ProXXIma e Leo Monte
12 de julho de 2019 - 8h40
Por Leo Monte (*)
Vou ser direto no questionamento: o que torna uma empresa inovadora? Sempre digo que inovação nada mais é do que uma ferramenta que permite às empresas atingirem objetivos estratégicos únicos. Fique atento, a inovação não deve ser simplesmente um slogan, uma forma de se vender, mas estar na agenda de todos os CEOs, seja por pressão do conselho de administração ou por uma preocupação por conta das novas empresas que destronam companhias com maior tempo de mercado.
Outra pergunta, o que faz para uma empresa ser inovadora? Uma única iniciativa não é suficiente. De fato, eu diria que qualquer tipo de foco na inovação como um fim é prejudicial. Para tentar ser mais prático separei nove características essenciais que podem te ajudar no processo de inovação.
1. Agilidade e agressividade
Sempre faço um paralelo contando a história da Gillette e da Dollar Shave Club. Vou contar rapidamente, fundada em 1901, a Gillette tinha, em 2004, US$ 10,5 bilhões em receita e foi adquirida pela Procter & Gamble (P&G) em 2005 – que foi criada em 1837 e detentora então de 150 marcas e receita de US$ 51,5 bilhões. Uma história linda e centenária. Entretanto, em 2011, uma empresa chamada Dollar Shave Club transformou o modelo de vendas de aparelhos de barbear consolidado há décadas. Adotou a venda online por assinatura importando todos os aparelhos de uma empresa coreana e promovendo a marca gratuitamente pelo YouTube. Pasmem, a Unilever comprou a Dollar Shave Club por US$ 1 bilhão em 2016 – a empresa tinha menos de 200 empregados. A velocidade da transformação deixa os CEOs das empresas tradicionais pensando em como se adaptar e mudar.
2. Estratégia única, relevante e diferenciada
A característica que mais defini uma empresa verdadeiramente inovadora é ter uma estratégia única e relevante (sabemos o que empresas como Apple, Facebook e Google fazem e quais suas estratégias). Um player inovador de menor tamanho pode não ser reconhecido globalmente, mas seus líderes, funcionários, parceiros de negócios e clientes precisam ter uma ideia clara da estratégia. Se a empresa não tiver uma estratégia única, não será inovadora.
3. Falhar faz parte do business
Diria que o elemento mais crítico da cultura de negócios, para uma empresa inovadora, é dar aos colaboradores liberdade para fracassar. Se eles sabem que podem falhar sem pôr em risco suas carreiras, estão mais dispostos a assumir projetos inovadores que oferecem enormes recompensas para as empresas. Isso libera recursos e orçamento para novos empreendimentos inovadores. No entanto, nas empresas em que o fracasso não é uma opção, os funcionários geralmente ficam rodando com projetos fracassados, investindo cada vez mais recursos na esperança de que seja bem-sucedido. Quando isso não acontece, as perdas são maiores e as reputações são arruinadas. Como resultado, as empresas que recompensam o fracasso geralmente falham menos do que as que o desencorajam.
4. Crie um ambiente de confiança
Uma empresa inovadora fornece aos seus colaboradores um ambiente de confiança. Porque digo isso, pois as ideias criativas, muitas vezes, inicialmente parecem estúpidas. Se os funcionários temem a ridicularização por compartilhar ideias ultrajantes, eles não compartilham. Da mesma forma, se os colaboradores temerem por participarem de projetos malsucedidos, eles não participarão. Se não confiam uns nos outros, eles ficarão vigiando suas costas o tempo todo. Se temem que os gerentes roubem suas ideias e os reivindiquem como seus, os funcionários não compartilharão ideias. Em resumo, a criatividade e a inovação prosperam quando as pessoas de uma organização confiam umas nas outras e em sua organização.
5. Não tem como transformar sem mudar
A única forma das empresas tradicionais estarem prontas para competir nesse ambiente de transformações rápidas é por meio de mudanças profundas e estruturantes. As transformações começam pelo propósito de existência da empresa e passam, principalmente, pela forma como se organiza, toma decisões e fomenta a experimentação de novas ideias. A Amazon tem sido uma inovadora desde o início, estabelecendo muitos dos padrões para o comércio eletrônico. No entanto, levou alguns anos para a empresa se tornar lucrativa. Por outro lado, inovadores como a Apple e o Google tiveram sucesso financeiro como resultado de sua inovação.
6. Tenha uma definição clara sobre inovação
Para gerenciar a inovação de maneira sistemática é preciso ter uma definição amplamente compreendida. Sem isso, é impossível saber o quanto de inovação “real” está acontecendo e se está valendo a pena. Da mesma forma você não pode responsabilizar os líderes pela inovação se ninguém puder concordar sobre o que é inovador e o que não é. Quando a Heinz coloca o ketchup em um novo pote, isso é inovação ou simplesmente um avanço? Quando a Whirlpool lança uma máquina de lavar roupa que dispensa a quantidade certa de sabão, isso é uma mudança ou inovação? Em nossa experiência, pode levar vários meses para uma empresa definir sua definição de inovação. Como ponto de partida, é importante fazer uma retrospectiva de uma década ou duas e identificar os tipos de ideias que produziram ganhos notáveis de margem e receita.
7. As características da inovação
Para que um produto ou serviço seja considerado inovador na Whirlpool, ele deve ser único e atraente para o consumidor, criar uma vantagem competitiva e fornecer aos consumidores mais valor do que qualquer outra coisa. O que o torna útil, no entanto, é o entendimento que se desenvolveu ao longo do tempo, pois esses critérios foram usados para determinar quais ideias são realmente inovadoras e quais não são. Com o tempo, a definição ficou mais rígida e as diferenças de opinião diminuíram. Também é importante revisar periodicamente a definição: os produtos classificados como altamente inovadores geraram retornos acima da média? Ter uma definição prática e acordada de inovação torna mais fácil estabelecer metas para a inovação, alocar recursos para projetos inovadores, planejar uma cadência de lançamentos de produtos inovadores e medir o desempenho da inovação.
8. Alguns processos da inovação
As empresas medem praticamente tudo o que impacta os resultados, mas, estranhamente, muitas vezes evitam medir a inovação. No entanto, existem maneiras de medir esse desempenho.
– Produtos: o número de inovações que chegam ao mercado em um determinado período, o percentual de receita derivado de novos produtos e serviços e os ganhos de margem que são atribuíveis à inovação.
– Liderança: o percentual de tempo de executivos dedicados a orientar projetos de inovação e resultados de pesquisa revelam até que ponto os executivos estão exibindo comportamentos pró-inovação.
– Competência: o percentual de funcionários que foram treinados como inovadores de negócios, o percentual de funcionários que se qualificaram como “faixas pretas” de inovação e mudanças na qualidade das ideias que estão sendo geradas em toda a empresa.
– Equilíbrio: o mix de diferentes tipos de inovação (produto, serviço, preço, distribuição, operações, etc.); diferentes categorias de risco (melhorias incrementais versus empreendimentos especulativos); e diferentes horizontes de tempo.
9. Crie métricas para inovar
Depois de estabelecer as métricas e uma linha de base, você está em posição de definir metas de inovação específicas e ajustar o mecanismo de inovação. Por exemplo, Jeff Fettig, ex-Presidente da Whirlpool, estabeleceu uma meta para a empresa dobrar o valor de seu pipeline de inovação nos próximos dois anos. Os executivos perceberam que, para fazer isso, precisariam realocar alguns dos recursos de inovação da empresa, de aprimoramentos de produtos em estágio avançado para inovações de produto em estágio inicial. Sem um conjunto abrangente de métricas, a Whirlpool não conseguiria definir metas de inovação específicas, reequilibrar proativamente seus gastos com inovação ou medir os resultados dessas ações.
(*) Leo Monte, co-fundador da GR1D, autor da metodologia de inovação ShakeUP, especialista em Modelos de Negócio de Plataforma, Transformação Digital e Inovação.