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Gabriela Onofre: “Aprendi a fazer movimentos arriscados”

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Gabriela Onofre: “Aprendi a fazer movimentos arriscados”

Vice-presidente de comunicação e marketing e sócia da idtech unico, a executiva tem uma jornada profissional marcada por pioneirismo e grandes mudanças


13 de maio de 2022 - 11h26

Gabriela Onofre é vice-presidente de comunicação e marketing e sócia da unico (Crédito: Divulgação)

Liderar grandes marcas de multinacionais, lançar outras do zero, fazer “turnaround” de negócios, ser mãe ativa, comandar um grupo de mulheres em uma grande empresa e, como se não bastasse, deixar a vida corporativa de 20 anos para pivotar a carreira em uma startup brasileira que hoje anuncia um novo objetivo: o foco no consumidor final, ou no B2C. Gabriela Onofre, vice-presidente de comunicação e marketing e sócia da unico, idtech de soluções de identidade digital e biometria avaliada recentemente em US$ 2,6 bilhões, tem uma jornada profissional marcada por pioneirismo e grandes mudanças. 

“Sempre fui muito intraempreendedora e gosto do desafio de rápido crescimento, algo bem comum nas startups. Desde que dei esse passo, o que mudou foi que ganhei mais autonomia. Meu impacto na construção da unico é visível e vivo num ambiente em que fazer, errar e aprender é normal. A gestão é muito mais por contexto, algo que é muito recompensador”, diz. 

Gabi, como é conhecida, é a primeira executiva sênior mulher a chegar na startup, fundada em 2007 por Diego Martins, Rui Jordão e Paulo Alencastro sob o nome Acesso Digital, e cuja tecnologia já viabilizou o acesso de 38 milhões de pessoas a serviços financeiros digitais. Ela acredita que entender suas fortalezas e fraquezas foi crucial para dizer alguns nãos e se arriscar na carreira. “Com minha experiência profissional, aprendi a me conhecer e a fazer movimentos arriscados, como esse de deixar a vida corporativa e entrar em uma startup. Essas foram as oportunidades em que mais me desenvolvi.” 

Por 20 anos, a executiva construiu a carreira no universo das multinacionais. Em maio de 2019, num movimento de reestruturação global realizado por Thibaut Mongon, vice-presidente executivo da Johnson & Johnson na época, Gabriela deixou a empresa, onde ocupava o cargo de diretora global de marketing para a marca Sempre Livre desde 2015. Antes disso, trabalhou por mais de 17 anos na P&G em diferentes áreas, sendo a última posição a de diretora de marketing e comunicações.  

Nas duas empresas, liderou a estratégia de construção e expansão de marcas internacionais, o que a ajudou a construir uma base sólida na gestão de negócios e pessoas. Com o tempo, teve interesse pela transformação provocada pela tecnologia em vários mercados e decidiu se abrir para o movimento. Em agosto de 2019, migrou do mundo das grandes corporações de consumo para o universo das startups B2B quando recebeu a proposta da unico, já para atuar como vice-presidente de comunicação e marketing e sócia. 

“O mundo está mudando muito pelo impacto da transformação digital e essa velocidade é difícil de acompanhar dentro de uma empresa grande. Do ponto de vista pessoal, eu queria acompanhar essa transformação e viver uma nova cultura de trabalho. O mercado de startups tem as duas coisas”, disse ao Meio & Mensagem quando fechou o acordo com a startup, em 2019.

LIDERANÇA NA STARTUP 

Para Gabi, sua atuação na unico traz novas perspectivas e questionamentos para o board, aumentando assim o número de mulheres e grupos diversos na empresa. 

“Quando entrei, além de mim, havia os fundadores, homens. A unico já era uma empresa de cultura inclusiva, com um fundador negro e outro de origem periférica. Hoje, temos muito mais mulheres líderes na organização, grupos de afinidades criados pelos funcionários, e o desafio diário de manter a empresa diversa e inclusiva enquanto cresce exponencialmente”, conta. 

Mas a diversidade não é o único desafio da executiva na startup. Quando entrou, seu papel principal era criar um departamento de marketing para abraçar a meta da empresa de escalar o negócio, trazendo sua bagagem de comunicação, gestão de crise e trade marketing. No início, seu time era composto por uma pessoa. Três anos depois, ela lidera 62 colaboradores. 

Hoje, no evento de comemoração de 15 anos da empresa, que há menos de um ano recebeu o título de unicórnio e acaba de ser avaliada em US$ 2,6 bilhões após novo aporte de investimento liderado pela Goldman Sachs, Gabriela formaliza e encara um desafio novo, porém um tanto familiar: posicionar a startup brasileira para os consumidores finais.  

“Celebramos essa trajetória de inovação vivendo um negócio em crescimento acelerado. Nosso próximo desafio é integrar nossos produtos de identidade digital para servir o consumidor final de maneira ainda mais relevante”, diz.  

Para pavimentar o caminho e tornar a unico uma idtech B2C, Gabi conta que a empresa está lançando atualizações nas diretrizes e nos fundamentos da marca, alinhados com a visão de futuro de serem um ecossistema integrado e com foco na privacidade das pessoas. “Como somos uma marca jovem que cresce muito rápido, sentimos a necessidade de refinar e expandir nossas expressões visuais.” 

MATERNIDADE E CARREIRA 

Em 2020, a executiva foi eleita uma das Women to Watch. Como mulher e liderança feminina, Gabi diz que a maternidade foi um divisor de águas em seu tipo de gestão. “Até virar mãe, não havia percebido diferença de gênero, mas ao me deparar com o desafio da maternidade e conciliar com o trabalho, comecei a buscar dados. Descobri que a maior queda no índice de mulheres em cargos de liderança feminina é justamente no período da maternidade, momento que muitas vezes coincide com a fase de ascensão em uma carreira de gestão. E, sem apoio, muitas desistem. Eu quis contribuir para mudar essa estatística criando um grupo de mulheres.” 

Na P&G, a executiva foi pioneira ao usar pela primeira vez benefícios como trabalhar meio período no primeiro ano de vida de seu primogênito, João, hoje com 16 anos. Depois disso, foi abordada na empresa por muitas mulheres para saber como tinha feito aquilo e como conciliava a vida de mãe com o trabalho. 

“Nem sempre as pessoas têm coragem de usufruir das políticas de uma empresa. Eu fiz isso e virei um exemplo, então entendi que precisava transformar aquilo em algo perene. Liderei a formação de um grupo de mulheres lá, algo que existe até hoje, onde nos apoiávamos, influenciávamos na gestão de pessoas e criamos um ambiente em que outras pudessem prosperar.” 

Além de João, Gabriela também é mãe de Isabel, de 13 anos, e conta que quando a filha nasceu, já sabia o que era a maternidade e estava mais preparada. Mas nem sempre foi assim. “Quando tive o João, pensei em desistir de trabalhar. Achei que o meu propósito na vida era ser mãe. Mas com o tempo, durante a licença, entendi que trabalhar me fazia feliz. E, sendo feliz, seria uma melhor mãe. Mas não é fácil equilibrar os pratinhos.” 

Ela conta com rede de apoio e diz que, se não fosse a parceria do marido, não sabe como seria. “À medida que eles crescem, as demandas vão mudando, mas o que não muda é a vontade de estar presente. Então sempre me programei para estar em momentos importantes da jornada deles. Coloco na agenda. Se bem que agora eles são maiores, então sou eu que preciso me enfiar na agenda deles. Mas é isso, a gente cria os filhos para o mundo.”  

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