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Geórgia Araújo: “A propriedade está fora de moda”

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Geórgia Araújo: “A propriedade está fora de moda”

CEO da produtora Coração da Selva e idealizadora do CineHub reflete sobre momento de convergência no mercado do audiovisual


26 de fevereiro de 2020 - 8h00

No mesmo ano em que o audiovisual brasileiro vivenciou um impasse com sanções e incertezas sobre mudanças impostas pelo governo à Ancine, principal órgão do cinema no País, foi oficializado o lançamento do CineHub, um coworking para profissionais e empresas do audiovisual. Idealizado por Geórgia Costa Araújo, CEO da produtora Coração da Selva, o espaço, localizado no centro histórico de São Paulo, retrata a ideia da executiva sobre o futuro do audiovisual, em que uma maior movimentação dos players para coproduções vem sanar a falta de incentivo público e  estimular a  competitividade entre distribuidores.

 

(Crédito: Denise Tadei)

“Sempre fui da opinião de que o bom negócio vem da convergência. Tenho até uma anedota para este momento. Os 18 anos de existência da Ancine representam o nascimento da produção audiovisual e o tempo que ela passou vivendo na casa dos pais. Aí você faz 18 anos e, no cenário em que nos encontramos, somos mandados para rua. Nesse contexto, uns vão casar, outros vão morar em república. Então, acho que o nosso momento, agora é de cooperação. 

Ao Meio & Mensagem, Geórgia opinou sobre o momento do setor no Brasil e suas perspectivas para o futuro da indústria.

Como se daria essa convergência na prática?

Na Expocine, fiz um painel cujo tema era “O futuro da produção: co-execução, colaboração, cocriação e coworking”. Acho que o nosso momento é esse, de cooperação, e acredito que aqui no Brasil já existem produtoras capazes de fazer obras que vão além da nossa imaginação. A produtora já existe, mas não é nenhuma dessas que conhecemos. É aquela produtora que pode ser formada na hora, ao juntar as ideias criativas de um produtor, como Rodrigo Teixeira com a estrutura de produção e finalização da O2, e estrutura de administrativa da Coração da Selva, por exemplo. Houve uma época em que o produtor tinha que dominar todas as áreas de atuação, mas hoje já estamos no lugar de escolher parcerias em funções de especialidades para acelerar os processos de produção.

Onde há espaço para o setor caminhar para isso?

Nós temos apego a conceitos totalmente fora de moda como a propriedade. Quantos hotéis tem o Airbnb? Quantos carros tem a Uber? Nenhum. Ninguém quer saber mais de propriedade para ser uma empresa relevante. Eu quero ter essa sala só pra gente? Não. Compartilhar e usufruir é muito mais interessante do que ter uma propriedade. Assim como as produtoras não precisam mais ficar cada uma em seu sobrado próprio, elas não precisam ter esse apego grande às obras. Passamos boa parte do nosso tempo, enquanto produtoras, discutindo se a propriedade da obra tem que pertencer a qual produtora e acredito que o que dá valor ao nosso trabalho não é a propriedade da obra e sim o valor do talento.

Quão diferente está o audiovisual da época em que você começou para hoje?

O audiovisual sempre foi muito importante. Quando estava na faculdade, no início da década de 1990, o audiovisual brasileiro era um sonho impossível mesmo porque a Embrafilme tinha acabado. Quando Carla Camurati dirigiu  Carlota Joaquina, Princesa do Brasil (1995) — filme marco da retomada dos investimentos públicos no cinema brasileiro — e aconteceu toda aquela movimentação, a gente chorava. Nunca imaginamos que o audiovisual brasileiro pudesse chegar realmente neste lugar que está hoje. Fico encantada ao ver o quanto estamos engajados na atividade que está ocupando o centro da sociedade global. E o setor tende a acelerar muito mais. É uma força muito grande: saímos do zero há cerca de 20 anos atrás e chegarmos onde chegamos.

 

Você mencionou que o audiovisual é uma atividade que está ocupando o centro da sociedade. Qual é o tamanho do setor?

Para dar um exemplo: estava assistindo um episódio do Roda Viva com o João Dória (governador de São Paulo) há alguns meses e ele estava falando do impacto de um investimento de bilhões da indústria automobilística na geração de emprego no Estado. Eram números mais ou menos assim: o investimento de R$ 1 bilhão gerava 400 empregos. Eu achei uma conta interessante e decidi tentar replicá-la no audiovisual. Quando investimos R$1 bilhão no audiovisual, a gente gera, por baixo, de 5 a 10 vezes mais empregos do que na indústria automobilística, porque quando você faz uma fábrica, você vai pegar esse bilhão para construção, comprar maquinário, matéria-prima e empregar para fazer carros. O nosso chão de fábrica é a cidade, ou seja, não precisa gastar nada do nosso bilhão para construir paredes. Então quase todo esse investimento vai direto geração de empregos.

**Crédito da imagem no topo: Timothy Eberly/Unsplash

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