood (Legendary Entertainment) por U$ 3,5 bilhões pagos à vista. Cash! Este estúdio, entre outras pérolas do soft power americano, produziu a série Se beber não case (The Hangover).

Em seguida, lendo algumas mídias que cobrem Hollywood, consegui identificar alguns artigos alarmando sobre uma “possível invasão cultural chinesa” nos EUA e no mundo. Não é brincadeira, não! Li isso e não acreditei como você agora. O terceiro capítulo da franquia cinematográfica Kung Fu Panda foi coproduzido pela DreamWorks (como os outros dois filmes), mas, desta vez, também pela China Film Group, numa tentativa de tornar o personagem principal, o panda PO (sem parentesco confirmado comigo), mais chinês e menos americano, portanto mais palatável a classe média chinesa. Como? O sync dos movimentos labiais foi pensado em ser o mais próximo possível da língua chinesa, tornando o filme mais verdadeiro. Uau!

Ponto para o soft power americano. Ponto, não. Touchdown! Realmente, o desconhecimento ocidental sobre esta grande cultura oriental me assusta como gestor de marca aqui no Brasil. Quais seriam os impactos de uma invasão cultural do líder mundial? Quais serão as referências interessantes e relevantes? Como e quando teremos mais acesso as referências culturais da maior economia mundial?

Minha viagem por lá foi uma verdadeira aula live marketing em um MBA da vida real, já que visitei seis cidades diferentes. Nosso futebol começando a ser referência por lá. Ótimo. Mas nossa pujante economia também. Péssimo! Que a janela de oportunidade da Rio 2016, como recentemente o Nizan escreveu na Folha de S. Paulo, “o importante será vencer no marketing”, ajude um pouco nosso soft power já que a briga nos próximos anos parece que será muito forte. Por um soft power positivo brasileiro já! Por favor.

Paulo Octavio P. de Almeida é vice-presidente da Reed Exhibitions

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