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Média Ponderada

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Ponto de vista

Média Ponderada

Para Elton Simoes, as mudanças não representam necessariamente o fim melancólico de uma geração de veículos, podem representar sua renovação. Depende de quem calcula esta média


14 de abril de 2014 - 3h33

Fatos são absolutos. Percepção é média ponderada. Depende de quem pondera. É ao gosto do freguês.

A vontade parece ser um dos determinantes mais importantes na percepção dos fatos. Na média ponderada da percepção, a vontade é aquilo que determina os pesos e os componentes do cálculo.

Por isso, proximidade ou familiaridade com o assunto às vezes não gera a decisão ou a percepção mais adequada em relação à realidade presente, nem a especulação mais racional e fundamentada sobre o futuro.

No mercado de mídia impressa, parecem existir pelo menos duas percepções radicalmente diferentes. De um lado, um grupo anuncia ou prevê o fim do jornalismo e a morte dos veículos. No extremo oposto, outro grupo saúda uma nova maneira de produzir e distribuir conteúdo impresso.

Os fatos, como frequentemente acontecem, talvez estejam nesses dois extremos. Existe, sim, crise econômica em veículos de mídia impressa. Negar isso seria tapar o sol com a peneira. Por outro lado, nunca foi tão fácil publicar. Nunca se leu tanto, ou se comprou tantos livros.

Mais correto, talvez seja admitir que não haja crise de demanda na mídia escrita. A crise (se é que podemos chamá-la de crise) talvez esteja localizada somente na mídia impressa. Ou seja, a crise está localizada em setores da oferta. É crise de mídia impressa e não de mídia escrita.

Parte significativa da crise da mídia impressa pode, certamente, ser creditada à letargia na adaptação dos modelos comerciais dos veículos tradicionais às necessidades ditadas por um novo ambiente de negócios, fortemente impactados pela introdução de tecnologias digitais. Parte da crise pode ser atribuída a decisões de “racionalização” de custos adotadas por veículos de mídia impressa que geraram redução da qualidade e do valor do conteúdo ofertado.

Dito isto, cabe ressaltar que uma porção significativa do problema vem também de certa “crise de identidade” dos profissionais que geram conteúdo impresso. A começar pela denominação de conteúdo impresso, que remete a uma relação inevitável com papel e tinta. É crise de jornalistas, e não crise dos jornalistas. É crise de editoras, e não crise de mercado editorial.

É natural que seja assim. Diferentemente do mercado de vídeo que foi forçado a adaptações sucessivas que acrescentaram diferentes tecnologias de produção (ex.: do cinema mudo ao falado; do preto e branco ao colorido; e do analógico ao digital), e de distribuição (ex.: iniciou no cinema, adicionou TV, TV por assinatura, Canais Premium, PPV, etc…); o mercado de mídia impressa ficou relativamente estável nos últimos séculos.

A estabilidade levou a confusão entre o meio e a mensagem. Na média ponderada da percepção, assumiu-se que o valor da mensagem estivesse limitado pela tinta e pelo papel que compõem seu suporte físico.

Em um mundo cuja velocidade de propagação de informações aumentava, assumiu-se que o consumidor permaneceria esperando a edição impressa da manha para se atualizar sobre os fatos. Os olhos deixaram de acompanhar as necessidades do consumidor para se concentrarem em uma só maneira de satisfazê-la.

Visto desta maneira, a oferta conteúdo escrito se converteria a uma corrida de velocidade. Ganha o mais veloz. Aquele capaz de entregar notícia ao consumidor, da maneira mais rápida possível, e ao menor custo possível. A se acreditar nessas premissas, a crise é inevitável, presente, tangível.

Outra maneira de ver os fatos é reconhecer que a introdução e disponibilidade da mídia digital levam ao aumento de oferta de notícias em tempo real. Portanto, o acesso à informação propriamente dita não é mais limitação para o consumidor.

Por outro lado, o volume e a fragmentação dessa oferta inicia um processo de transformação do negócio de notícias na oferta de commodities com baixo grau de diferenciação. Portanto, consome notícia, não mais tem dificuldade em encontrá-la em tempo real. Mas tem enorme dificuldade em selecionar as melhores fontes e determinar sua credibilidade.

Se essas premissas são verdadeiras, a consequência é que o valor dos veículos de mídia se deslocou da simples oferta de noticias, para sua organização e credibilidade da fonte. Nesse universo, o valor cada vez mais se concentra na marca do veículo como garantia de qualidade e na maneira com que ele ajuda a organizar e analisar os fatos.

Os fatores críticos de sucesso parecem ter se deslocado do controle ao acesso dos fatos para sua análise, empacotamento e organização. Não muito distante dos valores iniciais do jornalismo, em que reputação e credibilidade são fundamentais.

Na média, as mudanças não representam necessariamente o fim melancólico de uma geração de veículos. Podem, sim, representar sua renovação. Dependendo, claro, de como e quem calcula esta média.

Elton Simoes (ca.linkedin.com/in/eltonsimoes/) é profissional com larga experiência nas áreas telecomunicações, mídia e entretenimento no Brasil, na Europa, nos EUA, no Canadá e na América Latina. Atualmente atua como consultor, árbitro e mediador, baseado em Vancouver, Canadá
 

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