Claudia Woods: “acredito que deixamos legado de verdade quando mudamos estruturalmente as coisas”
CEO da WeWork para a América Latina coleciona êxitos em mais de duas décadas de carreira
Claudia Woods: “acredito que deixamos legado de verdade quando mudamos estruturalmente as coisas”
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Marina Vergueiro
24 de julho de 2023 - 8h42
Filha de mãe brasileira e pai americano, Claudia Woods é CEO da WeWork na América Latina e garante que esta dualidade de cultura a ajudou a encontrar o estilo de liderança que hoje aplica em seu dia a dia. “Essa combinação acabou sendo, obviamente, muito da minha força. Por ter começado a minha carreira lá fora, de fato, nos primeiros anos eu tinha um estilo muito pragmático, objetivo, direto, e hoje eu acho que consegui encontrar um equilíbrio”, conta.
Claudia morava nos Estados Unidos quando iniciou sua trajetória no mercado digital e acabou consolidando sua carreira no empreendendorismo em start-ups. Houve um verdadeiro boom das empresas ponto com, como eram chamadas na época, e muitas não sobreviveram, inclusive uma das quais liderada por ela. O ano era 1997 e Claudia pretendia digitalizar a comunicação entre escolas e famílias. “Tudo que vivemos na pandemia, quando as escolas tiveram que criar todo um mecanismo para digitalizar essa conversa, imagina nós montando isso naquela época, quando as pessoas mal tinham e-mail ou internet”. Segundo ela, apesar de a ideia ser muito boa, houve um erro de timing.
Nomeada uma das mulheres mais poderosas do Brasil pela Forbes em 2020 e, no ano seguinte, umas das 500 pessoas mais influentes da América Latina pela Bloomberg, Claudia acredita que para uma vida de sucesso, fracassos são necessários e não vê problema em assumir que mais da metade das empresas por onde trabalhou já não existem mais. Ela atribui esses títulos que recebeu à resiliência que aplica em seu cotidiano de trabalho, mas também às muitas disrupções estruturais que foram promovidas em empresas sob seu comando.
“Eu acredito que deixamos legado de verdade quando mudamos estruturalmente as coisas. Seja no meu período da Uber, quando passamos a lei federal falando que a Uber realmente é uma empresa que tem uma atividade econômica permitida no Brasil; ou seja no Banco Original, quando mudamos as normas do Banco Central para abrir a porteira para tudo que hoje vemos de conta digital e fintechs. Esses são momentos os quais você realmente muda o mercado”, avalia.
Entre 2019 e 2021, Claudia foi Diretora Geral da Uber no Brasil e responsável pelo crescimento da empresa em marketshare e em número de motoristas e usuários, além de promover uma plataforma que incentiva motoristas mulheres a se cadastrarem. “Eu acho que não mudamos o mercado de trabalho se não estamos dispostas a correr riscos. E essa disposição se dá num nível de intensidade e de paixão até para conseguir trazer outras pessoas conosco”, comenta.
EQUIDADE DE GÊNERO
Membro do Conselho Administrativo da Ambev desde 2021, Claudia tem um sólido trabalho de promoção de equidade de gênero nas empresas por onde passa e acredita que o primeiro passo é analisar os processos internos da empresa e isso significa englobar funcionários, valores e todo o ecossistema que se estende até os fornecedores. “Raramente alguém propositalmente faz uma distinção de gênero. Normalmente é o famoso viés inconsciente, são os processos que de alguma forma já estão funcionando de um determinado jeito e que precisam ser modificados”.
Segundo ela, a primeira etapa para uma mudança efetiva é o recrutamento. “Como os homens ainda são a grande maioria dentro das empresas, o gerente que está contratando normalmente tende a ser um homem, o ecossistema dessa pessoa tende a ser um networking maior de homens, naturalmente, o processo de recrutamento acontece de uma forma mais rápida e mais fluida, contratando homens. Esse é o primeiro processo que as empresas devem olhar e entender até onde precisam existir travas”. Conta que já aplicou uma técnica de power hour, no qual todo mundo da empresa se conectava numa call e digitava num arquivo em conjunto os contatos de todas as mulheres que conheciam e trabalhavam com marketing, incluindo o nome, e-mail e o perfil do LinkedIn. A ideia era criar a base de dados para possíveis candidatas. Considera imprescindível que esse processo se estenda a toda cadeia de contratação, incluindo programas de estágio e trainee, preparando as profissionais para os próximos desafios na carreira.
Graduada em Economia pelo Bowdoin College, nos Estados Unidos, e com mestrado em Marketing e Estratégia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Claudia assumiu o cargo de CEO da WeWork em julho de 2021, justamente quando as empresas passaram a operar quase que 100% remotamente e muitas até fecharam seus escritórios. “O sofrimento das empresas durante a pandemia com contratos de aluguel de 15 anos, de prédios vazios, hoje faz com que as corporações não queiram mais isso. Elas querem contratos de 3 anos, um espaço que hoje pode ser para 10 pessoas, amanhã para 20 e depois ir para mil, se for o caso. E com a WeWork elas conseguem fazer isso e ainda acrescentando que os funcionários possam estar em qualquer canto do Brasil”.
Além de prédios próprios em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belo Horizonte, sob seu comando a WeWork transformou-se em um martekplace com mais de 500 coworkings de terceiros espalhados em 120 cidades do país que oferecem uma estrutura de alto padrão, com segurança e catraca, conexão segura de internet, ar-condicionado e até café. Atualmente, grandes companhias que estão dentro da WeWork são empresas listadas no ranking da Fortune 100. ” As pessoas associam a WeWork muito a startup ou escritório pequeno, mas hoje a gente já tem as grandes, as big techs, farmacêuticas, empresas de telecomunicações que já optaram por estar dentro de uma WeWork justamente por essa flexibilidade”.
FLEXIBILIDADE LABORAL
“A gente vê cada vez mais as empresas tendo uma sede menor, que não deixa de ser o hub, um grande ponto de encontro, a grande identidade da marca com os valores, e missão, mas esse vale escritório também possibilita que os funcionários continuem tendo uma vida mais livre e flexível”. Recentemente, a WeWork lançou em parceria com a Alelo criando o WorkPass, uma espécie de vale-escritório para as empresas oferecerem a seus funcionários para trabalharem de qualquer propriedade da rede.
A flexibilidade no ambiente laboral é realmente favorável a uma melhor qualidade de vida e oferece benefícios, principalmente, às profissionais que precisam coordenar suas carreiras com a maternidade. “Quando eu tive o meu filho, a licença ainda era de quatro meses, não existia nenhuma sombra de possibilidade de licença paterna. O mundo era realmente muito diferente, não existia a sala de amamentação e tudo que hoje a gente já vê muitas empresas apostando. Então, eu acredito que hoje o mundo para a mulher que escolhe conciliar essas duas coisas está muito mais amigável.”
MATERNIDADE
Tendo as mães profissionais em vista, a WeWork firmou uma parceria com a B2Mamy, socialtech que conecta mães e mulheres em uma comunidade, para contribuir com o fomento de negócios protagonizados por mães e mulheres em geral oferecendo desconto de 100% para reservar um espaço de trabalho em qualquer uma das 32 unidades próprias da WeWork e nos mais de 500 coworkings parceiros do marketplace Station by WeWork.
Mãe de um garoto de 15 anos, Claudia garante que o segredo para o equilíbrio é reservar um espaço e tempo para se dedicar a si mesma, nem que somente por 30 minutos. “O que eu vejo muitas vezes são as mães criando metas para si próprias que elas não conseguirão cumprir. ‘Eu vou malhar sete dias por semana, eu vou levar o meu filho em todas as aulas de música, eu vou estar em casa todo dia antes das seis horas’. A verdade é que é muito difícil termos uma vida tão previsível que realmente nos permita fazer todas as coisas que sonhamos fazer. Então, a minha dica sempre é crie metas que conseguirá cumprir e que não vão virar coisas que se transformação em auto castigo”, sugere.
Em seu tempo livre, Claudia costuma praticar muitos esportes, sozinha ou em família. Além da corrida, atualmente está se dedicando a aprender kitesurf. Mas a leitura também é uma aliada dos momentos de ócio e se empolga ao comentar o livro de Phil Knight, “A Marca da Vitória”, em que conta sua trajetória de sucesso no comando da Nike. Fã de biografias, também recomenda “Onde os Sonhos Acontecem, meus 15 anos como CEO da Walt Disney”, de Robert Iger.
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