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Relevante, autêntico e não interruptivo

Christian Rôças (Crocas) fala sobre os desafios e oportunidades na produção de conteúdo com as janelas digitais e a relevância do humor para pessoas e marcas


3 de novembro de 2022 - 8h39

O surgimento de plataformas como o YouTube transformou o mercado de produção e distribuição de conteúdo, em especial de música e humor. A demanda do público por conteúdo avançou de forma acelerada no período pandêmico, consolidando o modelo de streaming. Além da disseminação de serviços gratuitos, pagos e com publicidade, players de TV aberta e fechada estão investindo em novas janelas, enquanto as redes sociais se conquistam seu espaço como canal de conteúdo.

Ex-CEO do Porta dos Fundos, Facebook e Instagram, Christian Rôças (Crocas) participará de dois painéis no Web Summit 2022, ambos na sexta-feira, 4: KondZilla: Taking over YouTube, com Konrad Dantas, e Comedy content: A worldwide obsession, com Jolyon Rubinstein (The New Conspiracist) e Charles Augsdörfer (Hatch).
Nesta entrevista, o creative and business strategist consultant na Curadoria.me fala sobre os impactos do YouTube, do streaming e das redes sociais na produção e distribuição de conteúdo, além do potencial da comédia para cativar a audiência e as marcas.

Meio & Mensagem – Qual foi o impacto do YouTube na produção e distribuição de conteúdo musical e de humor?
Christian Rôças (Crocas) – O YouTube teve e tem papel fundamental na democratização da produção e distribuição do conteúdo. Durante muito tempo, foi um dos principais e um dos mais importantes meios de revelação de novos talentos e formatos. Novos atores e atrizes, roteiristas, diretores e diretoras, editores, comediantes, cantores entre outros creators. O impacto continua sendo muito forte na Creators Economy. Um dos exemplos é o Porta dos Fundos. O tipo de humor não foi “aceito” na TV por conter palavrões e citar marcas. Por isso, encontrou no Youtube sua casa para ganhar o mundo.

M&M – E quais são próximos desafios para creators e empresas de mídia em termos de criação e distribuição de conteúdo no YouTube e demais plataformas digitais?
Crocas – O desafio de todos é sempre se manter relevante, autêntico e não interruptivo. É não ser o centro das atenções e pensar em conteúdo que mantenha a audiência e a comunidade engajada. Relevância cultural, cadência de conteúdo e plano editorial bem definido com foco em dar oportunidade de temas que a comunidade fale sobre e compartilhe.

Christian Rôças (Crocas)

creative and business strategist consultant na Curadoria.me (crédito: divulgação)

M&M – Acredita que, em alguma medida, o momento de polarização que vivemos no mundo tenha impactado o consumo de conteúdo de humor e comédia?
Crocas – Desde que mundo é mundo o humor está presente de forma vital no nosso dia a dia. Humor já colocou gente no poder e já tirou. Está entre os gêneros mais consumidos por todos no mundo. Acredito que, sim, polarização e polêmica sempre geram combustível para piadas e tiração de sarro.

M&M – Observa um aumento na demanda do público e de parceiros por conteúdo?
Crocas – Com certeza. Cada vez mais as marcas mais sofisticadas e que buscam uma comunicação não interruptiva, que fomente comunidade, estão buscando por conteúdo de qualidade. Isso aumenta e melhora a reputação, a relevância cultural e estimula a presença de marca na memória afetiva das pessoas. Se uma conexão emocional for bem-feita, funcionará como um facilitador para uma conversão de audiência em consumidor.

M&M – O consumo de conteúdo acelerou na pandemia e se mantém em alta com disseminação de diversos serviços de streaming (gratuitos, pagos, com publicidade…), players de TV paga e fechada investindo em novas janelas e redes sociais se consolidando como janela de conteúdo. Quais são os principais desafios em termos produção e distribuição de conteúdo para múltiplas plataformas?
Crocas – O mundo está mais complexo e conquistar a atenção das pessoas, a nossa atenção, está também mais desafiador. Quem entender que não há mais primetime e, sim, mytime, quem entender que precisa estar presente ao longo da jornada de hábito da audiência, pensando primeiro em conteúdo e depois na distribuição, estará em vantagem. Um enorme desafio é mostrar que não existe time B para produção de conteúdo para redes sociais. Existem equipes especializadas e profissionais mais bem preparados e que já entenderam que o conteúdo bem-feito, conquistará atenção das pessoas.

Audiência não consome ads. Audiência não consome um vídeo para o TikTok. Ela consome conteúdo que, por acaso, às vezes – quando é criativo e divertido – é um ad, ou um vídeo que está hospedado e distribuído no TikTok. O argumento da ideia é mega importante, e como esse argumento será narrado e contado em cada plataforma ou janela é tão importante quanto. Algo feito para a janela televisão, com muita sorte, fará sucesso em outras janelas e vice-versa. Há que se pensar nisso com mais carinho e cautela, incluindo os valores de produção e desenvolvimento dos projetos que precisam passar por um ajuste geral. Alguém acorda e diz: “que vontade de assistir um post no Instagram da marca x?” ou “não vejo a hora de assistir aos seis posts que a marca encomendou para a agência de redes sociais da marca…”? Acho que não (risos).

M&M – Em termos de conteúdo, quais os cuidados necessários ou os pontos de atenção que surgiram/foram realçados neste cenário de maior demanda de conteúdo num contexto de polarização?
Crocas – Ter muita diversidade no seu time em todas as áreas de produção. Quanto mais diversidade, maior a chance de resultados melhores e menor a possibilidade de cometer algum preconceito.

M&M – O humor é universal, mas há peculiaridades culturais e linguísticas que afetam o entendimento de piadas. Quais são as boas práticas para a criação de comédia tipo exportação?
Crocas – Pensar no hábito das pessoas. Todo mundo do mundo tem momentos semelhantes, como crise de casais, polícia corrupta, situações do cotidiano, que geram identificação imediata. O humor é universal pois não importa de qual lugar do mundo você seja, sempre iremos identificar muitos pontos de hábitos semelhantes e parecidos. Claro que precisamos respeitar ajustes e adaptações da cultura local. Mas, em geral, temos muitas semelhanças que servem de matéria-prima para as pessoas rirem, refletirem sobre seus dias e se divertirem com os nossos cotidianos e suas situações absurdas onde quer que estejam.

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