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Jornalismo custa caro e deve ser pago

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Ponto de vista

Jornalismo custa caro e deve ser pago

Jornais comerciais podem ser questionados por várias razões, mas suas vozes são fundamentais para o bom debate democrático


27 de fevereiro de 2014 - 10h18

Meu colega neste blog André Porto Alegre publicou uma opinião assumidamente polêmica. Questionou a decisão da Folha de S.Paulo, seguida por outros jornais, de proibir que uma empresa de clipping enviasse seu conteúdo diariamente para a Presidência da República. Empresas de clipping, como se sabe, vivem de buscar notícias sobre os temas de interesse de seus clientes e enviar cópias a eles. No caso, à presidente Dilma e mais 188 pessoas.

Na opinião de André, isso pode ser comparado com a posição dos artistas que querem manter a proibição à publicação de biografias não autorizadas. Ele questiona também se os entrevistados do jornal, que dão seu tempo para a elaboração das matérias, não teriam o mesmo direito de ser remunerados que a Folha exige em sua argumentação.
Respeito a opinião dele. Mas discordo totalmente. Penso que a Folha marca uma posição importante não só para si mesma, mas para o jornalismo como um todo e, mesmo que involuntariamente, até mesmo para o país, ao reclamar da distribuição gratuita de seu conteúdo.

Antes de entrar nesse ponto, duas considerações rápidas e secundárias ao que é mais importante nessa questão. Primeira, não faz sentido comparar o caso do clipping gratuito com a lei que proíbe as biografias. Faria se a Folha ou qualquer jornal tentasse proibir escritores de usar conteúdo do passado em suas obras. Por exemplo, uma notícia do período das Diretas Já num livro sobre aquele período. Mas o conteúdo da edição de hoje é o ganha-pão de qualquer jornal, assim como a música recém composta pelo Roberto Carlos. Ora, se o Roberto Carlos tem direito sobre toda execução comercial de sua música, também os jornais tem o direito de ser remunerados pelo conteúdo que geram diariamente.

A questão dos entrevistados é ainda mais capciosa. Para começar, ninguém é obrigado a dar entrevista de graça para um jornal. Se a pessoa quiser, ela põe seu preço – mas a gente sabe que, no Brasil, com raríssimas exceções, nenhum veículo aceita negociações por entrevistas envolvendo dinheiro. Todos sabemos, porém, que existem outras moedas de troca, e elas são usadas com frequência. O advogado dá entrevista em troca de notoriedade. O político, em troca de exposição positiva (sua) e negativa (do adversário). E muitos profissionais o fazem pelo simples motivo de querer ajudar outras pessoas por meio da boa informação.

Mas, como disse, essas são questões secundárias. O mais importante, na minha opinião, é a necessidade de reconhecer que o jornalismo “independente” (em breve, explico as aspas) está atravessando mares turbulentos. Com o maravilhoso advento da internet e das redes sociais, hoje qualquer informação circula livremente por todos os lugares. O problema é que manter equipes de jornalistas, editores, revisores, fotógrafos, diagramadores e demais envolvidos na produção jornalística custa caro. E o modelo tradicional, de cobrar de quem compra o jornal e de quem compra a atenção de quem compra o jornal para exibir seus anúncios, está sendo canibalizado por quem imediatamente pega as notícias geradas por essas equipes e distribui gratuitamente.

Jornais comerciais podem ser questionados por várias razões. Será que retratam todos os pontos de vista ou principalmente os interesses de seus donos e anunciantes? (Daí as aspas) Mas suas vozes são fundamentais para o bom debate democrático. Já perdemos a voz do Jornal do Brasil, no Rio, a do Jornal da Tarde, em São Paulo, e sabemos que outros veículos estão com sua operação em risco por causa da migração de leitores e anunciantes para os meios digitais.

É evidente que a perda da receita com os 189 leitores da Presidência da República não faz diferença para a Folha. Mas tem um caráter simbólico ao envolver o órgão máximo do executivo numa discussão que interessa ao país.

Eu, se fosse a Dilma, mandava assinar a Folha, o Estadão, o Globo, a Carta Capital e outras publicações para toda a equipe. Pro Lula, não, porque ele tem problema de azia. 

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