ProXXIma
31 de março de 2020 - 9h13
Estamos publicando artigos de lideranças do mercado nesta série buscando trazer referências de como cada uma delas está enfrentando as dificuldades provocadas pelo COVID-19.
“Quando escrevi sobre o “Publicitaricídio”, o sub-lide escolhido pela redação do Proxxima foi o seguinte:
“Nem sempre é preciso investir em publicidade. Causas precisam ser genuínas e verdadeiras. O impacto das campanhas precisa ser real e não apenas para constar nas planilhas.”
Aliás, sub-lide com o qual concordei demais. Ele de fato ilustrava o ponto que eu procurava fazer, ao propor uma reflexão sobre o nosso desespero em buscar métricas que ficam lindas em apresentações de Powerpoint, mas que nem sempre fizeram uma diferença real na vida das pessoas.
Naquele momento, eu propus que as empresas se questionassem da sua real necessidade por separarem verbas polpudas de Publicidade nos seus orçamentos anuais. Não por descrença na Publicidade (muito pelo contrário), nem muito menos por querer deixar de receber investimento dessas mesmas verbas, afinal, como “veículo”, eu sempre vivi das verbas publicitárias alheias. Daí, talvez, o termo “publicitaricídio”.
“Mas, num mundo inspirado por causas, por propósitos, por necessidades reais, por um desequilíbrio absurdo entre uma pobreza extrema da maioria e uma riqueza semi-monárquica de tão poucos, eu fico pensando quanta coisa boa poderia ser feita com UMA polpuda verba publicitária de UM anunciante.”
Então, hoje, volto ao tema. Inspirado pelo Vírus, pela Quarentena, pela preocupação real das pessoas com outras pessoas reais, por ações concretas e posicionamentos bacanas de marcas como Ambev, Rappi, Alpargatas, Burger King, dentre tantas outras. Volto ao tema porque o tema está aí, estampado, escancarado, alheio ao confinamento. Aliás, se tem algo que não está confinado é o tema: PROPÓSITO.
Qual é o meu papel no mundo em que eu vivo?
Por que eu estou fazendo isso que eu faço todos os dias? E aí incluímos o trabalho, mas o questionamento vai muito além.
Qual é a minha relação com a minha família, com meus amigos?
Na hora que apertar, quem vai estar do meu lado?
E eu, estarei ao lado de quem? (não parece, mas são coisas diferentes)
Esses são questionamentos válidos para nós, seres humanos, mas também para “nós”, marcas. Se o único propósito da sua marca é vender, lucrar, ser líder de mercado, OK, eu entendo, nós entendemos. Afinal, ao vender, lucrar e ser líder de mercado, você está gerando empregos, fazendo a economia andar, pagando impostos. Justíssimo. É o equivalente a acordar de manhã, trabalhar, pagar as contas. Igualmente justíssimo. Mas se você, ser humano, ou ser do marketing, encontrar o seu propósito, a sua essência, aí não tem força que te segure: você terá se convertido num dínamo! Um dínamo autêntico, engajado e engajante, fazedor, movedor de mundos – você terá se tornado uma parte essencial e real das vidas das pessoas.
Então ofereço novamente a reflexão. Nestes tempos de vírus, como eu me transformo em vacina?
É ajudando o pequeno comerciante local?
É oferecendo meu tempo para ler, conversar, chorar junto com quem está isolado?
Oferecendo as minhas coisas para quem tem (muito) menos coisas do que eu?
É dando aula de defesa pessoal para mulheres pela internet?
Álcool Gel para hospitais?
Construindo hospitais?
É conectando gente sozinha que, isolada talvez tenha mais chance de encontrar um amigo do que na correria do caos pré-vírus?
Tem tanta coisa pra gente fazer como marca.
Tem tanta coisa pra gente fazer como humanidade.
Agora que fomos presentados pelo único bem que dizíamos não ter – o tempo – a pergunta é: como vamos retribuir esse presente?
Boa quarentena. Que saiamos dela melhores, construindo um mundo também melhor.”
(*) Fabio Sá é Diretor-Geral da Minute Media (dona de marcas como 90min e The Players’ Tribune) para o Brasil e America Latina. É também sócio-fundador do Nós Por Elas, que promove a defesa pessoal de mulheres, junto com a sua esposa Tata e sua filha Nina.