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Vitórias, matemática e regra dos 3 anos: as lições de Magic Johnson

Um dos maiores atletas da história da NBA – e, hoje, proprietário de negócios no mundo esportivo – reforçou que liderar é ajudar as pessoas a se desenvolverem


15 de janeiro de 2024 - 15h53

Magic Johnson

Magic Johnson foi o grande destaque da manhã desta segunda-feira, 15, em conversa com John Furner, CEO da NRF (Crédito: Bárbara Sacchitiello)

A Retail’s Big Show, principal evento de varejo do mundo, ficou pequena na manhã desta segunda-feira, 15, para o ex-astro da NBA e, atualmente, empresário, Earvin “Magic” Johnson. Literalmente. Tanto que a lenda do basquete, logo no início, desistiu de permanecer sentado na poltrona destinada aos palestrantes e preferiu andar de um lado para o outro do palco, com seus 2,06 metros de altura, de um jeito livre e ocupando todos os espaços, tal qual como nos tempos de quadras no Los Angeles Lakers. Algo natural para aqueles habituados a ocupar o centro dos holofotes.

A presença de Johnson neste dia, aliás, já tinha um aspecto interessante. Nesta segunda-feira, 15, os Estados Unidos celebram o dia de Martin Luther King Jr., um dos maiores ativistas por direitos raciais da História. Embora o astro do esporte tenha sido, por vezes, criticado ao longo da carreira por não ser uma voz ativa em prol da inclusão racial, é incontestável sua importância para a representatividade dos negros no basquete e para a própria configuração da NBA como um território valioso e pertencente a este grupo.

Tanto é que, antes de começar a falar das vitórias e derrotas de sua carreira, e também de contar um pouco sobre sua jornada de empresário à frente da Magic Johnson Enterprises, Magic Johson reverenciou Luther King Jr. e pessoas que, como ele, pavimentaram caminhos para que ele pudesse estar no centro daquele e de outros palcos.

“É preciso entender, sempre, como chegamos onde estamos. Somos abençoados por estar aqui e atuando de maneiras tão diferentes, mas se isso acontece é pelo trabalho de tantos de nós que, antes, não desistiram e se sacrificaram para que, coletivamente, pudéssemos ter as oportunidades que temos”, declarou.

Como ganhar um Super Bowl?

Embora a plateia esperasse que um dos maiores jogadores da história da NBA começasse a falar sobre basquete, Johnson decidiu começar pelo esporte mais popular do país, o futebol americano. Mais especificamente sobre o Washington Commanders, time da NFL do qual ele se tornou coproprietário em junho de 2023, em uma transação de US$ 6,05 bilhões – o time mudou seu nome em 2020, erradicando o nome Redskins, termo considerado racista contra os povos indígenas nos Estados Unidos.

“Tem sido uma grandiosa experiência para mim”, resumiu o atleta, acrescentando que seu principal trabalho tem sido tentar mudar a cultura de uma equipe que, nos últimos anos, não esteve muito acostumada a vencer. “Os fãs estão animados a respeito dos novos líderes e técnicos e temos dinheiro para investir. Por isso, acredito que realmente podemos dar uma guinada na equipe. Mas, vocês sabem, isso exige muita disciplina e temos que dar um passo de cada vez”, pontou.

Ainda assim, ele deixou claro que o apetite por títulos continua alto. “Em todas as equipes que esportivas em que me envolvi eu conquistei campeonatos. Então, quero também o troféu do Super Bowl”, garantiu à plateia.

Além dos Lakers, que defendeu nas quadras e como executivo fora, e do Washington Commanders, Johnson também é envolvido com outras franquias – ele tem participação no time de baseball Los Angeles Dodgers, no Los Angeles Sparks (da WNBA, de basquete feminino), e o LAFC, da Major League Soccer.

Liderar é ajudar pessoas

O CEO do Walmart nos Estados Unidos e também CEO da NRF, John Furner, conduziu a conversa com Magic Johnson e perguntou sobre os paralelos entre a liderança e esporte. O atleta e empresário disse que, sejam times ou grandes varejistas, todos precisam de líderes, equipes e propósito. Mas, destacou que acredita que treinadores, estejam eles nas quadras ou nas salas de grandes empresas, têm a missão de auxiliar as pessoas a vencer.

“Quero, de alguma forma, poder ajudar as pessoas a vencer, a seguirem adiante. Sempre tive esse pensamento no esporte, tenho com os times dos quais agora sou dono e também tenho para as pessoas que trabalham comigo. Qualquer pessoa pode ter o sonho de ter seu negócio, de empreender e quero, de alguma forma, pode ajudá-la nisso”, declarou.

O segredo está na matemática

Além do talento esportivo, Johson demonstrou também ser um amante da matemática. Tudo, para ele, são números. Desde as vitórias que considera que seus times precisam garantir na temporada, até a pontuação que determinado jogador faz para assegurar-se na posição, passando também pelos dólares que devem – ou não – ser investidos em determinado projeto.

Com a plateia, o empresário dividiu uma passagem recente de uma de suas filhas que, com cerca de 20 anos de idade, o procurou pedindo ajuda para abrir seu próprio negócio. Ele disse que ficou animado com a intenção da jovem e pediu um plano de negócio, ouvindo, como resposta, que ela ainda não tinha nada muito definido, mas que precisava apenas do dinheiro dele para começar a empreitada. “Disse a ela que não, que ela fosse pensar em um plano, nos custos de tudo, e que voltasse com algo mais concreto. Ela foi reclamar com a minha esposa, dizendo que o pai não queria apoiá-la”, contou, arrancando risadas da plateia.

Por fim, a cobrança do pai Johnson estava certa. Ele disse que a filha estruturou o plano, mostrou os valores necessários e suas aplicações e deu início ao seu projeto. E ainda o agradeceu, tempos depois, pela disciplina ao compartilhar que alguns de seus amigos, que apenas receberam dinheiro dos pais para abrir seus negócios, quebraram pouco tempo depois.

“Sou sempre guiado por números. Sempre olho não apenas para o que os negócios geraram, mas para as projeções, para o que podem gerar. No fim das contas, é tudo questão de números”, disse.

A regra dos 3 anos

Além de recordes, troféus e medalhas olímpicas, outro elemento presente na carreira e trajetória de Magic Johnson sempre foi a mudança. Uma delas, e talvez a mais marcante para o grande público, foi quando recebeu o diagnóstico do HIV, no início dos anos 1990 e, em seguida, deixou as quadras de basquete.

O que parecia que seria o fim de uma carreira, na verdade foi uma pausa para um retorno histórico, que lhe rendeu outros títulos, entre eles o de campeão olímpico, de 1992. Nessa mesma década, em outra mudança de planos, decidiu usar seu talento esportivo no baseball.

Esses começos e recomeços foram comentados pelo ex-atleta no palco da NRF. Ele conta ter adotado um planejamento de vida de planejar sempre como e onde deseja estar nos próximos três anos.

“Acho que as pessoas deveriam fazer esse exercício de se verem nos próximos três anos. Penso que cinco, sete anos, é um tempo muito longo, mas é interessante se dar o prazo de três anos. E planejar, por exemplo, se daqui a três anos você quer ter seu próprio negócio, mudar de carreira, trabalhar para alguma empresa. Com isso, você consegue construir um plano e uma estratégia para alcançar essas metas”, contou.

Sempre é possível melhorar

Magic Johson também não escondeu a obsessão pela qualidade. Ele disse que, assim como sempre procurou ser um jogador melhor, com rendimento melhor, ele procura, hoje, ser um empresário e CEO melhor, um pai melhor, um marido melhor e uma referência melhor.

“Sou sempre guiado pela ideia de melhorar. Sempre é possível aprender. Eu sei que vou – e quero vencer – e quero muito estar perto de pessoas com o mesmo mindset”.

Um recado aos jovens

Ao falar sobre a importância de contar com mentores e pessoas que possam ajudar a abrir caminhos na elaboração de uma carreira e estratégia, Johson fez um desabafo. “Não é fácil lidar com os jovens”, admitiu, em tom de brincadeira.

Segundo ele, é preciso ajudar a preparar as novas gerações para os desafios do futuro e, para isso, é preciso que os membros da geração Z e alpha tenham uma relação diferente em relação às críticas.

Para isso, Johnson foi didático: chamou uma jovem que estava na plateia e pediu a ela que fosse porta-voz de um recado a todos os demais jovens. “Por favor, diga aos jovens que não somos monstros. Que quando damos conselhos a eles, é apenas porque não queremos que eles passem por dificuldades que nós passamos e que não queremos que eles sofram”, disse. A garota prometeu passar a mensagem adiante – algo que, certamente, também será feito pelas milhares de pessoas que acompanharam as lições do astro na plateia

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