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Job entregue! Job pago!

Diálogos sobre a incoerência do mercado


15 de abril de 2020 - 13h11

(Crédito: Vladwel/ iStock)

Consumidor: Olá, quero fazer um pedido.

Marca: Claro, como podemos ajudar?

Consumidor: Preciso de quatro peças do item amarelo e mais três do item vermelho. Pode selecionar os melhores que tiver e, por favor, preciso dos itens o mais rápido possível.

Marca: Perfeito, deixa comigo, você terá os melhores e o quanto antes. Eu mesmo vou selecionar. E como será o pagamento?

Consumidor: Não consigo te pagar agora, só daqui a 120 dias, pode ser?

Marca: Como assim? Esse é um estabelecimento comercial. Não posso entregar o produto agora e só receber em 120 dias! Temos funcionários, aluguel, impostos, e outras despesas para pagar. Só aceitamos pagamento no ato. Se você só tem dinheiro daqui a 120 dias, venha consumir daqui a 120 dias. Obrigado.

Por outro lado,

Marca: Olá parceiro, bom dia! Decidimos fazer um evento para lançar um novo produto ao mercado. Ele é inovador e com tecnologia diferenciada. Precisamos contratar o que existe de melhor. Tem que ser uma experiência única. A ideia é lançarmos no mês que vem. Temos que correr com este evento. Precisamos de uma proposta criativa e de orçamento em uma semana.

Agência: Uma semana é muito apertado. Precisamos de, pelo menos, dez dias úteis para fazer um bom projeto.

Marca: Infelizmente, não temos este prazo. Precisamos de uma agência parceira, pois o lançamento já está marcado para daqui a 30 dias. E, aproveitando, em seu orçamento tem que contemplar pagamento daqui a 120 dias.

Agência: Como assim? Minha agência realizará o projeto em 30 dias e só receberá em 120 dias? Quem vai pagar os fornecedores, profissionais, taxas e tudo que será contratado para o evento?

Marca: Esse é o prazo de pagamento de nossa empresa. Só pagamos em 120 dias. Para trabalhar conosco tem que aceitar. Obrigado.

Essa é a triste realidade de nosso mercado de comunicação. Existem exceções? Sim, existem! Mas grande parte das empresas praticam esse absurdo. As empresas ainda não entenderam que as agências não são instituições financeiras ou de caridade. Fazemos parte do mercado criativo. Vendemos ideias com execução.

Depois de mais de 25 anos de atuação, ainda não consigo entender o porquê de eu comprar um produto à vista, seja em dinheiro ou cartão de crédito e, quando sou contratado pela empresa desse mesmo produto, ela quer me pagar em 90 ou 120 dias? Será que algum profissional dessas empresas aceitaria receber seu salário em 90 dias? Aceito ajuda para entender.

Você deve estar se perguntando: Por que as agências aceitam esse tipo prazo? Existem inúmeras respostas e situações para essa pergunta. Sempre vai ter alguma agência que vai aceitar, seja por algum difícil momento que a leva aceitar, por portfólio criativo, ou simplesmente tem o prazer de destruir o mercado. Não existem culpados, existem omissos. Omissos pelo medo de questionar e omissos por não perceber o quanto esta prática é tóxica para uma agência. O mercado ficou viciado em péssimas práticas.

Estamos vivendo tempos difíceis devido à Covid-19. Pessoas morrendo. Empresas sem vender e demitindo. Agências sem trabalhar e demitindo. Um caos que dificilmente vamos conseguir mensurar as perdas e o impacto negativo. Quantas empresas e agências conseguirão sobreviver? E os freelancers e profissionais autônomos que são os mais afetados, quem vai ajudá-los? Ninguém sabe como e quando sairemos de tudo isso, mas é certo que, em algum momento, vamos sair.

Vamos precisar de muita união para reconstruir o Brasil. Temos que fazer a economia girar para voltarmos a vender e gerar empregos. Mas, para isso, velhas práticas comerciais deverão ser esquecidas ou revisadas. As agências precisam perder o medo de expor esse assunto. Precisamos abrir diálogos coerentes e maduros. Envolver compliance na discussão. O momento requer mudança com maturidade e responsabilidade! Gandhi disse: “Nós devemos ser a mudança que queremos ver no mundo.”

Após esta crise, seria imoral e desumano se as empresas continuarem com longos prazos de pagamento. Se vamos, de verdade, reconstruir nosso mercado, temos que ter a consciência humana e empresarial que agora todos estão no mesmo barco. Se afundar um, afundam todos!

*Crédito da foto no topo: Reprodução

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