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Opinião

Não é mimimi

Um ambiente positivo é o fator mais importante de segurança psicológica em uma equipe, e esse clima tende a existir quando as lideranças chamam essa responsabilidade para si


25 de abril de 2024 - 8h28

(Crédito: Unsplash)

A coluna de hoje pretende abordar um tema que para muitos pode ser considerado mimimi, seja por despreparo, por preconceito ou por desinformação mesmo. Vamos refletir sobre segurança psicológica nas empresas, tema fundamental para inovação, criatividade e, acima de tudo, para o clima organizacional e o bem-estar das pessoas. 

Este mês foi intenso de eventos corporativos, abordando o tema de desenvolvimento sustentável e Agenda 2030. Tive oportunidade de falar em congresso internacional para o setor de alumínio, área que cresceu 24% no último ano; divulguei os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para mais de 500 colaboradores de uma das maiores empresas varejistas do país, setor que também cresceu em 2023; e tive a honra de encerrar o ‘high level meeting’ do Fórum Ambição 2030 do Pacto Global da ONU – Rede Brasil, com mais de 150 CEOs presentes.

Em todos estes fóruns, foi abordada a importância do cuidado com a saúde mental de colaboradores e líderes, estimulando as empresas a terem processos estruturados nesta temática e a lideranças a cuidarem de si. A potência do setor privado é chave, não só pela geração de riqueza e empregos para o país, mas pela possibilidade de agregar conhecimento e construir possibilidades de desenvolvimento pessoal para milhões de trabalhadores e trabalhadoras. Para tanto é preciso cuidar das pessoas. 

O tema de segurança psicológica é urgente. No âmbito do B20, fórum de diálogo mundial relacionado à comunidade empresarial, a força-tarefa de integridade e compliance, dentre os quatro temas prioritários, incluiu saúde mental e liderança ética como um deles. Não há mais espaço para empresas alheias aos dilemas da sociedade e, sem dúvida, no país considerado mais ansioso do mundo e 2º em casos de burnout, este tema é prioritário. 

O termo “segurança psicológica” foi cunhado pela primeira vez por Amy Edmondson, professora da Harvard Business School. Ela o descreveu como “uma crença compartilhada pelos membros de uma equipe de que o time é seguro para assumir riscos interpessoais”.  

Em um ambiente no qual as pessoas se sentem seguras, os processos fluem com mais velocidade, o ambiente é propício ao florescimento da inovação e da criatividade, além de permitir que as pessoas se sintam pertencentes ao lugar, e as equipes trabalhem unidas. Este tema de pertencimento, é importante dizer, atravessa as questões de diversidade como gênero e raça, dentre outras.

Por outro lado, ambientes organizacionais onde a equipe tem medo de falar ou se sente ameaçada são um tiro no pé da organização, os processos se tornam mais lentos e o descontentamento fica a um passo de cada um, logo após, o sofrimento psíquico que gera o adoecimento das pessoas. A liderança das empresas e organizações tem um papel chave neste sentido, para o “bem e para o mal”, como escrevi na coluna O dom de competência da liderança, quando refletimos sobre a importância do líder para o bem-estar dos colaboradores e colaboradoras. 

Há algumas formas de medir a segurança psicológica nos espaços corporativos, e destaco aqui duas delas: a primeira é a pesquisa de clima organizacional, uma ferramenta potente que, se bem estruturada, pode revelar para a organização aspectos importantes sobre este tema ao incluir questões sobre o quanto as pessoas se sentem confortáveis em serem elas mesmas, nas relações com seu líder, e se têm medo de retaliação ao trazer pontos sensíveis. Uma outra forma de medir é por meio da análise das características das denúncias feitas pelos funcionários e funcionárias em canais de denúncia e processos de investigação levados a sério pela organização. 

Este mês foi divulgado pelo Valor Econômico o 9º estudo nacional sobre canais de denúncia realizado pela Aliant, uma empresa do grupo ICTS que trabalha com o tema de ética e compliance nas empresas. Foram pesquisados 710 grupos empresariais e o resultado mostra que o número de denúncias aumentou 23,6% na comparação com o ano anterior, somando 188 mil relatos, entre casos de assédio moral, falta de tato para lidar com situações de pressão e brincadeiras de mau gosto. 

Nesta pesquisa sobre canais de denúncia, 58% apontam para o comportamento da chefia, sendo o problema de relacionamento interpessoal a queixa mais citada (48%, com 90 mil registros). Fernando Fleider, CEO da ICTS, controladora da Aliant, revela uma movimentação importante nesta edição do estudo. “Pela primeira vez em nove anos de pesquisa, as mulheres passaram a ser a maioria entre os denunciantes (51%)”, aponta ele, que completa: “Isto mostra que aumentou a sensibilidade das equipes diante de temas como a discriminação salarial e por gênero”. A pesquisa também revela que, depois da investigação devida, uma a cada três acusações contra as lideranças é considerada procedente ou verdadeira. Em contraste com denúncias gerais, quando esse dado é um a cada cinco. 

Uma outra informação que demonstra a influência do papel do líder no contexto da segurança psicológica vem da Pesquisa Global da McKinsey sobre o tema. Segundo o estudo, as lideranças promovem a segurança psicológica quando se responsabilizam por manter um ambiente de trabalho receptivo, funcional e integrado, em que colaboradores se sentem pertencentes a um coletivo que os aceitam como são, os agregam e os potencializam. Um ambiente positivo é o fator mais importante de segurança psicológica em uma equipe, e esse clima tende a existir quando as lideranças chamam essa responsabilidade para si, assumem que não há espaço para isso, nem toleram assédio algum ou discriminação.  

E você, enquanto líder ou liderado, tem considerado o aspecto da segurança psicológica no seu desempenho ou no da sua equipe? O espaço colaborativo e transparente deve ser uma busca constante para todos e todas nós, do mundo corporativo. Precisamos nos apoiar para cumprir o propósito que queremos na nossa jornada profissional, sem descuidar da própria saúde.  Cuidar da saúde integral é inegociável. 

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