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Opinião

Precisamos tirar benefícios da inteligência artificial e não temê-la

Nosso grande desafio, na verdade, é ter uma estratégia para que esses trabalhadores sejam adaptados a essa nova realidade


9 de julho de 2021 - 6h00

Crédito: uzenzen/iStock

Na metade da década de 1990, partidas eletrizantes entre o supercomputador Deep Blue, da IBM, e o enxadrista russo Garry Kasparov ascenderam o imaginário coletivo sobre uma possível disputa entre humanos e robôs no futuro. Na época, Kasparov venceu a primeira rodada competitiva contra a inteligência artificial (IA), vindo a ser derrotado por ela em 1997, um ano após os intensos trabalhos dos cientistas de dados da gigante de tecnologia no projeto. Mas, é verdade que as máquinas vão nos derrotar e assumir nossas funções no mercado de trabalho?

Aprecio muito a visão de Matt Beanne, PhD pelo Instituto de Tecnologia de Massachussets e professor da Universidade da Califórnia. Ele é um dos maiores especialistas do mundo na relação humanos-robôs e vem realizando importantes pesquisas sobre como a inteligência artificial pode ajudar em tarefas complexas como cirurgias ou no cotidiano de setores econômicos e até em canais de atendimento ao consumidor. Para ele, nós é que precisamos aprender a tirar benefícios da IA.

Beanne acredita na “reconstrução” dos modelos de ensino, com um maior aproveitamento da tecnologia para melhorar nossas capacidades. E ele cita o xadrez como exemplo ao lembrar que durante anos foram promovidas estas partidas entre robôs e jogadores profissionais com o objetivo de definir quem se sairia melhor. Mas o professor é categórico ao afirmar que hoje a combinação que promove os melhores resultados é a Humano + Robô. Ou seja, humanos que jogam usando os robôs como parceiros de time se tornam imbatíveis, contou durante sua participação no Economics of Change.

Porém, existe uma grande preocupação das pessoas em relação ao uso dos robôs na automatização de processos operacionais realizados por humanos. Da mesma forma como ocorreu com a Revolução Industrial, quando no século 18 as ferramentas manuais foram substituídas por maquinários e parte das pessoas perderam postos de trabalho. No entanto, isso foi criando novas possibilidades. Com a automatização de processos por inteligência artificial deve acontecer o mesmo e carreiras serão transformadas mundo afora. Nosso grande desafio, na verdade, é ter uma estratégia para que esses trabalhadores sejam adaptados a essa nova realidade.

Agora, como enveredar por esse caminho se muitos líderes ainda não sabem por onde começar? Primeiro, temos que admitir que essa é uma tendência sem volta. Segundo o relatório Future of HR 2020, publicado pela KPMG, mais de 56%dos profissionais da área de recursos humanos veem na inteligência artificial o maior desafio para o futuro e cerca de 87% dos 1.300 líderes relacionados ao cuidado corporativo de pessoas revelam que estão priorizando esforços para descobrir qual a futura configuração do mercado de trabalho e que abordagem podem adotar.

Por isso, concordo totalmente com Beanne quando digo que precisamos aprender a tirar benefícios dos robôs em vez de temê-los. Precisamos urgentemente que os líderes de tecnologia, os cientistas de dados, as universidades e os setores de recursos humanos se debrucem sobre o tema para desenvolverem esses modelos de aprendizado e de atuação híbrida, já que a previsão da McKinsey é que entre 500 mil e 1 bilhão de pessoas terão que se adaptar à IA em suas rotinas profissionais até 2030.

Estando no mundo da tecnologia há anos, sei que é uma área que carece muito de gente especializada e penso que, para que um maior número de pessoas possa se adaptar e ganhar as competências necessárias, a palavra-chave é treinamento. Como investidor e defensor do fomento a inclusão e a diversidade das empresas, também acho que essa pode ser a maneira de formar e incluir ao mesmo tempo.

Para além dos modelos multidisciplinares com o objetivo de conectar colaboradores com o uso da inteligência artificial, devemos rever os investimentos que estão sendo realizados em educação, os modelos clássicos de aprendizado e nossa responsabilidade para que essa digitalização em um mercado em transformação possa incluir trabalhadores de toda a população.

Se não tomarmos essa atitude, corremos o risco de incluir no futuro do trabalho apenas aqueles profissionais privilegiados que têm acesso a amplos mecanismos de informação. Por isso é urgente que o setor privado, os agentes públicos e organizações não-governamentais, embarquem nessa jornada, a fim de que avanço tecnológico não agrave os abismos sociais. E isso se faz não só com treinamentos e formação, mas com políticas afirmativas e novas legislações. Dessa forma conseguiremos tirar vantagem da IA e torná-la nossa aliada para a criação de círculo virtuoso de tecnologia, produtividade e geração de renda.

Encerro essa reflexão citando uma fala do Frei David que diz querer “uma revolução tecnológica que venha de mãos dadas com a inclusão de negros e desempregados”. Ele próprio já deu um primeiro passo por meio da Educafro, instituição de educação inclusiva que passou a concentrar 80% dos seus esforços em formações voltada ao setor de inovação, com a meta de 1.000 pessoas no mercado nos próximos meses.

Espero que atitudes como essa possam inspirar empresas, governos e própria sociedade.

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