O dom de “competenciar” da liderança

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Opinião

O dom de “competenciar” da liderança

Qual é o segredo para ser um líder inspirador?


22 de fevereiro de 2024 - 7h20

(Crédito: Adobe Stock)

Hoje, faço o convite para refletirmos sobre o papel da liderança nas organizações. O tema parece “batido”, mas não é. Precisamos conversar e refletir com frequência sobre como as equipes estão sendo geridas, afinal, nós passamos a maior parte da nossa vida imersas e imersos no ambiente de trabalho, para o bem e para o mal.  

Não à toa, o assunto de saúde mental de colaboradores e colaboradoras, com toda razão de ser, é o tema que mais cresce atualmente e há uma movimentação das empresas para endereçarem o assunto. Entretanto, há uma indicação de que os esforços não estão sendo suficientes. Segundo pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos em Organizações e Pessoas (NEOP) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP), apesar de as empresas terem iniciativas para cuidar da saúde mental, a percepção de colaboradoras e colaboradores é diferente.

De acordo com 75% das pessoas entrevistadas, os benefícios atuais oferecidos pelas empresas não são suficientes para ajudar a manter a saúde mental. Aqui, é necessário um cuidado especial por parte das empresas ao elaborarem seus programas e iniciativas de forma estruturada e com a intencionalidade no bem-estar de colaboradoras e colaboradores, caso contrário, o risco de serem acusadas de praticar “health-washing”, extensão do conceito de “greenwashing”, pode se tornar uma realidade. 

Mas o que saúde mental tem a ver com liderança? Tudo! O Movimento Mente em Foco do Pacto Global da ONU – Rede Brasil, que desenvolve estratégias para que as empresas promovam a saúde mental de funcionários e funcionárias, coloca como um dos seis compromissos a serem atingidos pelas organizações até 2030 a sensibilização, o treinamento e a preparação da liderança para lidar com questões de saúde mental da sua equipe. Nele, não se espera que os líderes resolvam as questões de saúde mental dos colaboradores e colaboradoras, mas que exerçam a escuta, acolham as pessoas, quando necessário, e se tornem agentes de transformação e promoção da segurança psicológica.  

O bem-estar de colaboradores e colaboradoras é impactado diretamente pelo estilo de liderança, pela forma de gestão, pelo relacionamento entre os(as) profissionais e seus “superiores”. Esses elementos formam uma teia de sustentação da cultura de uma organização, que, a depender de sua constituição, pode ser fértil, leve e alegre ou tóxica e extremamente adoecedora.

O dado relativo ao turnover de uma determinada área pode ser um indicador interessante. Junto com dados coletados numa avaliação de desempenho e risco psicossocial, ele pode ajudar a compreender o que está indo bem e o que precisa ser ajustado numa organização. Em pesquisa realizada pela Pagegroup, 80% dos(as) profissionais pedem demissão por não estarem contentes com a liderança a qual estão submetidos(as). De acordo com o diretor da empresa, Michael Page, “O desempenho abaixo do que se espera de um líder é o principal motivo apontado tanto por quem pede para sair da empresa, como por quem está desanimado(a) no emprego”.  

E qual é o segredo para ser um líder inspirador? Ser aquele líder que entrega seus resultados por meio das pessoas e contribui decisivamente para o bem-estar da equipe, com a mente e o coração em harmonia? É verdade que as pessoas são diferentes e podem refletir comportamentos de acordo com as circunstâncias que estão vivendo — na família, na sociedade ou no ambiente de trabalho. Mas alguns componentes importantes são nossos conhecidos, embora nem sempre praticados.

Neste contexto, destaco a escuta ativa pela liderança, aquela que quem fala sente que está sendo escutado e valorizado, e a troca verdadeira, fluxo em via de mão dupla de informações, impressões e opiniões sobre condução das atividades, atitudes, comportamento e desempenho. Vale destacar, como ingrediente mágico, e, particularmente, o mais importante de todos, que é capaz de movimentar céus e terras, o respeito. Segundo a etimologia, respeito é oriundo do latim respectus e significa “olhar outra vez”. Assim, algo que merece um segundo olhar é algo muito relevante. Respeito como este ingrediente mágico da liderança, não no sentido de obediência, mas de sentimento, que leva alguém a tratar as outras pessoas com grande atenção e profunda deferência e apreço.  

Meu pai, Marino Santana, um homem experiente, antes de empreender foi mecânico, caminhoneiro e vendedor de tecido, e uma das várias lições que tive com ele foi sobre esta magia de conhecer o outro e respeitá-lo. Quando tinha 18 anos, eu o ajudava na gestão da padaria da família. Ao compartilhar com ele como era difícil lidar com o padeiro e o pasteleiro, ele me provocou: “Você os conhece? Sabe para qual time de futebol torcem?” Pouco tempo depois, entendi a importância de conhecer, de verdade, com quem trabalhamos, e de que as pessoas se sintam respeitadas do jeito que elas são. Já se passaram 30 anos deste episódio, e todos os dias tenho uma nova oportunidade e o desafio de escutar e praticar o respeito em todas as relações.

Mas e o papel do líder no desenvolvimento das competências da equipe? Competência é o substantivo feminino com origem no termo em latim competere, que significa uma aptidão para cumprir alguma tarefa ou função. Dra. Ana Luiza Aranha, com quem tive o prazer de trabalhar, inspirada em Guimarães Rosa, criou a palavra “competenciar” para expressar a habilidade do líder em desenvolver a equipe. Arrisco dizer que a arte da liderança tem três eixos: respeitar, competenciar e celebrar. Quantos profissionais, você, como líder, já formou, desenvolveu e trocou conhecimentos? E, quando chegam os resultados, é importante celebrar, reconhecer e motivar. A celebração é o alimento do ciclo do desenvolvimento pessoal e profissional.  

Encerro esta coluna resgatando um texto brilhante da amiga Suelma Rosa, O poder da influência e a irrelevância do cargo. LIDERANÇA: “dall’autorità all’autorevolezza, publicado no LinkedIn há 4 anos, que nos provoca sobre a diferença do exercício da liderança investida do cargo e poder de mando e da liderança que tem a capacidade de servir de modelo, de influenciar pelo conhecimento e expertise, sem a necessidade de cargo. Ela conclui que verdadeiros(as) líderes não precisam de poder de mando para influenciar e inspirar. Aqueles que se prendem a este poder não impactam pessoas. 

Já fui liderada por diferentes profissionais durante minha carreira, para a maioria eu reportava e por alguns poucos, de fato, fui transformada pela capacidade e sensibilidade de liderança. Segui por inspiração, admiração e por, acima de tudo, me sentir respeitada. E você, já teve o privilégio de ter um(a) líder inspirador(a)?  

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