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“A TV não expressa a diversidade brasileira”

Joyce Ribeiro, nova âncora do Jornal da Cultura, fala sobre preconceito, representatividade da mulher negra e interatividade em conteúdo jornalístico para televisão


2 de abril de 2018 - 9h50

A partir desta segunda-feira, 2, a jornalista Joyce Ribeiro assume a bancada do Jornal da Cultura, da rede de televisão da Fundação Padre Anchieta. Pós-graduada em economia, atuou por 12 anos nos telejornais das manhãs no SBT e deixou a emissora no começo do ano passado. Ao longo desse período, conduziu um trabalho de pesquisa sobre a estética negra no Brasil e lançou o livro Deixa Enrolar: A História dos Cachos e Crespos no Brasil, lançado pela editora DBA.

Em entrevista ao Meio & Mensagem, ela falou sobre a relação das mulheres negras com a própria aparência e o processo de adaptação das marcas aos movimentos de auto-afirmação.

“Hoje há essa preocupação das empresas em atender ao específico, e eu tenho a possibilidade de comprar produtos que foram feitos para pessoas como eu, o que transforma toda uma economia e padrão de comportamento. As empresas descobriram isso e vão capitalizar em torno desse processo. Mas, historicamente, sempre foi pouco inteligente excluir um grupo gigantesco por não querer olhar para esse público, a ponto de simplesmente as empresas escolherem não ganhar dinheiro com ele”, critica.

Créditos: divulgação

“Essa descoberta da mulher negra, de que ela tem voz e é dona das suas vontades, inclusive para mandar no seu cabelo, é muito recente e importante e tem desdobramentos econômicos”, acrescenta. Além de Deixa Enrolar, Joyce também é autora do livro Chica da Silva: Romance de uma Vida, lançado pela editora Planeta.

Sobre o fato de ser uma das poucas mulheres negras na posição de âncora, ainda mais no principal jornal de uma emissora, Joyce acredita ocupar um papel importante para abrir portas para outras pessoas e gerar conscientização. “Por mais que se tente minimizar, o preconceito ainda é muito presente e limitador. Posso citar uma lista de profissionais brilhantes que ocupariam essa posição em todas as emissoras de forma maravilhosa, pois são extremamente competentes. A TV é uma expressão da nossa sociedade como um todo, a nossa sociedade é diversa e esses produtos de televisão não expressam a diversidade”, afirma. Ela é a favor de políticas de inserção em redações e empresas, de forma a trazer profissionais negros para empregos melhores e auxiliar na ascensão e progressão de suas carreiras.

A reinvenção do repórter de TV
O consumo de notícias em múltiplas plataformas pressiona emissoras e profissionais de TV a reinventar seus processos e formas de interação, algo que Joyce tenta incorporar a seu trabalho. No Jornal da Cultura, ela vai receber dois comentaristas de áreas distintas para comentar as notícias do dia.

“É uma carga extra de informação para quem quer ir além do noticiário e aprender mais. Os comentaristas serão filósofos, historiadores e professores que trazem o olhar deles para complementar as informações. É um formato que vai priorizar o debate e falar sobre a notícia de forma mais abrangente do que a simples informação do dia”, disse a nova âncora.

Joyce conta que o convite para comandar a bancada foi feito pelo próprio Marcos Mendonça, presidente da TV Cultura. Antes da jornalista, a bancada era comandada pelo âncora Willian Corrêa. “Hoje vemos jornais de bancada sendo transmitidos junto a enquetes com internautas, e ali mesmo posso acompanhar as respostas e interagir com as pessoas pelo Twitter. Meu espectador pode estar acompanhando pelo smartphone ou notebook. Já vejo as equipes tentando abastecer diferentes canais nesse sentido, e explorar essa junção de plataformas da melhor forma”, diz Joyce sobre o processo de reformulação do fazer jornalístico em televisão.

De olho no movimento de influenciadores digitais, Joyce criou em 2015 um programa de entrevistas no YouTube, desativado no momento. “Tenho outros planejamentos de produções independentes que em algum momento podem se mesclar com meu trabalho em TV. Acredito nesse novo caminho de produção e invisto nisso. Hoje os acordos são muito mais abertos, e assim consigo definir aos poucos esse intercâmbio de produções”, finaliza.

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