Opinião
Celebremos Lina Pereira e a humanização do diverso
Uma mulher trans, travesti brasileira, cantora, atriz e ativista, que fez de seu corpo e sua arte campo de luta pela existência de pessoas como ela
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12 de abril de 2022 - 12h39
Reparem que o título deste artigo começa com o nome de uma cidadã comum. Lina Pereira é uma mulher inteligente, extrovertida, companheira e emocionada, que entrou diariamente na casa de mais de 100 milhões de brasileiros, durante as 12 semanas em que participou do BBB22, o maior reality show da América Latina. Lina Pereira também é Linn da Quebrada, uma mulher trans, travesti brasileira, cantora, atriz e ativista, que fez de seu corpo e sua arte campo de luta pela existência de pessoas como ela.
Com as pautas identitárias ganhando amplitude e com o BBB apostando nisso nas duas últimas edições, era esperado que ela colocasse pra jogo a segunda persona. O Brasil esperava que Linn entrasse para militar, para escancarar e debater as questões urgentes de seu grupo, de usar este palco para reivindicar direitos. Não se pode negar que é um posicionamento correto, urgente e necessário. Mas não foi isso o que ela fez: ela escolheu trazer a Lina humana, que gargalha, chora, erra e brinca.
Foi a coisa mais bonita e acertada que fez. Ganhou a simpatia das pessoas cis da casa, se conectou verdadeiramente com a audiência, mostrou que nem só de luta e dor vive uma travesti. “Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes”, já escreveu Emicida. Lina falou bonito e o impacto disso é muito maior do que se pode mensurar. Lina inaugurou uma nova narrativa, livre de estereótipos sobre as pessoas trans. A sua presença é uma afirmação de sua existência. Tira o corpo trans do lugar do terrivelmente-outro, expressão brilhante cunhada por Rosane Borges, e a coloca num lugar de humano e merecedor de afeto. Lina normalizou sua presença ali. Despertou afeição em pessoas que, social e historicamente, estariam na outra trincheira.
Não estou aqui, enquanto mulher cis e branca, romantizando nada. Não estou avaliando a pauta trans em profundidade, a luta por sobrevivência no país mais transfóbico e violento do mundo. Isso seria irresponsável da minha parte. Estou aqui falando de comunicação. A estratégia, o posicionamento, as técnicas de comunicação de massas e a interação com a audiência. Estou falando sobre o entretenimento como poder de mudar a mente das pessoas maneira quase indolor. De trazer novo e o diverso de maneira que ele seja nada além do comum. A inteligência e as escolhas de Lina precisam ser celebradas. Sua passagem pelo BBB também. Haja o que houver, ela fica para a história como a grande vencedora desta edição, como uma comunicadora social destacada e, por que não?, como uma militante com enorme contribuição pra sociedade.
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