Diretor de O Lado Bom de Ser Traída: “filmes precisam ter público”
Diego Freitas celebra o alcance da produção na Netflix, o papel do streaming como amplificador do audiovisual brasileiro e defende que obras precisam ter apelo para as massas
Diretor de O Lado Bom de Ser Traída: “filmes precisam ter público”
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Bárbara Sacchitiello
28 de novembro de 2023 - 8h29
Há pouco mais de um mês (precisamente no dia 25 de outubro), a Netflix fez a estreia global de O Lado Bom de Ser Traída, o primeiro filme brasileiro do gênero conhecido como thriller erótico. A obra era o segundo longa-metragem do diretor Diego Freitas criado para a plataforma.
Um ano antes, em 2022, Freitas havia dirigido Depois do Universo, sua primeira produção para a gigante do streaming, que iria angariar, um mês depois, o título de melhor estreia brasileira da história da Netflix, com mais de 51 milhões de horas assistidas no primeiro mês de exibição.
Isso, portanto, gerou expectativas para o segundo longa do diretor, que acreditava existir um público ansioso por filmes aos moldes da trilogia Cinquenta Tons de Cinza, que levou milhões de pessoas aos cinemas e para a frente dos streamings. “Procurei fazer melhor do que os filmes gringos”, confessa o diretor, destacando que, em vez da imagem do homem poderoso e manipulador, sua obra preferiu contar a história do ponto de vista feminino, na perspectiva da personagem Babi, interpretada pela atriz Giovanna Lancellotti. “Tudo o que é feito para a mulher ainda é carregado de preconceitos”, acredita.
Sua aposta parece ter dado certo. Assim como seu primeiro filme, O Lado Bom de Ser Traída também estreou chamando a atenção, ficando entre as produções mais assistidas em 100 diferentes países logo no dia da estreia.
https://www.youtube.com/watch?v=hqFVSHWIE14
O segredo para isso, segundo ele, é conhecer profundamente o público-alvo para o qual o filme se dirige. “Não adianta eu fazer um filme apenas para o meu umbigo. Precisamos de filmes que o público queira vez, que tenha a capacidade de espalhar, inclusive porque esses filmes acabam viabilizando outros projetos autorais”, diz.
Nesta entrevista, o diretor fala sobre a importância dos streamings para a visibilidade do cinema brasileiro, comenta sobre as técnicas para cativar a atenção do público em um cenário de tantas opções de entretenimento e conta como sua origem humilde acabou dando base ao tipo de filme que gosta de produzir – e assistir.
“Quando fui convidado pela Netflix para fazer este filme tinha acabado de sair de Depois do Universo (longa-metragem de 2022, protagonizado por Giulia Be), que foi um divisor de águas na minha vida. Hoje em dia, ele é o maior filme da Netflix Brasil, tendo registrado mais de 51 milhões de horas assistidas na estreia e ficado no top das 10 produções mais assistidas em 47 países. E é tão bom fazer um filme brasileiro que tenha esse poder de “viajar”. Então, após ele, entrei de cabeça no projeto de O Lado Bom de Ser Traída, o que era um grande desafio por vir de um livro de literatura popular (o livro homônimo da autora Sue Hacker) e por ser aquilo que é considerado como literatura hot. Por ser focado no publico feminino, é algo cercado de preconceitos. Mas sabíamos que existe um publico muito grande, sedento por esse tipo de história e de produção, que consome conteúdos estrangeiros desse gênero, como a trilogia de Cinquenta Tons de Cinza. E não tínhamos ainda um representante brasileiro com esse tema. O filme estreou em 25 de outubro e foi, até agora, a melhor estreia de um filme brasileiro. No dia da estreia, chegamos ao topo 10 de cem países, sendo que em mais de 30 países ficamos em primeiro lugar. Chegamos a ficar em terceiro lugar nos Estados Unidos. Claro, sempre fazemos para que seja um sucesso, mas não esperava essa dimensão.”
“Procurei fazer melhor do que os filmes gringos (risos). Nosso filme prioriza a mulher. Geralmente, esse tipo de filme traz a figura de um cara abusivo ou machista, que vai prender ou sequestrar a mulher, enquanto nosso filme foca no prazer feminino e isso está em todas as cenas. É uma leitura feminina sobre o prazer, o sexo e sobre ela se conhecer como mulher. Em segundo lugar, nos preocupamos em ter uma estética muito avançada e sofisticada, com cores fortes. Nos inspiramos em diversas produções, mas temos nossa brasilidade, a nossa cultura. E acho que também temos muita coragem de não ter medo de fazer esse filme. Tudo o que é feito para a mulher é cheio de preconceito. Tudo. Se há, por exemplo, um filme como John Wick, com pouca história e muitas cenas de ação, está tudo bem, todo mundo gosta. Eu também gosto. Mas se fizermos a mesma coisa, colocando por exemplo o sexo como cenas de ação, aí já começa o problema. Nossa sociedade é pensada no homem, no prazer do homem e como ele quer ver a diversão. E quando a mulher usa a nudez como poder, gera mais preconceito ainda.”
“Essa grande repercussão de O Lado Bom de Ser Traída é muito importante para a indústria nacional, porque um filme precisa ter público. Não adianta eu fazer um filme apenas para o meu umbigo. Precisamos de filmes que o público queira ver, que tenha a capacidade de espalhar, inclusive porque esses filmes acabam viabilizando outros projetos autorais. Estou muito feliz de estar nesse lugar do mercado, de fazer filmes para as massas.”
Netflix cria premiação para filme brasileiro
“As plataformas vieram revolucionar e dar novo fôlego ao cinema brasileiro. O cinema nacional sempre foi vinculado ao poder público, mas acontece que os presidentes mudam e eles também podem mudar de ideia. Se quisermos ter uma indústria sustentável não podemos depender apenas do incentivo público. Claro, precisamos desse incentivo pois não são todos os projetos que têm potencial de retorno, mas é importante que exista dinheiro privado no cinema. É assim nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Índia, etc. E as plataformas de streaming vieram para resolver um problema de distribuição. Porque, muitas vezes, até era possível fazer um filme comercial, mas havia dificuldade em vendê-lo. Agora, no caso de O Lado Bom de Ser Traída, terminamos de gravar em janeiro e em outubro ele estava disponível em 190 países. Agora, temos a chance de competir de igual para a igual. O custo-benefício de fazer filmes no Brasil acaba valendo muito a pena para essas plataformas e, quanto mais dinheiro elas colocam aqui, mais abrem oportunidades para que atores, roteiristas e diretoras trabalhem. Temos qualidade técnica muito alta e precisamos de oportunidade para mostrar nosso talento.”
“Os realizadores precisam ter um público-alvo muito claro. Muitas vezes, o que sinto, por parte dos realizadores, é uma desconexão entre aquilo que ele quer fazer com o que o público quer ver. É preciso encontrar esse caminho. Claro que os filmes acabam tendo muito de nós. Depois do Universo, por exemplo, tem várias de minhas experiências pessoais e coisas que vivi. Mas conto também com várias pesquisas de mercado e estudos para poder levar um conteúdo de qualidade para aquelas pessoas que trabalham o dia todo e, ao chegar em casa, querem assistir a um filme legal. O meu “gol” é ver as pessoas deixando de ver um filme norte-americano para assistir a um brasileiro.
“Acho que esse entendimento do que as pessoas querem tem muito a ver com a minha história. Geralmente, quem faz cinema no Brasil é filho ou neto de milionário e eu não venho da elite intelectual brasileira. Meu pai é um cara que veio de Pernambuco, em 1950, em um pau de arara, e minha mãe era empregada doméstica e costureira. Eu vim do povo e faço filmes para essas pessoas. Vim de família evangélica, sou gay, tive que sair de casa. Vivi muitas coisas na minha vida e simplesmente olho para o lado, para os meus iguais. Muitas pessoas, que viajam, falam outras línguas desde muito cedo, as vezes têm uma desconexão com as massas. Elas fazem filme sobre pobre com um olhar de zoológico. Acho que meu diferencial é não tratar as pessoas assim. Sei quem são as pessoas reais e faço filme para elas. Além disso, procuro chamar a atenção, seja para o bem ou para o mal, com cores fortes e com uma premissa muito clara.”
“Hoje as pessoas assistem a filmes com o TikTok aberto. Por isso, é preciso chamar a atenção para que a pessoa não queira olhar o celular ou o computador e queira assistir ao seu filme. Há várias técnicas para isso. É necessário ter uma premissa clara, entregar sobre o que o filme é nos primeiros minutos. Essas especificidades vamos aprendendo com o tempo e com a prática, mas também com nosso talento e vivência.”
“Sinto uma tendência de as narrativas serem mais curtas porque as pessoas estão com cada vez menos paciência. Vemos isso não só no cinema, mas em todas as mídias. Mas isso não é só sobre o tempo. Quantas vezes, por exemplo, estamos vendo o TikTok e percebemos que estamos ali há três horas? Daria para assistir a um filme nesse tempo. Então, mais do que na duração, é preciso pensar em como o filme está apresentando suas informações. Se vou entregar um filme de suspense erótico, como é O Lado Bom de Ser Traída, preciso entregar suspense e erotismo, preciso de uma protagonista que viver alguma coisa, conhecer alguém, etc. No streaming, diferentemente de quando a pessoa compra um ingresso para o cinema, ela tem a facilidade de abandonar o filme a qualquer momento. Para cada formato existe um tipo de linguagem. O streaming precisa ser mais direto, porque o público tem outras expectativas. Sei exatamente quem é o público de O Lado Bom de Ser Traída. Precisamos entender o código dessas pessoas e saber o que elas consomem e isso só é possível com muito estudo. Mas tudo isso não basta, afinal, não se faz um filme só com algoritmo. É preciso colocar uma ideia, um talento e algo que tenha um pouco da vulnerabilidade do ator. E a coisa mais interessante é falar de coisas específicas, mas tratando de temas que sejam universais.”
“Já estou fazendo meu próximo filme, estou com dois projetos simultâneos. Estou muito empolgado porque é um tema que é muito importante para mim e ainda não posso revelar por conta de cláusulas. E também quero fazer trabalho para outras mídias. Não me vejo longe de fazer publicidade, de conteúdo para marcas. Quero ter a oportunidade de circular em diferentes frentes do audiovisual. Já fiz muitos clipes, muitos projetos e gosto de contar histórias em diferentes formatos.”
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