Movimentos transformam inclusão em marcas
Lab Fantasma, Ponto Firme e Periferia Inventando Moda ressaltam a importância do olhar de negócios mesmo que uma grife levante bandeiras
Lab Fantasma, Ponto Firme e Periferia Inventando Moda ressaltam a importância do olhar de negócios mesmo que uma grife levante bandeiras
Luiz Gustavo Pacete
25 de abril de 2018 - 7h00
Em agosto do ano passado, a marca de roupas Lab Fantasma, fruto da parceria entre o rapper Emicida e seu irmão, Evandro Fióti, fazia sua terceira participação no São Paulo Fashion Week (SPFW). Na ocasião, eles encerravam a participação na Semana da Moda com modelos negros e diversos tipos de corpos. A presença da Lab Fantasma no principal evento de moda do Brasil foi simbólica na medida em que levantou as bandeiras de inclusão e diversidade em um ambiente tão importante quanto à moda.
Evandro Fioti explica que a presença da Lab Fantasma foi um investimento para experimentar aceitação no mercado, mas, sobretudo, para testar a elasticidade e trazer visibilidade à marca. “Terminado esse período, a marca ganhou ótima visibilidade, mas o público consumidor da nossa roupa não está ali. A partir de agora, o objetivo é criar outros caminhos para novos projetos com a Lab Fantasma”, diz Fióti.
O empresário ressalta que as críticas do público — em torno de 95% positivas e 5% reativas —, no entanto, já eram esperadas. “Destes 5%, muitos criticaram o preço da nossa roupa, mas já esperávamos, o que devemos deixar claro é que estamos falando de uma empresa e sempre que há uma causa ou bandeira envolvida, as pessoas acham que devemos agir como uma ONG”, afirma Fióti. Em dezembro do ano passado, a Lab Fantasma apareceu no ranking da Interbrand das marcas capazes de aproximar causas do mundo de negócios.
A visão de Fióti sobre a percepção que as pessoas possuem de marcas que levantam bandeiras, como é o caso da Lab Fantasma, vem de encontro com a maneira como outros projetos transformaram causas com estratégias de marca. Um trabalho social não necessariamente precisa ser apresentado de forma convencional. Trabalhar atributos de marca e estilo pode fazer total diferença nos projetos. Assim como a Lab Fantasma carrega sua causa, mas entende o preço a ser pago, ocorre com o Periferia Inventando Moda. O projeto, criado em 2014, em Paraisópolis, na cidade de São Paulo, por Alex Santos em parceria com Nilson Mariano, tem como objetivo trazer inclusão por meio da moda.
“O principal ponto positivo quando você passa a ter marcas que representem a comunidade é o resgate da autoestima, personalidade e essência. Esses são os pontos principais que temos em nosso trabalho. As pessoas começam a nos ver como espelho e inspiração para assumir sua verdadeira identidade e transformar resgatando a autoestima, reconstruindo e montando uma nova história”, afirma Alex Santos.
A influência da cultura sneaker no Brasil
Outro projeto envolvendo moda e inclusão despontou no SPFW no sábado, 21. O estilista e artesão Gustavo Silvestre, idealizador do Ponto Firme, protagonizou um desfile das peças de crochê feitas por 20 alunos da Penitenciária de Guarulhos. Vestidos, coletes, quimonos e casacos unem a moda com o retrato da vida de cada detento, ponto a ponto.
Iniciado em 2015, o Ponto Firme oferece aulas de técnicas de crochê duas vezes por semana, ministradas por Gustavo Silvestre. O estilista, inclusive, já é um conhecido e parceiro antigo da Melissa: o artista foi um dos participantes da primeira edição do Melissa Meio-Fio, em 2016, projeto criado pela marca para mapear os bastidores e detalhes do processo criativo e do cotidiano de criadores contemporâneos de São Paulo, traçando um novo cenário cultural na cidade.
* Crédito da foto no topo: Periferia Inventando Moda/José Barbosa
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