Pyr Marcondes
7 de fevereiro de 2020 - 7h36
Por Alexandre Waclawovsky (*)
Aprendi muito colocando a mão na massa liderando transformações digitais por mais de 20 anos no Brasil e na América Latina. Como esse tema está na pauta da maioria das empresas atualmente, tenho lido e ouvido, cada vez mais pessoas falarem sobre esse assunto, mas com um ponto de vista teórico e sem a devida experiência real.
Assim decidi dividir como respondo a uma das perguntas que mais me fazem, título desse artigo, mas antes farei duas ressalvas importantes:
- Transformação Digital não é sobre tecnologia, mas sim sobre pessoas ou cultura, se preferir. Mesmo com acesso às mais avançadas tecnologias e com incríveis cenários de crescimento em vista, caso os colaboradores de uma empresa não estejam confortáveis sobre seu papel e cientes sobre as implicações de sua adoção, sinto informar, que as chances de sucesso são pequenas.
- Transformação Digital não é um projeto, logo haverá um início, um meio, mas não um fim, já que as tecnologias seguem em constante desenvolvimento. Sempre estaremos um passo atrás (exceto se a sua empresa for de tecnologia). Tempo, recursos financeiros e humanos deverão ser alocados.
Certa vez, em uma reunião com o Board, fui questionado sobre qual seria o principal indicador de sucesso da transformação digital, que havia passado a liderar.
“O cargo que ocupo e a palavra digital não farão mais sentido na empresa. A cultura e as pessoas absorverão novas maneiras de pensar e fazer as coisas. O que antes era inovação, passará a ser o dia a dia.” Respondi.
Como qualquer mudança de mentalidade, essa jornada não será indolor. Anticorpos surgirão aos montes pelo caminho e é por isso que acredito que uma iniciativa dessa precisa ter origem em algum fator externo à empresa.
Explico: iniciar uma transformação digital por ordem da matriz ou do CEO é um argumento frágil e reforça uma cultura de comando e controle, que é antagônica a nova mentalidade de colaboração a ser criada ou reforçada. Ter o apoio da liderança é vital, mas aprendi que o fator gerador e motivador deverá vir de fora da empresa. Reflita! Sua empresa precisa evoluir por que? Ela serve a quem?
Bom, feitas as ressalvas, agora vamos responder à pergunta. Abaixo listo as quatro fases, que acredito, refletem a transição desde o nascimento até a maturidade de uma transformação digital. Note que você não vai encontrar uma medida de tempo, pois cada fase será superada de acordo com o ritmo e energia de cada empresa. Vamos a elas:
Fase 1 – Despertar
Cenário
Os termos tecnologia e digital são mal compreendidos e geram inquietação e insegurança.
Ações
Catequização – apresentar o que é digital, novos comportamentos das pessoas, da sociedade, dos competidores, enfim, o contexto que justifica uma mobilização e evolução do negócio. Nessa fase iremos uniformizar conhecimento e ganhar mobilização interna.
Fase 2 – Infância
Cenário
Já existe conhecimento básico disseminado entre os colaboradores. Algumas ferramentas e pensamentos digitais passam a ser usados intuitivamente. Existe o entendimento que digital não é um assunto de TI, mas de negócios.
Ações
Criar uma estratégia digital a ser comunicada pela liderança. Apontar áreas de evolução e foco, bem como o ritmo de sua adoção. Definir um pipeline de testes, com recursos alocados, que gerem resultados rápidos, mensuráveis e com algum impacto tangível no negócio. Essas iniciativas não irão afetar o negócio, por serem pequenas, mas fornecerão aprendizados valiosos a serem disseminados pela empresa.
Fase 3 – Adolescência
Cenário
Testes já fizeram efeito, gerando sucessos e aprendizados. Novos processos e procedimentos estão sendo revistos ou desenhados. A relação com fornecedores está em evolução. A cultura já está mais apta e ágil para tomar riscos e errar. Lideranças naturais surgem.
Ações
Novas relações e contratos com fornecedores. Iniciativas de inovação aberta com empresas da nova economia são disparadas. Empresa passa a desenhar toda a jornada de seus consumidores ou clientes do ponto de vista digital ou melhor, Omnichannel. Tecnologia passa a estar a serviço do negócio, tanto para redução de custos ou incremento de receitas.
Fase 4 – Maturidade
Cenário
Existe uma nova cultura e mentalidade em vigor, mais ágil, mais aberta e com o consumidor ou cliente no centro. Novas alavancas de crescimento surgiram e geram novas receitas. Novas eficiências foram criadas a partir de novas maneiras de trabalhar. A mentalidade de comando e controle é substituída por uma mentalidade de colaboração.
Ações
Descentralizar e desmobilizar qualquer estrutura de controle e centralização de digital. Todas as áreas e colaboradores passam a ser donos e responsáveis pela estratégia da empresa. A palavra digital é incorporada ao modo de pensar. Intraempreendedores, antes escondidos dentro da empresa, são ativados por uma nova cultura mais vibrante, aberta e que incentiva a inovação.
Recentemente, li uma entrevista sobre transformação digital do Thierry Fournier, CEO para a América Latina do Grupo Saint-Gobain onde ele diz “Não fazer é o pior erro que a gente poderia cometer. Nessa jornada, erramos bastante. Investi R$ 3 Milhões em um projeto que não deu certo.” Complementaria com uma que gosto muito “uma empresa não assumir riscos atualmente, pode ser o maior dos seus riscos.”
Ótima Semana!
(*) Alexandre Waclawovsky | Wacla é Fundador da New Way Consultoria