Geraldo Leite
22 de maio de 2012 - 11h20
Tenho me intrigado com a nossa identidade.
Me explico. Soy latino-americano e muito me enganam.
Tirei duas semanas de férias na Europa e sempre, por mais que exista uma briguinha e competitividade entre as nações, fica na cara que lá são todos europeus.
Falam línguas diferentes, tem hábitos e culturas diferentes, mas trocam muitas coisas entre si: dinheiro (aliás, já não “trocam” mais), transporte (trens), shows / exposições/ circuitos culturais e até passeatas ou protestos.
Uma coisa que trocam e muito, são os conteúdos em broadcasting. A gente consegue ver programas na TV em pelo menos umas 20 línguas diferentes, vindos dos mais diferentes cantos. Falo das centenas de canais que assisti na Sky de lá. Aliás, a “rodada” de canais, como se supõe, demora um tempão.
Na Itália e na Turquia onde eu estava, deviam ter pelo menos uns 30 canais locais, mais uns 150 de outros países. Além dos que nós já conhecemos na TV por Assinatura, entravam também canais dos outros países europeus (Rep. Checa, Romenia, Hungria, Áustria, Eslováquia, etc), como também China (todos estatais), Rússia (uns três privados), Malásia, Coréia, Japão, Austrália,… isso ainda sem contar os canais de pelo menos uns 5 países africanos.
Da América Latina, nada. Como comunicação, como presença, de fato, parece que somos menos relevantes que todos. Não temos guerra, ficamos no nosso mundinho, daí, pra que perder tempo com a gente?
Aqui nós recebemos os canais públicos do circuito “Elisabeth Arden” (Inglaterra, França, Itália, Alemanha + Espanha e Portugal), da Ásia temos canais do Japão, Coréia e China e mais um enorme batalhão de canais por assinatura americanos (contei, entre os principais, quase 60! canais diferentes – todos privados). E também aqui, pasme, nada de outros canais latinos, nossos vizinhos.
Isto é, para assistir o que os nossos “hermanos” fazem, saber o que eles pensam e como vivem – para pegar o sinal de um país aqui do lado, como a Argentina, o Uruguai, o Chile,… só viajando para lá. Sendo que lá eles também não tem acesso aos nossos canais e conteúdos.
Não é só a língua que nos separa, mas a tecnologia, a disponibilidade de sinal de satélite. É como se tudo fosse feito para não falarmos, não enxergarmos, não nos integrarmos aos nossos vizinhos.
Vejo isso em vários níveis e até gostei da nova paginação gráfica do Jornal Nacional quando falam do tempo, pois agora dá pra deduzir de onde vem a frente fria e não só descobrirmos do dia pra noite que o frio chegou a Porto Alegre…
Esse Mercosul que tanto se fala, que como um gigante adormecido, é sempre o nosso destino, não poderia ter entre os seus objetivos nos aproximarmos enquanto produção cultural? O que precisa pra mudar? É um novo satélite? É virá-lo mais um pouquinho?
Que tal começarmos por trocar programas de cada lado? E olha que se não der pra mandar por satélite e se não for muito pesado, eu até que ajudo a carregar umas fitinhas…
Geraldo Leite está à frente da Singular, Arquitetura de Mídia
Compartilhe
Veja também
-
Prefeitura de São Paulo interrompe projeto do “Largo da Batata Ruffles”
Administração Municipal avaliou que a Comissão de Proteção à Paisagem Urbana precisa dar um parecer sobre o projeto; PepsiCo, dona da marca, diz que parceria é de cooperação e doação e não um acordo de naming rights
-
Natal e panetones: como as marcas buscam diferenciação?
Em meio a um mercado amplo, marcas como Cacau Show, Bauducco e Dengo investem no equilíbrio entre tradição e inovação, criação de novos momentos de consumo, conexão com novas gerações, entre outros
-
-
-