Geraldo Leite
5 de abril de 2013 - 10h12
Esses foram dias diferenciados, latinos, calientes, pero no suficientes, para entender o que se passa na América Latina.
Notícias desencontradas na midia nos trouxeram fatos de países próximos ao Brasil e isso serve sempre como referencia ou espelho.
Pode ser uma chance para tentar separar, de fato, o que é fato, daquilo que é versão.
Primeiro, após muitas tentativas, chegou ao Brasil a famosa blogueira cubana Ioani Sánchez. Com seu jeito simpático, arrojado e até mesmo ingênuo, Ioani conheceu um país grande, real, vivo, "caliente" também, com muitas contradições, mas que, pelo menos, não tem grandes restrições quanto à circulação de informações – elas convivem.
Em um país como Cuba, com a informação mais controlada, onde o que se publica, na maioria das vezes, é uma versão do Estado, ela, como blogueira, procura ser uma nova voz sobre os "fatos".
Um cineasta brasileiro fez um documentário sobre ela, ela veio para cá para assistir e debater, mas não conseguiu porque um certo grupo político organizado, entendia que isso depreciava a imagem do país cubano.
Mas a visita dela aqui não era pra depreciar Cuba que ela tanto se orgulha, mas para dar também a sua visão, chamar a atenção para o fato que existe não só um regime anacrônico, como também uma forma anacrônica dos demais países e lideranças mundiais lidarem com Cuba e com os cubanos.
É um absurdo querer silenciá-la por aqui, mas também é ridículo colocar nos ombros dela uma questão que vai muito além de uma simples ditadura de Fidel, que passa por um monte de cubanos conservadores baseados em Miami que sempre sonharam um dia, se vingar da revolução. Um grupo que, para se ter uma idéia, nem deixa o pessoal do Buena Vista Social Club visitar Miami para não parecer que existe algo de bom em Cuba.
Outro caso a que eu só tive acesso na semana passada, foi uma entrevista por satélite do presidente Rafael Correa do Equador, com o Julian Assange, do WikiLeaks, "hospedado", ironicamente, na embaixada equatoriana em Londres. No depoimento (veja abaixo) me chamou muito a atenção não só a profundidade das perguntas do Assange e a segurança das respostas do Correa, como também a denúncia de outros interesses de alguns dos principais órgãos de comunicação do mundo:
Segundo Correa diz, com endosso do Assange, por trás de uma defesa enérgica da liberdade de imprensa, podem se misturar também, por vezes, interesses comerciais ou políticos ou de conveniência de empresas privadas.
E essa seria uma das razões para o WikiLeaks ser tão perseguido…
Esse é um caso dificílimo de saber quem está falando a verdade, mas a quem apelar se o próprio julgamento neutro da imprensa, poderia, por vezes, também escamotear o que é real?
Pra terminar, ainda tivemos o caso do retorno do Chaves. Não gosto dele, acho que é um tremendo demagogo, mas não tenho dúvida que ele é o que a população escolheu. E não dá pra defender, como quer boa parte da imprensa daqui, tirá- lo do poder, como no tempo em que vivemos sob o jugo dos militares.
Eu concordo com a Dilma quando diz que é muito melhor uma imprensa barulhenta, que o silêncio das masmorras – e olha que ela sabe do que fala.
Mas como chegar a esse tom ideal onde as notícias não sejam tão editorializadas, sem cair em nenhum outro lado que controle a informação?
O problema é que muito governo populista e o Brasil não é diferente, prefere trocar profissionais qualificados nas áreas de comunicação, cultura, tecnologia, saúde, etc, por políticos ou pessoas de "confiança", cuja única história foi construída em sindicatos, em supostas "lutas sociais", por pessoas completamente despreparadas para o cargo.
Será essa uma sina nossa? Ou temos um governo mais"letrado" que fala melhor, mas só para poucos, ou um de origem popular, que inclui quase toda a população, mas que tem quadros sofríveis.
Confesso que não tenho a resposta.
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