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A assunção da classe C

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Ponto de vista

A assunção da classe C


16 de abril de 2012 - 10h25

Na detalhada análise da nova grade de programação da TV observa-se que o fenômeno da ascensão da classe C padece de um equivoco semântico, pois o desembarque no consumo não se trata de um processo espontâneo das camadas mais populares dos brasileiros e sim um projeto elaborado pelos poderes hegemônicos da comunicação nacional, portanto uma assunção.

Aos esquecidos é bom lembrar que é sutil a diferença entre ascensão e assunção e está no fato de que o primeiro processo se dá por capacidade própria. Jesus ascendeu aos céus por seus próprios meios. Enquanto na segunda situação há a interferência fundamental de um terceiro. Maria foi assumpta pelo poder de Deus. Consta que levada por anjos.

Estabelecidas as diferenças, voltemos à classe C. Para os meios de comunicação, notadamente a TV, a classe C é incapaz de ascender socialmente, mesmo que brindada com uma maior e mais igualitária distribuição de renda. Portanto necessita de uma programação recheada de situações onde prevalece a estética do mau gosto, para, por assim dizer, ser carregada.

Por isso somos bombardeados, na ficção ou no noticiáiro, com uma série de situações inusitadas que em nada refletem a vida do brasileiro comum, a não ser na cabeça dos executivos que confundem distribuição de renda e acesso ao consumo com a proliferação do bizarro.

Baseados em pesquisas (?) a TV brasileira se vangloria de estar sintonizada com as camadas mais populares pelo fato de, supostamente, retratar uma realidade que até então ignorava solenemente. Pois seria mais produtivo continuar no obscurantismo da ignorância a retratar uma gente que não existe de verdade.

Toda essa emergencial preocupação com a classe C é resultado da diminuição das audiências televisivas em todas as classes sociais e da tentativa de fazer convencer os anunciantes que a mudança do conteúdo acompanha os gostos (SIC) do novo consumidor tupiniquim que, dessa forma, voltaria aos braços da telinha e justificaria a manutenção dos investimentos publicitários. O curioso é que no início dos anos 80 a TV experimentou a fórmula “O Povo na TV” com resultados desastrosos. Por que agora seria diferente?

Em nome da ascensão desacreditada se pratica a assunção como forma de garantir o controle da situação. No entanto esquecem os controladores da programação do senso crítico da audiência, sobre o qual nos ensinou Carlos Eduardo Lins e Silva no livro Muito Além do Jardim Botânico, Summus Editorial: “(…) que as análises dos fenômenos da comunicação fujam dos esquemas simplistas dos gabinetes e caiam na vida real e complexa das pessoas que estão no mundo”. Que assim seja.

* André Porto Alegre, jornalista e publicitário, membro do Conselho de Administração e da Diretoria Executiva da APP – Associação dos Profissionais de Propaganda, Conselheiro do CONAR – Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, Conselheiro do FAC – Fórum do Audiovisual e Cinema. Foi Diretor Comercial da Mobz S.A., Circuito Digital S.A. e Promocine, empresas operadoras de mídia cinema. Vencedor do Prêmio MaxiMidia em 2004 e 2007 pelo Melhor Uso da Mídia Cinema. Trabalhou no jornal Folha de São Paulo, na Mauricio de Sousa Produções, no Grupo Young & Rubicam e na Ammiratti Puris Lintas. É professor dos cursos de MBA da Faculdade Rio Branco e FACCAMP.
 

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