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Turbulência paradoxal provocada pela pandemia na indústria da música afasta artistas dos palcos e plateias, mas impulsiona mercado fonográfico embalado pelos streamings e por novas vitrines, como o TikTok e os games
Turbulência paradoxal provocada pela pandemia na indústria da música afasta artistas dos palcos e plateias, mas impulsiona mercado fonográfico embalado pelos streamings e por novas vitrines, como o TikTok e os games
Desde o ano passado, o mercado global de música vivencia uma situação sui generis. Com a impossibilidade de grandes eventos e restrições mesmo para apresentações de menor porte, os artistas estão afastados dos palcos e plateias. Reação em cadeia, a multidão de profissionais que dependem desse mercado vive uma crise inédita e motiva campanhas de auxílio. Paradoxalmente, a indústria fonográfica global avançou 7,4% em 2020, o sexto ano consecutivo de crescimento, segundo o Global Music Report, da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), que calcula movimentação de US$ 21,6 bilhões. No Brasil, o salto do faturamento com músicas gravadas foi ainda maior: 24,5%. A maior alta desde 1996.
O desempenho foi impulsionado pelo streaming, cujas receitas para o mercado global de música aumentaram 18,5% no ano passado. O relatório da IFPI estimou em 443 milhões o total de usuários de contas de assinaturas pagas nos serviços de streaming no final de 2020. Se somado também o consumo de música suportado por publicidade nessas plataformas, a alta é de 20%. Com isso, o streaming movimenta US$ 13,4 bilhões e representa 62% do faturamento da indústria de músicas gravadas em todo o mundo — e suscita debates sobre a distribuição de sua arrecadação entre plataformas, gravadoras e artistas, que reivindicam para si um naco maior desse bolo. O desempenho no digital compensa para a indústria o apagão nos eventos e a música ao vivo desligada, que fizeram os valores arrecadados com direitos caírem 10% — e aqui, mais uma vez, são os músicos os mais penalizados.
Paralelamente, durante a pandemia, a música consolidou mais uma vitrine poderosa na mão do público: o TikTok. Parte considerável do conteúdo postado pelos usuários da rede social que mais cresce, especialmente entre os jovens, é embalada por hits que naquele ambiente se valem do efeito exponencial do compartilhamento. Quanto mais uma música se propaga, mais outros usuários a querem para embalar suas coreografias, correntes e desafios. Um novo estilo de consumir música, que influencia desdobramentos em outros ambientes, empurra carreiras de artistas abraçados pela plataforma e até apresenta ídolos do passado às gerações mais jovens — vide o icônico feito de levar o Fleetwood Mac ao ranking da Billboard, 40 anos depois do lançamento de Dreams. Outra frente digital em crescimento, que também abre novas fronteiras para a música, é a da realidade virtual, com a disseminação do conceito de multiverso e a realização de shows em plataformas de videogames.
A realidade que se impõe faz com que ganhem importância na sobrevivência dos artistas as relações com as marcas — um dos temas principais da nova temporada da série Music & Branding, que Meio & Mensagem publica neste mês pelo terceiro ano consecutivo. O conteúdo especial inicia-se com a reportagem publicada na edição semanal e se complementa com entrevistas em vídeo com grandes artistas do cenário brasileiro, comentando sobre os impactos da pandemia na criação e produção musical, e, especialmente, no estreitamento das relações que mantêm com as marcas. O episódio de estreia chega esta semana às plataformas digitais, protagonizado pela cantora Iza, que fala sobre seu envolvimento com questões de diversidade, seu compromisso com o combate ao racismo, suas relações com as redes sociais e seu engajamento em processos de cocriação publicitária. Nas semanas seguintes, os episódios trarão o ponto de vista de artistas de outros gêneros, como o sertanejo e o rap.
Com o avanço da vacinação, embora descompassado nas diversas regiões do mundo, nutre-se a esperança de que a demanda reprimida pela emoção da música ao vivo será capaz de reacender o mercado de eventos desta indústria, mesmo que redimensionado e orientado por novos protocolos.
*Crédito da foto no topo: Stas Knop/ Pexels
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