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18 de dezembro de 2018 - 8h14
Por Rafael Coelho (*)
Fonte da imagem: Agronow
Há 60 anos, em 1958, teve fim a missão do Sputnik 1, o primeiro satélite artificial a ser colocado em órbita em torno da Terra pela União Soviética, dando início à corrida espacial com os Estados Unidos, que seguiu com o lançamento de voos espaciais tripulados e as inacreditáveis viagens à Lua. Meses depois, os americanos entraram na disputa com o lançamento do Explorer 1.
O pioneiro objeto russo era extremamente simples – uma pequena esfera de metal polido com 58 cm de diâmetro e peso de 83,6 kg, fabricada a partir de uma liga de alumínio, e quatro longas antenas. O “companheiro de viagem”, significado de Sputnik, carregava dois transmissores de rádio com potência de 1 Watt e capacidade de operar em duas frequências diferentes. Eles emitiam dois sinais com duração de 0,3 segundos que podiam ser sintonizados por qualquer radioamador.
Um grande marco na ciência, o primeiro satélite da história da humanidade trouxe dados valiosos aos cientistas, como a densidade da atmosfera e informações sobre a ionosfera. Hoje, eles estão presentes em áreas tão diversas quanto telecomunicações, ciência, meteorologia e monitoramento do meio ambiente, geoposicionamento e mapeamento e, claro, em sua origem, a militar.
Mas não é somente pelo 60o aniversário do Sputnik que 2018 será lembrado na conquista do espaço. Seis décadas depois do feito soviético, o ano também ficará marcado por uma nova revolução interplanetária: o lançamento de nanosatélites em foguetes da altura de, pasmem, um prédio de 5 andares.
Após realizar um voo teste em janeiro passado, a californiana Rocket Lab, avaliada em US$ 1,2 bilhão, um ‘unicórnio do espaço’, entrou para história espacial no último dia 11 de novembro com o sucesso da operação “It’s Business Time”, o primeiro lançamento comercial em sua base na Nova Zelândia de seu foguete Electron, que mede aproximadamente 17m de altura e 1,2m de diâmetro. Para que tenham uma ideia, os foguetes Falcon, da SpaceX, do empresário futurista Elon Musk, têm 70 m de altura (conto mais abaixo sobre os planos de Musk).
Fonte do Video: CNBC
A bordo do foguete foram levados seis nanosatélites e há planos para colocar dezenas em órbita nos próximos meses com 19 lançamentos agendados para 2019. O custo de cada pequeno foguete da Rocket Lab é de US$ 5,7 milhões, uma fração dos US$ 50 milhões necessários para construção de grandes foguetes.
Os satélites de pequena dimensão chegaram para ficar e permitirão, em pouco tempo, levar ao espaço universidades, escolas, institutos de pesquisas e empresas nas mais diversas áreas, especialmente em negócios de tecnologia que fornecem serviços de imagem para os mais variados fins.
Uma das empresas que vem se destacando neste novo mercado é a Hypercubes, que está colocando no espaço uma constelação de nanosatélites dotados de inteligência artificial para analisar a composição química do solo e melhorar a produção de alimentos a partir da análise de dados como fertilidade do solo, espécies invasoras, doenças e, segundo seu fundador, o brasileiro Fábio Teixeira, até mesmo os nutrientes presentes nas flores das plantas. O satélite da Hypercubes é equipado com um supercomputador e um imageador hiperespectral que consegue identificar alterações moleculares em uma plantação.
Outra que vem chamando atenção é a argentina Satellogic, que levantou no ano passado US$ 27 milhões em uma rodada liderada pela chinesa Tencent na qual também participaram o fundo brasileiro Pitanga e a CrunchFund, de San Francisco. Seus pequenos satélites são também equipados com uma câmera capaz de captar imagens com resolução de um metro e um instrumento hiperespectral com uma resolução de 30 metros que pode, por exemplo, identificar a composição química de um terreno, um recurso muito útil para agricultura e meio ambiente.
Com a explosão deste novo mercado, o céu não será mais o limite para a indústria satelital. A expectativa é que o setor apresente uma taxa de crescimento robusta devido principalmente ao aumento dos investimentos realizados pelas organizações governamentais. A Statista prevê que os nanosatélites irão gerar uma receita de US$ 88,3 bilhões em 2021 no segmento Inteligência, Vigilância e Reconhecimento (ISR).
Há muitas outras empresas como a Rocket Lab dispostas a ganhar dinheiro no espaço. A Angel List identifica 1631 ‘aerospace startups’ em seu diretório.
Entre as ‘novatas’ que vêm se destacando está a SpaceX. Seu arrojado plano é montar uma rede com nada menos que dez mil satélites para levar internet de alta velocidade para regiões rurais e suburbanas em todo o mundo. Os satélites serão lançados em fases até 2024. O objetivo é oferecer o serviço de conexão já em 2020 e o início dos lançamentos está previsto para meados de 2019.
Fonte do Vídeo: CNN
A empresa já lançou dois satélites de teste Starlink em fevereiro passado, apelidados de Tintin A e B, que estão funcionando como previsto. A equipe de Musk trabalha agora em refinar o caminho orbital dos satélites após a Comissão Federal de Comunicações dos Estados Unidos (FCC), entidade que supervisiona satélites em órbita, aprovar um pedido para expandir a faixa de altitude dos Tintins.
O interesse de startups e grandes empresas de tecnologia no mercado de satélites não é à toa. Empresas como OneWeb, Telesat, Iridium e Facebook estão cada vez mais de olho neste mercado para atuarem como fornecedores de tecnologia por meio de parcerias ou investimentos.
Segundo estimativas da Força Aérea americana, atualmente há aproximadamente 2.783 satélites orbitando em torno da Terra. Em 2017, foram lançados 81, tanto para assumir novas funções quanto para substituição dos que já não funcionam mais. Aqui no Brasil, lançamos nosso primeiro satélite, chamado “Satélite de Coleta de Dados” (SCD-1), somente em 1993, e atualmente temos 62 autorizados para operar no país, entre nacionais e estrangeiros.
A receita das empresas que trabalham na cadeia de telecomunicações via satélite cresceu 3% em 2017. Ao todo, de acordo com a Satellite Industry Association, organização mundial representante de operadoras e fabricantes de satélites, o setor faturou estratosféricos US$ 268,6 bilhões. A maior parte do resultado é proveniente da prestação de serviços das operadoras de banda larga e televisão, que alcançou US$ 127,7 bilhões, superando o mercado de serviços de lançamento de satélites, que é de aproximadamente US$ 5,5 bilhões.
Fonte da imagem: CompreRural
Todo este meu interesse pelos satélites – e que me inspirou a escrever este artigo – nasceu das minhas instigantes conversas com o Antonio Morelli, sócio fundador e Chief Data Science Officer da Agronow, empresa de tecnologia de satélites para monitoramento de safras e áreas agrícolas na qual sou CEO e entusiasta.
Embora esteja mais focado na gestão do negócio, participar de discussões com meu sócio e grande conhecedor deste mercado trouxe reflexões acerca do real e profundo impacto que eles irão trazer, na realidade já estão trazendo, para acelerar a revolução digital no campo e, mais particularmente, no estreitamento da relação entre o mercado financeiro e o agronegócio a partir da ciência de dados e novas tecnologias. Esta visão nos levou a criar um departamento dedicado a analytics e desenvolvimento de produtos sob a supervisão de Morelli.
Além de ampliar o acesso a Internet em alta velocidade em áreas rurais, o agribusiness já vem passando por profundas transformações e poderá ser muito beneficiado com os avanços tecnológicos da indústria de satélites e dos nanosatélites.
É fácil entender o porquê.
Por conta das mudanças climáticas e das incertezas inerentes ao cultivo de alimentos, os agroempreendedores encontram sérias dificuldades de captar dados geográficos que permitam mapear com clareza a saúde e os riscos da lavoura e, com isso, solicitar empréstimo, contratar seguros e planejar seus investimentos e a próxima safra, definindo, por exemplo, qual a melhor cultura para aquele solo, a técnica mais adequada e o melhor momento para iniciar o plantio.
A associação de processamento de imagens de satélite com big data e machine learning está trazendo maior previsibilidade aos agricultores e veio abrir terreno fértil para uma nova leva de startups, as chamadas AgFintechs, que através da tecnologia aproximam o mercado agrícola do mercado financeiro, extraindo e analisando informações em tempo real das plantações essenciais para análise e tomada de decisão das instituições no desenho de apólices e programas de crédito.
No Brasil, vamos entrar em uma nova era da inteligência, gestão e monitoramento territorial da agricultura no Brasil. Isso porque a Força Aérea Brasileira (FAB) está se preparando para lançar o primeiro satélite brasileiro de sensoriamento remoto de alta resolução espacial. O Projeto Carponis-1, cuja previsão é entrar em órbita até 2022, faz parte das constelações do Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE), que integra o Programa Espacial Brasileiro. Ele permitirá a obtenção imagens de satélite com mais frequência, melhor qualidade e direcionamento, além de menor custo. Tudo sob controle brasileiro.
Fonte do Vídeo: PortalFab
Então, se você é um empresário do agro, anote aí, é provável que logo logo tenha um satélite pra chamar de seu. Será isso ou continuar sem saber o que está bem ali, plantado embaixo dos seus pés.
(*) Rafael Coelho é CEO da Agronow, empresa de tecnologia de satélites para monitoramento de safras e áreas agrícolas