1 de fevereiro de 2022 - 6h00
(Crédito: Radovancev Zarko/ shutterstock)
Há uma imagem que guardo com carinho dos tempos pré-quarentena, e que, em breve, tenho certeza que voltaremos a ver com frequência: um show num estádio lotado, naquele momento em que o artista pede que seus fãs acionem a lanterna do smartphone e apontem para o palco. A dança daqueles milhares de pontos de luz, normalmente acompanhando algum hit do momento, é para mim uma das melhores representações visuais de como os smartphones se popularizaram e passaram a ser itens indispensáveis nas nossas vidas. Do simples acender da lanterna, ao uso de softwares que nos permitem trabalhar remotamente, os smartphones tornaram-se poderosas ferramentas para comunicação, produtividade e entretenimento. E, assim como os artistas, passaram a atrair uma legião de fãs, que se identificam com as marcas e enxergam nos smartphones e seus recursos um atalho para a própria expressão de suas vontades e sentimentos.
Mais do que explorar as alternativas de marketing em torno de uma base já conhecida e convertida, aproveitar essa relação entre o fã e o smartphone tornou-se um combustível para a inovação de produtos ao longo dos anos. Afinal, nada melhor do que ouvir quem naturalmente é um usuário mais ativo e conhece mais a fundo as fortalezas e necessidades de produto. Não estou falando apenas de pesquisas de satisfação, comunidades das próprias marcas, ou mesmo do monitoramento do que as comunidades de fãs estão falando nas redes sociais. Tecnologias mais recentes, com uma nova geração de sensores, softwares e o uso de inteligência artificial, permitem às empresas entenderem cada vez mais os hábitos digitais desses fãs sem que exista necessariamente uma interação direta. É possível analisar quais são os recursos mais utilizados e como eles podem ser melhores e mais eficientes. Isso tudo, importante reforçar, de forma anonimizada, garantindo a privacidade do usuário.
Juntar esses feedbacks subjetivos e objetivos obtidos a partir desta troca com os fãs da marca é a base que estamos utilizando para a criação de muitas linhas de produtos, incluindo uma linha inteira dedicada aos fãs, que chamamos de FE (sigla para Fan Edition, ou “Edição dos Fãs”, em inglês). A lógica é mais ou menos essa: lançamos nossos smartphones e tablets flagships, como chamamos aqueles produtos que reúnem o melhor em performance, design e usabilidade. Ao longo dos meses, avaliamos com nossa base de fãs quais são os recursos mais desejados para, ao fim deste processo, lançar a versão FE. O objetivo é ter a melhor experiência do público que já conhece a marca, adicionando o custo-benefício que ajuda a ampliar o target para o produto.
Essa lógica é importante para produtos pensados especialmente na Geração Z, público formado pelos nascidos a partir do fim da década de 1990. Os “elementos subjetivos” desse grupo cada vez mais relevantes de consumidores são bastante conhecidos: os “Gen Zs” são mais presentes nas redes sociais (e priorizam sobretudo as mais recentes, como TikTok e Twitch). São fãs que têm uma relação bem diferente com o ato de se expressar publicamente e até mesmo com a forma de lidar com a privacidade se compararmos a gerações anteriores. No caso do smartphone, eles o utilizam como extensão não apenas do próprio corpo, mas como uma ferramenta fundamental para expressar suas emoções. A esses aspectos comportamentais, unimos aqueles mais técnicos e objetivos, a partir da tecnologia.
Ao longo dos últimos 30 anos, diversos mercados, como o de celulares e smartphones, mostraram-se um oceano de oportunidades a ser explorado. A história mostra, por outro lado, que para manter-se na liderança as empresas precisam obrigatoriamente seguir ouvindo os anseios de seus consumidores. É essa a estratégia que move a evolução tecnológica: inovamos consistentemente em nossos produtos, atraímos consumidores, ouvimos seus anseios e os transformamos em fãs. Nada mais justo do que criar linhas de produtos sob medida para eles.
*Crédito da foto no topo: Shutterstock