Opinião
Ética dos dados e reputação
Mais oportunidades, novas responsabilidades
Mais oportunidades, novas responsabilidades
18 de junho de 2021 - 8h00
Cada época é marcada por múltiplos desafios, mas sempre vem acompanhada por novas oportunidades. Na época atual, uma coisa é certa: não faltam possibilidades diante da realidade digital da sociedade. As transformações são muitas e os contextos ficam cada dia mais complexos, com abertura para inovações que buscam facilitar as nossas vidas.
No entanto, apesar de todo este momento dinâmico onde estamos inseridos, uma das premissas essenciais que permanecem imutáveis é que a confiança continua a ser o fator determinante para estabelecer relacionamentos duradouros.
Neste sentido, um dos elementos basilares para se estabelecer confiança é a reputação. A reputação de uma marca está relacionada com a percepção geral sobre TUDO o que uma empresa faz (não apenas comunicação tradicional) para TODOS os seus públicos (não apenas seus clientes). Não é resultado apenas das ações de marketing e publicidade, mas envolve também a atuação das demais áreas, como Pessoas, Relações com Investidores e com Governo, Compras, entre outras.
Como responsabilidade global da empresa, a reputação também passou a ser resultado da própria Governança Corporativa e das políticas adotadas começando, portanto, pela alta gestão. Isso porque a reputação é diretamente afetada pelas atitudes, pelo conjunto de valores, pela ética aplicada à conduta empresarial.
Reputação e ética andam de mãos dadas. O que, para os gregos seria, de forma simplificada, o “ethos”, o conjunto de hábitos e costumes específicos de um determinado povo, época ou região, e que na época moderna continua abarcando “hábitos” e exigências de comportamento moral e social que demandam cada vez mais transparência e honestidade.
Esta ética geral e ampla precisa refletir seu tempo. Em uma sociedade digital, onde as relações são baseadas em dados e informações, surge a cobrança por uma ética digital, que se traduz na prática em uma ética dos dados.
Segundo o Gartner Group, “a ética digital é o sistema de valores e princípios adotados por uma empresa ao realizar interações digitais entre empresas, pessoas e coisas. A ética digital está no centro, entre dos requisitos legais, do que a tecnologia digital pode fazer e do que é moralmente desejável”.
Nesta mesma linha, entrando no mundo mais pragmático do uso de dados, o debate agora gira em torno da chamada ética de dados. Segundo Luciano Floridi, professor de filosofia da Universidade de Oxford e pioneiro neste debate, a “ética dos dados é um novo ramo da ética que estuda e avalia problemas morais relacionados a dados, algoritmos e práticas relacionadas, em busca de formular e suportar soluções corretas moralmente”.
Portanto, se as relações são construídas sobre dados, e estas informações determinam os comportamentos, a ética aplicada ao seu tratamento vai impactar diretamente no seu modelo de confiabilidade, ou seja, na sua reputação. Pode-se falar então em uma “reputação de dados”, ou “qual a reputação de determinada empresa no uso dos dados que coleta?”.
Ainda segundo o prof. Floridi, “a aceitação social, ou ainda melhor, a preferência social devem ser os princípios orientadores para qualquer projeto de ciência de dados com até mesmo um impacto remoto na vida humana.” Agora temos então, de mãos dadas, ética, reputação e uso de dados.
Não por acaso regulamentações de proteção de dados pessoais surgem em vários países como uma das respostas às expectativas dos usuários para que haja mais transparência, segurança e não discriminação. Isso leva a uma nova demanda de planejamento para as empresas: como identificar e aplicar as soluções necessárias para estar em compliance com a gestão ética, legal e sustentável dos dados.
O mundo que vemos agora, e no futuro, mostra uma fusão de inovação tecnológica e controles sociais. A informação pessoal não pode mais ser utilizada como um “cheque em branco”. E as recentes regulamentações, passam a exigir o chamado privacy transparency, ampliando as garantias dos direitos humanos para o campo dos dados. O modelo de uso dos dados, onde a ética digital da empresa incorpora o uso atual e a Reputação de Dados desejada, será determinante para definir as estratégias futuras.
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