O home office está perto do fim? Não, e eu posso provar
O trabalho remoto não é moda passageira, mas parte de uma transição maior para modelos de trabalho mais humanos e alinhados com a realidade digital
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Com a pandemia de Covid-19 e o advento do home office, o que antes era privilégio de poucos setores se tornou – quase que da noite para o dia – o novo padrão de trabalho. A partir de 2023 observamos uma onda de grandes empresas promovendo o retorno ao escritório, num modelo híbrido e, agora em 2025, algumas empresas estão obrigando seus colaboradores a aceitar o modelo presencial, com variadas justificativas: cultura organizacional, colaboração, produtividade, controle.
Recentemente estive no summit anual da Adobe, em Las Vegas, onde um dos speakers era Jamie Dimon, CEO do JPMorgan e um dos maiores inimigos do teletrabalho. A palestra de Dimon reforçou a importância de liderança transparente, humilde e corajosa, aliada à adoção de inovações tecnológicas para manter a competitividade no cenário empresarial moderno. “As pessoas percebem quando um líder realmente se importa com elas. Então trate seus funcionários como você trata seus clientes VIP”, disse no evento.
A fala ponderada vem na esteira do vazamento de um áudio numa reunião interna do banco, em fevereiro, em que teria proferido impropérios e traduzido em palavras o que muitos líderes pensam sobre o trabalho remoto. Aqui um trechinho: “Simplesmente não funciona! Não funciona para a criatividade e retarda a tomada de decisões. E não me venha com essa m@#%a de que trabalhar em casa na sexta-feira funciona. Eu ligo para um monte de gente às sextas-feiras e não consigo falar (…)”.
Isso me motivou a escrever este artigo, amparado por tantas pesquisas mostrando que, quando bem implementado, o home office pode aumentar a produtividade, reduzir custos operacionais e ampliar a retenção de talentos — especialmente entre as novas gerações que priorizam qualidade de vida e flexibilidade. Falo isso por experiência própria, pois moro a cerca de 1h30 do escritório, e entendo que o tempo perdido no trânsito pode ser convertido em produtividade, estudo, saúde ou convívio com a família.
Estou num cargo de liderança numa consultoria com cerca de cem colaboradores. Temos uma operação altamente eficiente e faturamento sólido. E aqui começa um novo desafio: quanto maior a empresa, maior a complexidade para administrar um modelo remoto em larga escala. Isso exige tecnologia, processos, liderança preparada e, principalmente, uma mudança cultural profunda.
É sabido que novas gerações enfrentam dificuldades com disciplina, organização e pressão. E isso tem impacto direto na eficiência do trabalho remoto. O modelo exige autonomia, comprometimento e maturidade — o que nem sempre está presente. Minha sócia, por exemplo, que é diretora de operações, prefere o modelo presencial. Ela mora muito próximo do escritório, então faz sentido. Ela valoriza a interação, o olho no olho, o dinamismo das conversas presenciais.
A verdade é que não existe uma fórmula única. Cada contexto, cultura, perfil de liderança e estrutura organizacional pede um equilíbrio próprio entre o físico e o digital. A visão mais tradicional — que enxerga o trabalho de casa como “coisa de vagabundo”— ainda persiste em parte da liderança executiva, a exemplo do CEO do JP Morgan. Muitos acreditam que o trabalho remoto aumentou os custos com administração de pessoas, dificultou a cultura organizacional e trouxe mais desafios de gestão. O que está por trás disso, na verdade, é a dificuldade em desapegar do modelo mental do passado.
A evolução das ferramentas colaborativas, a adoção massiva da inteligência artificial e a maior maturidade digital das empresas indicam que trabalhar de qualquer lugar nunca foi tão viável. Mais do que uma alternativa, o home office se posiciona como uma vantagem competitiva em mercados altamente digitais e globalizados. O surgimento de modelos como “anywhere office”, “workation” e a consolidação do nomadismo digital mostram que a relação com o trabalho está sendo redesenhada. O espaço físico já não é mais o centro da produtividade. A grande transformação talvez não esteja no “onde” se trabalha, mas no “como” e no “porquê”. Empresas que focam em resultados, autonomia, bem-estar e confiança têm colhido frutos positivos.
E que tal pensarmos num novo modelo de negócio para as empresas de coworking, que insistem nos eixos como Paulista – Faria Lima – Berrini. Por que não estabelecer parcerias com grandes empregadores e criar hubs de trabalho nos extremos das grandes cidades, onde estão os funcionários que mais perdem tempo no trânsito? Parcerias para ocupar espaços ociosos dentro de outras empresas, fábricas com boas instalações fora do centro?
O trabalho remoto, nesse sentido, não é um fim — nem mesmo uma moda passageira. É parte de uma transição maior para modelos de trabalho mais humanos e alinhados com a realidade digital. Estamos presenciando o fim do home office? Não. Estamos presenciando o fim de modelos centralizados. No fim das contas e, como em tudo na vida, “tudo passa, e a Terra permanece.” Os que resistirem à mudança ficarão presos ao ontem. Os que evoluírem, moldarão o amanhã.
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