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Mídia

Os desafios de se tornar youtuber profissional

Pablo Peixoto, um dos primeiros produtores de conteúdo na internet a ter um programa na TV, fala sobre a busca por maior qualidade e audiência desses influenciadores


30 de agosto de 2016 - 16h02

quatro coisas

Pablo Peixoto, criador do canal Qu4tro Coisas

Agências especializadas em youtubers? Métricas específicas para medir o alcance de um canal? Padronização de preço para influenciadores? Há alguns anos, essas demandas não combinavam muito com o mundo dos produtores de conteúdo da internet que, por um tempo, tiveram que lidar com a imagem de “despreparo e amadorismo”. No entanto, a situação mudou e o que não falta neste momento do mercado é maturidade para os chamados influenciadores, haja vista a quantidade de empresas especializadas.

Essa profissionalização também traz uma discussão sobre excessos e saturação com tantos influenciadores extrapolando as fronteiras do YouTube e indo para TV, álbuns de figurinhas e reality’s. Para Pablo Peixoto, criador do canal Qu4tro Coisas e um dos primeiros youtubers a ter um formato na TV, no canal PlayTV, ainda existe espaço para expansão. “O movimento que eu vejo agora é o de profissionalização, assim como aconteceu com os probloggers nos anos 2000, os youtubers dos anos 10 estão se organizando para oferecer plataformas mais confiáveis e dinâmicas para os clientes”. Ao Meio & Mensagem, Peixoto fala sobre audiência, qualidade, formatos e relação com as marcas. 

Saturou?
Ainda está crescendo, vai crescer mais. O movimento que eu vejo agora é o de profissionalização, assim como aconteceu com os probloggers nos anos 2000 os youtubers dos anos 10 estão se organizando para oferecer plataformas mais confiáveis e dinâmicas para os clientes. Ultimamente, o YouTube vem diminuindo a participação em adsense, muitos criadores estão se queixando que as visualizações não pagam como antes o que vai fazendo muitos se voltarem mais para as agências, buscando atrair anúncios para seus vídeos, através de product placement e branded content.

Menos inscritos, mais qualidade
Não chega a ser uma tendência, é mais uma mudança de paradigma, a publicidade viveu muitos anos na lógica do mainstream: mais audiência igual a mais retorno. Na TV aberta é assim, porém a internet funciona diferente e quem aposta no volume perde, pois dá tiro de canhão em mosca. Todavia, o mais difícil nessa nova realidade é mensurar esse retorno, que é qualitativo e não quantitativo. É muito difícil colocar num relatório o resultado de uma campanha de social media, que é feita para criar relacionamentos, valor e boa vontade, não cliques.

Agradar ao anunciante
Eu trabalhei em agência durante muitos anos, faço consultorias e participo da elaboração de campanhas fazendo justamente essa ponte entre prática, tática e máquina. Uma das maiores dificuldades que eu via em anunciar em um vlog, era quando o formato era completamente estéril para inserções publicitárias. A solução era parar o que estava sendo dito para fazer o spot publicitário, uma forma bastante rudimentar de se comunicar em um meio informal como a internet. Por isso pensei em um formato que fosse publicitário, um quadro onde eu contaria histórias, faria piadas e falaria curiosidades partindo de um produto, que poderia ser ou não anunciado. No Qu4tro Coisas eu escolho um tema e mostro uma coisa velha (uma raridade ou antiguidade); uma coisa ruim (geralmente uma piada com um produto bizarro relacionado ao tema, com cuidado para não constranger o anunciante); uma coisa boa (Que muitas vezes é patrocinado por lojas) e uma coisa nova ( um lançamento de mercado, que geralmente é patrocinado por produtos). Assim, o público já aceitou a brincadeira, quando vem o temido “patrocinador” ele não consegue perceber a diferença, pois entende a lógica. Não causa estranhamento, pois é orgânico. É o oposto de “Vou parar de falar dos problemas que tenho na escola para falar de lamina de barbear”

Base sólida
Tempo, confiança e presença. Primeiro é tempo: reunir, amadurecer e gerenciar sua própria comunidade é algo que necessita de muita paciência e atenção. Segundo, confiança, você precisa de integridade, saber o que está falando e construir uma reputação para que a base confie no que é dito. Terceiro é presença, você precisa estar com conteúdo novo em uma periodicidade cada vez mais alta, se você fica um mês sem vídeos novos o seu público “troca de canal” e o trabalho anda pra trás. É onde eu uso o mantra “Just Keep Uploading”, se você quer conquistar o público e criar base de fãs, acelera, que ninguém vai parar pra te esperar.

Glamour versus profissionalismo
Como toda produção artística, existe o glamour do sucesso, vemos Youtubers de sucesso exibindo seus milhões de assinantes, seu estilo de vida descolado, seus amigos jovens e bonitos, isso tudo cria uma aura, um senso de urgência no youtuber iniciante. Se não for isso, é fracasso.Ele se espelha no ídolo e se não estiver no nível dele em um mês, acha que falhou. É como se eu começasse a cantar e quisesse que o público me reconhecesse como o novo Roberto Carlos em seis meses. Daí meu primeiro show fica vazio, o segundo também, o terceiro, e eu desisto ali. O garoto da tal geração Y cresceu achando que era só se expor que um dia seria descoberto e todos iriam perceber o que ele sempre soube, que ele era o máximo. Mas para a imensa maioria não funciona assim, trabalhar para conquistar as coisas não parece lógico em um tempo onde celebridades aparecem sem merecimento. Eu pessoalmente prefiro o prestígio ao sucesso. Ser reconhecido por fazer um bom trabalho é muito melhor que ser reconhecido por ser famoso.

Da internet para a TV
Existem muitos, porém o que mais se ver é a TV comprar a personalidade, não o produto. Pega um Youtuber famoso, cria um formato (que geralmente não tem nada a ver com ele, criando um desconforto geral) e coloca no ar. Isso pra mim é um erro crasso. É algo que a Globo cansou de fazer nos anos 90 com Vjs da MTV e nunca dava certo. No meu caso, o Qu4tro Coisas foi um programa pensado para publicidade, mas também pensado para TV, eu sou formado em comunicação e o modelo TV era muito natural pra mim. Criar o roteiro em formato de blocos foi natural. Por isso, fui o primeiro canal do youtube a ser transferido exatamente do jeito que era na internet para a TV, isso facilitou muito. Hoje tem outros, o Manual do Mundo é um exemplo.

Branded Content
Eu não gosto do termo febre, pois parece que é um fenômeno, quando na verdade é um amadurecimento, não tem mais volta, o branded content não é um modismo, é tática. Como disse, vem sendo melhor explorado, até pelo amadurecimento dos próprios canais como empresas. Porém, ainda esbarra na falta de informalidade das marcas, que por questões de imagem, ou mesmo jurídicas (o que é justo) tomam posições conservadoras que engessam o que as “novas mídias” (um termo que já ficou velho) tem de melhor a oferecer, que é o cotidiano, o informal e a espontâneo.

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