“O modelo nunca foi sustentável”, diz Mark MacGann, sobre o Uber

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“O modelo nunca foi sustentável”, diz Mark MacGann, sobre o Uber

Ex-executivo vazou mais de 124 mil documentos, conhecidos como Uber Files, sobre práticas questionáveis da empresa para conseguir regulamentar suas operações


3 de novembro de 2022 - 8h03

Em janeiro deste ano, quando entregou os mais de 124 mil documentos sobre atividades do Uber ao longo de 2013 e 2017 para Paul Lewis, head de investigações do The Guardian, e seu time, Mark MacGann, ex-executivo da empresa, não sabia se os jornalistas achariam o conteúdo interessante. Tinha medo de como o público reagiria.

A publicação do conteúdo, chamado de Uber Files, em julho deste ano, revelou práticas questionáveis do app de mobilidade, durante a gestão de Travis Kalanick, em seu plano de expansão global, incluindo lobby governamental em dezenas de países e táticas para se aproveitar da violência de taxistas contra motoristas de Uber em busca de aceitação pública e regulamentação da operação aos seus moldes.

Mark MacGann, ex-executivo e denunciante do Uber

Mark MacGann, ex-executivo e denunciante do Uber (crédito: Paulo Mumia)

“Nos diziam para não aceitar não como resposta. A companhia pensava que era ‘normal’, que o Uber era a alternativa mais econômica e segura de ir do ponto A ao ponto B. Eles sabiam que estavam violando leis, mas diziam que as leis é que eram ruins”, disse Mark, ressaltando que vazou os documentos porque sentia que deveria consertar as coisas quebradas, principalmente as relações governamentais.

“Me perguntava por que eu estava fazendo isso, por que não um político? Mas se você tem o privilégio de estar num ambiente e presenciar, você tem o dever de revelar”, afirmou.

Em sua opinião, outros profissionais que estão em posição semelhante em outras empresas de tecnologia deveriam tomar uma atitude e conclamou: “Lembrem o poder da tecnologia. Não deixem frutas podres destruírem tudo. Vocês não precisam mudar suas vidas, como eu fiz, mas se não disserem nada, se arrependerão”.

Plano inviável

Ao apresentar o Uber para investidores, os criadores prometiam grandes retornos financeiros. Quando falaram com os consumidores, prometeram o serviço mais barato e seguro possível. Para os motoristas, venderam o “sonho americano”, “com possibilidade de ganhar dezenas de milhares de dólares por mês”. No entanto, segundo Mark, o “modelo nunca foi sustentável”. “O Uber estava lutando contra direitos sociais e trabalhistas básicos”.

“Durante protestos em 2016, Travis mandou os carros de volta para rua. Pensava que a violência seria boa para o negócio. Carros queimados chamam a atenção da mídia. É possível ser disruptivo sem destruir. Era sobre atrair a atenção da mídia, colocar os motoristas para protestar de volta, mas não pensaram na segurança. Vendemos um sonho e mentimos”.

Questionado se acredita que a empresa tenha mudado após o episódio do vazamento das informações, Mark ainda é reticente. “O Uber disse que fez coisas erradas no passado, mas que agora é completamente diferente. Não posso dizer o que a companhia é hoje. Gostaria de dizer que sim. Quero acreditar que os novos executivos fizeram bem, mas eles têm um longo de caminho a seguir”, projetou.

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