Devo ser amigo do meu chefe no Facebook?
No mundo das redes sociais, onde a transparência é completa, não existem mais fronteiras entre o lado pessoal e o lado profissional
No mundo das redes sociais, onde a transparência é completa, não existem mais fronteiras entre o lado pessoal e o lado profissional
Mauro Segura
19 de abril de 2014 - 4h44
Sábado de manhã.
Você acorda cedo, resolve "gastar um tempo" no celular e pensa: "vou ficar uns 30 minutos no Facebook". Abre o aplicativo e, de repente, salta na tela o convite: o seu chefe do trabalho está pedindo para ser seu amigo na rede social.
Quase que por instinto você se movimenta para aceitá-lo, mas pensa melhor: devo ou não devo aceitá-lo? Você lembra daquelas fotos postadas nas quais aparece bebendo com os amigos no bar. Todos muito doidos 🙂
Lembra também daquele post que você falava que precisava de férias urgentes para recuperar a energia porque não aguentava mais o trabalho. Isso sem falar nos comentários que você fez sobre as melhores empresas para se trabalhar e que seu sonho era trabalhar no Google.
Sábado à noite.
Aceita ou não aceita o seu chefe como amigo? Isso não sai da sua cabeça. Se não aceitar, vai ficar muito chato, né? Qual vai ser a desculpa? Como explicar que você é amigo de vários colegas de trabalho, mas não aceita o seu chefe?
Você se convence que tem que aceitar, até para o bem do seu relacionamento. Mas espera, se você aceitar, o que vai acontecer se no meio do expediente você escrever um post no Facebook e seu chefe olhar? Ele vai pensar que você não está trabalhando e sim se distraindo durante o trabalho, e vai logo falar em perda de produtividade.
Puxa, você vai ter que se controlar em tudo o que escrever. Que chatice! Que cilada você se meteu! Você perde a vontade de continuar a ver o Facebook e deixa para decidir sobre o que fazer no dia seguinte.
Domingo de manhã.
Você abre o Facebook e o convite do seu chefe ainda está lá. Você olha para ele e não sabe o que fazer. Tem uma ideia: o que será que seu chefe escreve no Facebook? Você vasculha e descobre que o seu chefe tem apenas três semanas no Facebook… e não escreveu nada ainda, nem postou foto ou qualquer comentário. Ele está mudo. Será que ele entrou no Facebook somente para fiscalizar os funcionários?
Domingo à tarde.
O seu chefe é legal, gente boa, mas você não tem muita intimidade com ele no trabalho. Você não costuma falar de assuntos pessoais com ele e nem contar confidências. É difícil imaginar o seu chefe vendo fotos de sua intimidade, seus momentos com amigos e os comentários engraçados e sarcásticos que muitos deles deixam em seu mural de atividades. Não! Definitivamente você não pode aceitá-lo como amigo. Poderia ser constrangedor e até impactar negativamente a sua carreira. Então deixa para decidir depois.
Domingo à noite.
Mas, espera, você é criativo, bem humorado, é bem comportado no Facebook, ele vai ver que você tem uma vida pessoal saudável e uma família legal. O seu chefe vai saber separar as suas opiniões pessoais do que os outros escrevem em seu mural. E pensa: ser amigo do seu chefe no Facebook vai ajudar você a ter mais exposição com ele e mostrar coisas legais. Quem sabe você pode passar a escrever coisas mais relevantes e até chamar a atenção do seu chefe?
Segunda-feira de manhã.
Você chega no escritório. Passa na frente da mesa do chefe. Ele olha, sorri e dá um aceno de bom dia. Você senta em sua mesa, pega o smartphone e aceita o seu chefe como amigo.
Essa história é uma ficção, mas comum a um grande número de trabalhadores. A conversa de ser ou não ser amigo do chefe no Facebook já é algo corriqueiro no ambiente de trabalho. Muitas vezes, a iniciativa parte do chefe, outras vezes é o funcionário que dispara o convite para o chefe.
O Brasil é o País mais ativo no Facebook, e o dilema acontece de forma muito mais contundente exatamente nessa rede social, que é uma rede com claros propósitos pessoais. O LinkedIn tem uma pegada diferente, lá a exposição é profissional, e criar conexões profissionais é sempre visto como uma ação positiva. O Twitter parece não sofrer este tipo de análise.
Uma pesquisa feita no ano passado mostrou que os brasileiros pensam diferente do resto do mundo em relação às amizades com colegas de trabalho e chefes no mundo virtual: 41% dos brasileiros se sentem à vontade para ter o chefe como amigo nas redes sociais, enquanto que a média mundial é de apenas 19%. Sobre ter os colegas de trabalho como amigos, os números são ainda maiores: 51% para os brasileiros e 25% para o resto do mundo. A pesquisa foi feita pela Robert Half junto a 1.775 líderes de Recursos Humanos em 13 países e grandes centros.
Um outro estudo mostrou que cerca de 25% dos jovens no mundo entre 18 e 25 anos já são amigos de seus chefes na rede social. E a maioria dos entrevistados disse que não se preocupa com o conteúdo publicado nos perfis. 60% dos jovens que são amigos virtuais de colegas de trabalho não restringem o conteúdo para eles.
A decisão de aceitar ou não o seu chefe como amigo no Facebook não pode ser algo emocional. Deve ser algo racional que poderá causar impactos no relacionamento entre ambos e até em sua carreira profissional. Existem alguns pontos que merecem análise e consideração. Coloque-os na balança para que a decisão faça sentido.
Vale a pena ser amigo do seu chefe no Facebook:
1- Se você já tem um bom relacionamento com ele, compartilha informações pessoais e tem alguns interesses similares fora do ambiente do trabalho;
2- Se seu chefe já é amigo no Facebook de colegas no trabalho, ou seja, já rola um ambiente online colaborativo entre todos;
3- Se seu chefe é usuário ativo no Facebook, valoriza o mundo online, compartilha opiniões e mostra que não está lá para fiscalizar, mas sim para compartilhar;
4- Para que você conheça melhor o seu chefe fora do trabalho, conhecer suas predileções, expectativas e características pessoais. Isso vai ajudar a melhorar seu relacionamento com ele;
5- Para que ele conheça melhor você, saber de seus interesses pessoais e profissionais, constatar que você é um cara bacana e com bons propósitos.
Se você já é amigo do seu chefe no Facebook, pode valer a pena:
1- Postar algumas coisas para que sinalize a ele seus objetivos de carreira, aspirações e desejos profissionais. Seja sutil, afinal de contas, todos estão vendo, mas deixar alguns rastros pode ser uma boa;
2- Compartilhe a sua criatividade, coisas interessantes que toquem em sua área de trabalho e que reforcem seu conhecimento;
3- Seja bem humorado. Todos gostam de pessoas otimistas e de bem com a vida.
Mas…
1- Cuidado com o que você posta;
2- Não faça reclamações sobre a empresa, salário e carreira nas redes sociais. Este não é o local correto para isso. E nem seja irônico;
3- Ah… e não vale falar mal também da ex-empresa ou do ex-chefe;
4- Não mostre intimidades e nem informações muito pessoais. Se este é o caso, então mantenha a sua página no Facebook apenas conectada com sua família e amigos íntimos;
5- Não seja polêmico ou irônico sobre assuntos sensíveis, especialmente aqueles que dizem respeito a preconceitos e tabus da sociedade. Isso pode ser um tiro no pé.
6- E, nunca, jamais, bajule o seu chefe virtualmente. Ou você vai querer ficar conhecido com puxa-saco virtual do seu chefe?
E, não esqueça, você é um ser humano único. No mundo das redes sociais, onde a transparência é completa, não existem mais fronteiras entre o lado pessoal e o lado profissional. É tudo uma coisa só. O que você faz lá, bate cá e vice-versa.
Enfim, no mundo digital você é o que você publica.
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