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Opinião

Nem oito nem oitenta

Não se faz amigos nem se influencia pessoas sob a premissa da intransigência ou na base da pancada


12 de setembro de 2016 - 11h49

Apontado por muitos como o precursor da literatura moderna de autoajuda, “Como fazer amigos e influenciar pessoas” completará 80 anos de sua primeira publicação em outubro.

Nesse tempo, a obra de Dale Carnegie amealhou mais de 20 milhões de cópias comercializadas, com um ritmo de vendas na casa das centenas de milhares de unidades a cada doze meses, o suficiente para que volta e meia reapareça no ranking de mais populares dentre o catálogo de não-ficção. É, por exemplo, um dos vinte livros mais vendidos de sua categoria em 2016, no Brasil, posto que já ocupara em 2015.

Também foi indicado pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos como o sétimo livro mais influente da história norte-americana, e ficou em 19º lugar em lista similar feita pela revista Time.
Tantas realizações não conferem ao arrasa-quarteirão literário de Carnegie um selo de unanimidade. Como é de praxe ao controverso gênero, muita gente minimiza seu impacto e relevância por supostamente oferecer fórmulas simplórias que, como uma chave-mestra, serviriam para abrir todas as portas e desvendar os segredos capazes de melhorar relacionamentos, a autoestima e, por consequência, a vida de milhões de pessoas (mesmo que sejam tão diferentes entre si quanto possível). Os críticos do autor apontam ainda para a nulidade científica de suas alegações e conselhos. Outros identificam um viés ideologicamente manipulador no conceito original.

Minha experiência com “Como fazer amigos e influenciar pessoas” passa pelas duas vertentes expostas nos parágrafos acima. Li pela primeira vez no ano passado. As motivações às críticas não passaram despercebidas: quanto mais se avança nas páginas, mais evidentes ficam a falta de repertório de Carnegie para se aprofundar em certos temas e a repetição de ideias mal disfarçada em alguns capítulos.
Mas as razões para o sucesso do livro saltaram aos olhos mais rapidamente. Trata-se de um manual básico do bom relacionamento, de como ser político e polido no contato diário com as pessoas, evitando grandes conflitos e privilegiando o incentivo ao próximo em detrimento da satisfação do próprio ego — sempre em prol de propósitos maiores e conexões menos ordinárias que, obviamente, levem a melhores negócios.

Nem oito nem oitenta, o livro deixou boas lições. Avaliando friamente, fãs e críticos de Carnegie estão certos em suas defesas e ataques. Uns concentram o foco nos pontos fortes. Outros, nos fracos. Nesse e em outros casos, é cada vez mais difícil reconhecer a beleza do meio-termo: precisa-se intensamente dar um veredito final, amando ou odiando. Dentro dessa linha, o endeusamento e a crucificação de Bel Pesce no pós-hype da autointitulada Menina do Vale foi revisto com maestria em artigo publicado no site de Meio & Mensagem pelo blogueiro Mauro Segura — o campeão de audiência em nossa versão online ao longo da semana passada.

Mauro é um agregador por natureza. Conheci o líder de marketing e comunicação da IBM Brasil mais ou menos cinco anos atrás, quando ele apresentou os resultados de uma pesquisa sobre as áreas e os níveis de influência do CMO em grandes corporações. Pouco tempo depois, começou a escrever para Meio & Mensagem. É hoje um de nossos colaboradores mais longevos – e o mais frequente, comentado e compartilhado. Interage com os leitores e estimula o debate, mesmo quando é confrontado com argumentos e colocações contrárias, muitas vezes indóceis.

Concorde-se ou não com o seu ponto de vista sob o “caso Bel Pesce”, o mais louvável é que Mauro sempre se pauta pelo equilíbrio, sem consagrar anjos ou eleger demônios, e abrindo espaço para a discordância.

Em busca do bem comum e da realidade desenviesada, é preciso dialogar e abrir mão para encontrar pontos em comum que unifiquem caminhos à primeira vista opostos. Sob essa ótica, não resta dúvida que Carnegie estava certo. Não se faz amigos nem se influencia pessoas sob a premissa da intransigência ou na base da pancada.

 

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