Meio & Mensagem
7 de abril de 2013 - 2h57
Na música Pelo Interfone (disco Voo do Coração – 1983) Ritchie, alcunha de Richard David Court, 60, compositor inglês radicado no Brasil, revela aquilo que poucos tem coragem de admitir: o cinema resolve dilemas.
A canção, que hoje é arte rupreste tamanha a distância do longínquo 1983, conta a história de um rapaz dispensado por uma moça com requintes de tecnologia para a época, pelo interfone, ou seja, virtualmente, sem o tradicional face to face. Em um determinado momento de suas lamúrias declara: não quero te prender / mas não posso te perder. E surpreende-se: esse é um dilema que nem o cinema sabe resolver. Feita a revelação.
Não é bem assim. Mas era na época. Poucos meses antes do lançamento da música o mundo se encantou com o filme Blade Runner – O Caçador de Andróides (1982) do diretor Ridley Scott, 75, que independente da genialidade, depois de 116 minutos não deixou ninguém sair do cinema sem se propor solução para os dilemas provocados pela obra. E olha que não foram poucos.
Hoje a sétima arte abandonou as respostas e se dedica às perguntas (sem respostas). Por isso tudo na canção de Ritchie soa irreal, do interfone à relevância do cinema.
Sem o destaque dos tempos em que era a única mídia audiovisual disponível, o cinema ainda ocupa lugar no complexo mundo das multiplataformas, onde alguns meios estão condenados à morte.
O cinema se reinventou, aderiu às novas tecnologias, manteve seu status de janela de exibição, apostou nos conteúdos e é fomentado por uma indústria que se entende como tal, desprovida de nostalgia, focada em resultados.
Se eles existem? Isso é outra história. No Brasil são lançados anualmente cerca de 300 títulos que disputam a preferência de aproximadamente 50 milhões de nativos, responsáveis pelos 150 milhões de ingressos vendidos que movimentam um negócio de 1,6 bilhões de reais.
No negócio do entretenimento o cinema é a única atividade com fluxo de informações capazes de sugerir uma análise consistente. Mesmo a televisão ou o futebol, preferências nacionais em como passar o tempo, não possuem dados que sugiram o mínimo de credibilidade.
Portanto o cinema resiste como uma das formas mais eficientes de se contar histórias. Ainda é assunto obrigatório das editoriais de cultura, palco de experimentos da indústria tecnológica, ambiente de estudo para as linguagens narrativas e cenário ideal para a revelação de talentos das mais diferentes áreas. Uma verdadeira rede social.
Assim como na música do Ritchie há um dilema que nem o cinema sabe resolver. Como que uma plataforma com tamanha qualidade e vitalidade (que é muito mais do que audiência) amarga 0,3% do total dos 30 bilhões de reais destinados à compra de mídia?
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