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Fabiana Manfredi: “Sucesso é não abrir mão dos meus valores”

Com passagens por DM9, Twitter e Mercado Livre, a CEO da Impulso prioriza curiosidade, rede de apoio e transformação

i 19 de agosto de 2025 - 14h25

(Crédito: Arthur Nobre)

Fabiana Manfredi, CEO da Impulso (Crédito: Arthur Nobre)

Uma trajetória que nem sempre foi cuidadosamente planejada, mas que acabou seguindo o rumo certo, muito por conta da disposição da protagonista em nunca hesitar em pedir conselhos e trocar experiências com uma rede de contatos que se fortaleceu ao longo dos anos. Essa pode ser, de forma resumida, a síntese da carreira de Fabiana Manfredi, que vivenciou diferentes lados do balcão da comunicação e, que, há quase um ano, ocupa o posto de CEO da Impulso, operação de retail media da RD Saúde.

Quando decidiu ingressar no curso de Publicidade na Faap, a jovem estudante ainda tinha dúvidas se trilharia uma carreira em agências e veículos ou se mergulharia na operação de marketing dos anunciantes. Para tomar a decisão, decidiu experimentar. Rapidamente conseguiu um estágio na Gafisa e, apesar de ter gostado da vivência, soube, por uma colega de faculdade, que havia uma vaga de estágio na DM9. Foi por essa porta que ingressou na agência onde passaria 12 anos, chegando até a liderança da área de mídia.

Ainda no universo das agências, trabalhou na Mcgarrybowen e, após um período, recorreu a sua rede de contatos para entender as oportunidades que apareciam no cenário da comunicação. Foi daí que veio o convite para ingressar no time do Twitter, quando a plataforma iniciava sua operação de negócios no Brasil. Depois de quase seis anos — e, mais uma vez, após conversas com colegas de mercado —, veio o convite para assumir a operação de publicidade do Mercado Livre, o Mercado Ads, onde ficou até 2023.

No ano passado, em mais uma abertura para atuar em um novo cenário, foi convidada a liderar a operação da Impulso, estrutura de retail media da RD Saúde. “Sempre fui uma pessoa curiosa e costumo dizer para as pessoas do meu time que ninguém, a não ser nós mesmos, olharemos para nossa carreira. Mesmo quando dá um frio na barriga, por ser algo novo, vou em frente, com medo mesmo. Sempre, claro, procurando me cercar de referências e de rede de apoio”, revela.

Pela primeira vez à frente de uma operação, a executiva procura colocar em prática os aprendizados que teve com seus líderes — sendo, boa parte deles, mulheres. “Minha mãe costuma dizer que, em vez de buscar a felicidade, temos de tentar ser feliz todos os dias. Para mim, é isso: busco ser feliz, fazendo um balanço das minhas realizações da semana, do mês, de todo o aprendizado que tive. Nem sempre é fácil, mas quando passamos a régua, o saldo precisa ser mais positivo do que negativo”, diz.

Meio & Mensagem — Na posição de líder que você ocupa, de que maneira procura atuar para que outras pessoas, sobretudo mulheres, desenvolvam e impulsionem suas carreiras?

Fabiana Manfredi — Tento praticar o “Walk the talk”. Nossa vida é corrida, temos muitas coisas na agenda, tanto pessoais quanto profissionais, mas procuro estar sempre disponível, tanto para as pessoas do meu time, independente da área de atuação, como para pessoas do mercado. Algumas pessoas, às vezes, me procuram, dizendo que indicaram meu nome para amigas, para conversas. Não encontramos espaço somente se não quisermos. Na minha carreira, sempre tive grandes intenções, que eram aprender e crescer, além de transformar e poder deixar legados, e isso vale tanto para transformações de negócios como deixar marcas nas pessoas. Quando se consegue, realmente, aprender com a pessoa, ensinar alguma coisa e ajudar a mudar a vida de alguém, acredito que se cumpriu algo a mais do que somente o trabalho.

M&M — As habilidades exigidas das lideranças, atualmente, vão além do âmbito dos negócios e passam justamente por essa atuação mais voltada às pessoas e a transformação. Qual é sua visão sobre isso?

Fabiana — A transformação começa dentro de casa, depois, vai para as pessoas com quem se trabalha e, aí, para o mundo. Não adianta cobrarmos do mundo uma transformação sem começar por nós mesmos, a partir de questões muito práticas e simples. Quando eu ainda era estagiária, uma pessoa do trabalho me disse que algum dia eu lideraria uma empresa. Eu pensava: “Jamais”, porque aquilo para mim era algo muito distante e continuei com esse pensamento, mesmo com o passar dos anos. E agora estou aqui, há quase um ano, liderando uma empresa que é parte de um grupo que conta com 67 mil pessoas. Mas sempre tento deixar claro, na minha cabeça, o que significa ter sucesso. Para mim, sucesso é poder seguir em frente, sem abrir mão dos meus valores, de tudo que aprendi, do que compõe e de minha família.

M&M — Como avalia a evolução da posição das mulheres no mercado de trabalho na última década?

Fabiana — Ainda temos uma longa jornada. Estaria superfeliz de não precisar mais falar sobre diversidade e inclusão no recorte de gênero, mas ainda é preciso discutir muito. Felizmente, estou em um grupo que olha muito para isso. Na Impulso, 51% da liderança é composta por mulheres e, no grupo, já somos 50/50 na liderança. Mas isso não é o mundo lá fora. A questão da diversidade está mais bem resolvida do que antes, mas ainda não existe uma inclusão muito bem resolvida. Falo, inclusive, pelo meu dilema pessoal. Quando meu filho Pedro nasceu, era uma angústia pensar em como faria naquele primeiro momento, depois, com a escola. E quem não tiver condições ou não quiser contratar uma pessoa para ajudar, como faz? Acho que a sociedade ainda não está preparada para uma configuração em que o pai e a mãe trabalham. É muito desafiador ficar nessa negociação de quem acompanha o filho e quem trabalha. Apesar de ver mais mulheres em posições de liderança atualmente, nos conselhos das empresas ainda não há mulheres como deveria. Acho que aquela frase que usamos, de que “uma puxa a outra”, tem que acontecer mais, na prática. Temos que promover e ajudar as mulheres nessa transformação.