ProXXIma e André Ferraz
25 de setembro de 2018 - 10h29
Por André Ferraz (*)
Privacidade é um direito fundamental dos seres humanos. É um pilar fundamental da liberdade que assegura o direito de cada um de nós de sermos anônimos e de sermos esquecidos. É o direito de controlar quem pode saber o que sobre nós. Privacidade é o direito de escolha sobre como todos nós consumidores escolhemos nos apresentar ao mundo.
Acontece, porém, que novas tecnologias suscitam discussões acaloradas e teses que parecem verossímeis. Entre elas, uma muito comum que prega que em nome da conveniência oferecida pelo digital, temos que abrir mão da privacidade. Não acredito nesta tese e sou acompanhado por outros 170 fanáticos por tecnologia que também não acreditam. A minha história empreendedora junto aos meus sócios está atrelada a este compromisso: provar que é possível trazer o melhor do digital, garantindo que não precisamos saber o nome, qualquer número de identidade civil ou dado pessoal sensível das pessoas.
Como é possível fazer isso? Sem querer dar receita de bolo – mas, compartilhando um caminho que se mostra viável e eficaz – o primeiro passo dado por nós foi colocar “Privacidade” como um valor de negócio. Isso significa que privacidade é um framework para decisões estratégicas de atuação e de crescimento da empresa. Se o cliente pede uma proposta onde seja necessário identificar a pessoa, explicamos os riscos, apresentamos outras maneiras de usar os dados de localização de maneira anônima e se não funcionar, declinamos o trabalho. Sim, impacta nossa receita. Deixamos de faturar, mas garantimos a sustentabilidade das operações.
Isso nos leva ao segundo passo na construção da Cultura da Privacidade: a educação do mercado. Muitos parceiros já estão alinhados por valor e por compliance com a garantia da privacidade do consumidor. Nós assumimos que temos um papel fundamental em ajudar a indústria a discutir mais sobre o tema. Temos que criar novos fóruns, atrair especialistas, usar benchmarks mundiais para gerar insights, temos que promover e fomentar a reflexão. E temos que, sobretudo, abrir nossa casa para essa discussão e o faremos de peito aberto.
Estou, pessoalmente, empenhado em explicar para qualquer ator da indústria, do mercado, da academia, do governo como é possível usar a tecnologia de localização para traçar comportamento e não identidade. Como o uso de dados sobre o fluxo de pessoas – sem nome e CPF – no mundo físico pode ser de grande relevância para fins comerciais, como também para fins sociais como campanhas de esclarecimento público sobre educação, por exemplo.
Nós criamos tecnologia para deixar os aplicativos mais inteligentes, trazendo o conteúdo certo na hora certa para o consumidor certo, mas sem nunca identificar quem é esse consumidor. Nós criamos tecnologia para deixar o varejo físico mais inteligente, sobre padrões de comportamento de quem visita sua loja e como ela pode atrair mais consumidores e aumentar vendas, sem a necessidade de saber quem são essas pessoas. Nós criamos tecnologia que pode ser de extrema utilidade para entender e atuar sobre questões civis importantes como mobilidade urbana e campanhas de conscientização de diversas frentes.
Usar a tecnologia de localização para causas legítimas, em acordo com o cidadão sobre quais tipos de dados acessamos e para quais fins, preservando sua identidade acima de tudo, é mais do que um negócio. É uma causa. Para que dê certo para todos, é preciso um grande movimento civil. A aprovação da Lei Geral de Proteção de Dados e o interesse de órgãos que visam a proteção dos cidadãos brasileiros são passos muito importantes. Mas, é preciso mais. É preciso que todos, absolutamente todos os envolvidos em tecnologias que estão mudando o mundo partam da mesma premissa: a privacidade do cidadão é um valor inegociável.
André Ferraz é CEO and Co-Founder da In Loco