Você já falhou esta semana?
Declarar e reconhecer uma falha nos custa muito esforço. Temos medo de parecer falíveis ou erráticos. Ser julgados. A cultura da perfeição nunca foi só estética
Declarar e reconhecer uma falha nos custa muito esforço. Temos medo de parecer falíveis ou erráticos. Ser julgados. A cultura da perfeição nunca foi só estética
19 de novembro de 2019 - 12h00
Já reparou que fomos criados e educados para evitar a falha? À época da escola, tirar nota baixa era desconfortável e “pegar” recuperação, bem ruim para nossa imagem. Repetir de ano, então, era um desastre.
Costumamos praticar aqueles esportes onde temos melhor performance ou resultados. Se gostamos de algum, mas falta habilidade ou o resultado não é bom, geralmente preferimos não insistir para não falhar.
Essas falhas que cometemos e acumulamos em nosso percurso pessoal e profissional são cuidadosamente escondidas embaixo do tapete. Ser demitido jamais. Saí daquela empresa. Separação num relacionamento? Não foi culpa minha. Fiz tudo o que pude. Não ganhei algum jogo ou torneio? Não era meu dia. Dormi mal. Estava com dor.
Declarar e reconhecer uma falha nos custa muito esforço. Temos medo de parecer falíveis ou erráticos. Ser julgados. A cultura da perfeição nunca foi só estética.
Se você tem mais de 30 anos, nasceu em um mundo mais lento e previsível. Mas vivemos, agora, em outro bem diferente, rápido, imprevisível. E isso faz muita diferença.
Se, no passado, era possível acompanhar a velocidade das mudanças, hoje é impossível. Estamos conectados e vivendo num mundo líquido, como disse Zygmunt Bauman, com abundância de informações e recursos. Por que você acha que a ansiedade é um dos grandes temas atuais? já ouviu falar de FOMO (fear or missing out), que define aqueles que precisam estar conectados 24 horas para tentar não perder nada e olham a cada cinco segundos para seu celular? Se estar sincronizado com esse ritmo alucinante de informações é impossível, como e por que queremos ser infalíveis, então? Novas perguntas sem resposta surgem todos os dias. Novos problemas nunca enfrentados também.
Ouvi, recentemente, um exemplo de um CEO de uma grande empresa de B2B que, em suas reuniões mensais com a equipe direta, fez a seguinte provocação: “Gostaria que cada um fosse ali na frente e contasse uma falha que cometeu no último mês.” Imagine se você estivesse nessa reunião. Qual seria a sua reação? Provavelmente, parecida com a que a equipe teve. Ninguém se apresentou, com medo de se expor. O CEO então tomou a iniciativa, foi à frente e contou uma falha sua, para a surpresa geral da sua equipe, compartilhando seus aprendizados.
Uma atitude impensável há alguns anos, mas necessária no contexto em que vivemos, para demonstrar para a equipe que existe uma zona de conforto e confiança, onde o saber e a reflexão coletiva são valorizados. O papel da liderança sempre foi muito solitário e, em tempos de novas perguntas todos os dias, não poder dividir é cada vez mais pesado.
Nessa provocação, a falta de falhas da equipe também levou esse CEO a concluir que ninguém havia feito nada diferente do usual. Ninguém havia tomado nenhum risco, afinal, fazer algo novo e diferente implica na possibilidade de falhar.
Se você é um líder, fica o meu convite para ter essa mesma iniciativa junto à sua equipe. Não tenha medo! Cultive ambientes de compartilhamento e derrube barreiras de perfeição. Mas seja autêntico e generoso. Garanto que ficará surpreso com a conexão que isso vai gerar entre as pessoas, fortalecendo sua liderança e criando um elo de confiança necessário para os grandes desafios que temos pela frente.
E agora? Como você responderia à pergunta que fiz no título deste artigo?
*Crédito da foto no topo: Vedanti/Pexels
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